Barcelona, Espanha — (Esta é a versão ampliada e atualizada da nota publicada originalmente às 6h30)
Os investidores voltam a se resguardar com nova onda de volatilidade e mais um dia de perdas para os principais ativos. O humor se orienta por avisos reiterados de representantes do Federal Reserve (Fed) sobre a necessidade de pulso firme contra a inflação, o que se traduz em juros ainda maiores. O mercado de títulos da dívida norte-americana mostra essa tensão, com forte alta dos prêmios, assim como o câmbio, com dólar se fortalecendo ante a maioria das moedas.
Esta manhã, os índices futuros de ações nos EUA recuavam em bloco, assim como fecharam as bolsas na Ásia, onde o Hang Seng de Hong Kong caiu para o patamar mais baixo em uma década, com ações de mineradoras refletindo a preocupação com a demanda global. As bolsas europeias também recuam com firmeza, assim como as cotações do ouro e do bitcoin. Os contratos de petróleo, que estavam em queda, subiam há pouco.
→ O que move os mercados hoje
🇬🇧 Em busca de estabilidade. No Reino Unido, o rendimento dos títulos a 30 anos caiu depois que o Banco da Inglaterra (BoE) anunciou a compra temporária e ilimitada de seus títulos de longo prazo, desde quarta-feira até 14 de outubro. A autoridade monetária também atrasará o início das vendas previstas para a próxima semana até 31 de outubro.
Antes do anúncio, os prêmios dos títulos soberanos haviam subido ao nível mais alto desde 1998. “O objetivo dessas compras será restaurar umas condições ordenadas do mercado”, disse o BoE, em nota. “As compras serão conduzidas em qualquer escala que necessária para alcançar este resultado”. O tom do BoE, segundo a Bloomberg, lembra a promessa do ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi de 2012 de fazer “o que for preciso” para salvar o euro.
🔝 Prêmios nas alturas. O aumento dos prêmios dos títulos da dívida dos Estados Unidos volta a ganhar ímpeto e o bônus com vencimentos em 10 anos superaram os 4% pela primeira vez desde 2008. Instantes atrás, os títulos mudavam de rumo e ganhavam valor nominal, com prêmios de 3,95%.
O presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, alertou ontem que o banco central precisa continuar a aumentar os juros para manter a sua credibilidade.
📈 Aperto prolongado. A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse esta manhã que o aumento de juros na região se dará em “várias reuniões”. Ela disse que intenção é devolver o indicador de preços para a meta de 2% e controlar as expectativas de inflação. “Faremos o que temos que fazer, que é continuar subindo as taxas de juros nas próximas reuniões.”
🏮 Japão em foco. Além da política monetária agressiva dos bancos centrais mundiais, o movimento no mercado de dívida também se justifica por rumores de que o Japão tenha de vender seus títulos norte-americanos para defender a própria moeda. O Banco do Japão já vem atuando na compra de ienes para proteger a divisa japonesa das distorções em relação à disparada do dólar.
💸 O céu é o limite. O dólar volta a se apreciar e as preocupações com o recuo de outras divisas globais se sustentam enquanto a Casa Branca descarta um acordo entre as principais economias para conter as distorções. O diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Brian Deese, negou um novo acordo como o adotado em 1985 para este fim. Pouco antes, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, sinalizou que não vê motivos para preocupações com a atual trajetória dos mercados financeiros.
🔥 Gás inflamável. As preocupações com o setor de energia aumentam e os preços do gás disparam em plena luta global contra a inflação. Após a Rússia ameaçar cortar o gás para os aliados da Ucrânia na Europa, os vazamentos no gasoduto Nord Stream entre a Rússia e a Europa Ocidental foram rotulados como sabotagem por autoridades americanas e alemãs. A tensão aumenta com o regime de Vladimir Putin em um momento em que a necessidade do gás para o inverno é premente.
📵 Frustração na Apple. Outro sinal de cautela para o mercado acionário foi acionado pela Apple, que avisou seus fornecedores de que não será necessário ampliar a produção do iPhone 14 neste segundo semestre. Analistas do setor avaliam que a decisão está amparada na frustração das expectativas com a demanda antecipada pelo produto. O efeito foi imediato para ações de empresas fornecedoras em Taiwan e deve repercutir ao longo do dia nos papéis de tecnologia nas demais praças.
🛍️ Fortaleza econômica? Enquanto isso, a economia dos EUA se mostra resistente aos choques. O Índice de Confiança dos Consumidores aumentou pelo segundo mês consecutivo em setembro, no nível mais alto desde abril (108,0 pontos, contra os 104,5 esperados e 103,2 da leitura anterior). Esse desempenho se apoia em um nível de emprego ainda forte e preços mais baixos de combustíveis. O índice Redbook também mostrou melhora (+11,0% versus +10,5%, depois de um período perdendo impulso.
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🟢 As bolsas ontem: Dow Jones Industrials (-0,43%), S&P 500 (-0,21%), Nasdaq Composite (+0,25%), Stoxx 600 (-0,13%), Ibovespa (-0,68%)
As bolsas de valores norte-americanas voltaram a cair depois que dirigentes do Fed insistiram que ainda há trabalho a ser feito na luta contra a inflação. O sentimento do mercado também foi atingido pela suposta sabotagem de três ligações de gasodutos Nord Stream, o que poderia intensificar o embate energético entre a Europa e a Rússia. O S&P 500 completou seis sessões consecutivas de baixa, sua maior série de perdas desde fevereiro de 2020.
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Na agenda
Esta é a agenda prevista para hoje:
• EUA: Balança Comercial/Ago, Estoques no Varejo e no Atacado/Ago, Vendas Pendentes de Moradia/Ago, Indicadores Imobiliários de Hipotecas e Compras, Estoques de Petróleo Bruto
• Europa: França (Confiança do Consumidor/Set); Itália (Confiança Empresarial/Set, Vendas Industriais/Jul)
• Ásia: Japão (Compra de Títulos Estrangeiros e Investimento Estrangeiro em Ações)
• América Latina: Brasil (Índice de Emprego/Ago, Índice de Preços ao Produtor/Ago, Empréstimos Bancários/Ago)
• Bancos centrais: Discursos Jerome Powell (presidente do Fed), Charles Evans, Mary Daly e Raphael Bostic (Fed), além de Jon Cunliffe e Swati Dhingra (BoE) e de Christine Lagarde (presidente do BCE)
📌 Para a semana:
• Quinta: EUA (PIB, Pedidos de Seguro-Desemprego, Loretta Mester e Mary Daly, do Fed, falam em eventos separados); Zona do Euro (Confiança Econômica, Confiança do Consumidor); Alemanha (IPC)
• Sexta: EUA (Renda do Consumidor, Sentimento do Consumidor da Universidade de Michigan, Discursos de Lael Brainard (vice-presidente do Fed) e de John Williams (Fed de NY); Reino Unido (PIB); China (PMI); Zona do Euro (IPC, Taxa de Desemprego)
(Com informações da Bloomberg News)