Cofundador do Airbnb aposta no trabalho remoto como alternativa aos escritórios

Nathan Blecharczyk acredita que versatilidade dos regimes de trabalho é a chave para o equilíbrio das equipes em uma empresa

Airbnb
Por Jo Constantz
28 de Setembro, 2022 | 08:15 AM

Bloomberg — A empresa de compartilhamento de casas Airbnb, inicialmente paralisada pelos lockdowns da pandemia, mas revitalizada pelo recente crescimento no número de viagens, aposta que o trabalho remoto chegou para ficar.

Estadias de 28 dias ou mais — geralmente feitas pelos chamados nômades digitais, que podem trabalhar de várias localidades — agora representam cerca de um quinto dos negócios do Airbnb. E, neste ano, a empresa tornou permanente a política de “trabalho de qualquer lugar” para seus seis mil funcionários, eliminando os níveis salariais com base no custo de vida de um local e permitindo que os funcionários trabalhem até 90 dias por ano em qualquer região em que o Airbnb opera.

PUBLICIDADE

A empresa publicou recentemente um guia de políticas para cidades e países que desejam atrair trabalhadores remotos, seguindo o exemplo de Tulsa, Oklahoma, que atraiu mais de 1.600 pessoas e impulsionou a economia da região em quase US$ 20 milhões no ano passado.

A Bloomberg conversou com o cofundador e diretor de estratégia do Airbnb, Nathan Blecharczyk, para discutir como ele vê a revolução do trabalho remoto acontecendo. As respostas foram editadas para melhor clareza.

Qual é a lógica por trás do documento de política de trabalho remoto?

PUBLICIDADE

Há uma grande demanda por trabalho remoto. O que é interessante são as implicações estratégicas para vilas e cidades. Historicamente, as cidades têm feito muito para atrair empresas para dinamizar sua economia. E agora há esse caminho para ir diretamente aos trabalhadores e suas famílias e argumentar por que esta cidade é um ótimo lugar do ponto de vista da qualidade de vida. Os funcionários não precisam escolher entre um emprego bem remunerado e uma ótima qualidade de vida. Eles podem ter os dois.

Existem muitas cidades atraentes para trabalhadores remotos, onde o custo de vida disparou à medida que muitas pessoas se mudam para lá. Isso está aparecendo nas conversas com essas cidades?

Há prós e contras em qualquer coisa — o desenvolvimento econômico de uma pessoa é a gentrificação de outra. No geral, esse fenômeno certamente está mexendo com o cenário, e acho que isso é uma coisa boa. Durante a pandemia, vimos pessoas indo para lugares como a Flórida e outros subúrbios, que ficaram um pouco superaquecidos. Mas acho que à medida que entramos em um estado estável, a oportunidade pode se espalhar por uma área maior.

PUBLICIDADE

Você viu algum impacto da política de trabalho remoto do Airbnb na satisfação ou engajamento dos funcionários?

O que vimos durante a pandemia foi que o engajamento não oscilou muito. Acho que tanta coisa estava acontecendo no mundo que, de certa forma, as percepções e os sentimentos das pessoas sobre a empresa estavam meio travados. O que vimos mudar muito é a atitude das pessoas em relação ao trabalho remoto. Quando perguntamos aos funcionários em setembro de 2020 se eles queriam entrar no escritório menos de uma vez por semana — basicamente para não estar no escritório —, a taxa de resposta foi de 37%. Em novembro de 2021, era de 59%. Isso abriu os nossos olhos.

A empresa deixou de calcular salários com base na localização da pessoa. Qual foi a justificativa para isso?

PUBLICIDADE

Se você vai cortar o salário das pessoas se elas se mudarem, está realmente criando flexibilidade? Isso faz com que a troca seja muito difícil para os funcionários. Gastamos muito em talento e gastamos muito em espaço de escritório. No futuro, gastaremos menos dinheiro em espaço de escritório. Então, nosso pensamento é que tudo será resolvido eventualmente.

O que se perde por não ter pessoas vindo ao escritório?

Funcionou bem no curto prazo, mas será que existem implicações de longo prazo que ainda não estamos entendendo completamente? Por experiência pessoal, é menos divertido trabalhar em casa do que no escritório. Mas há uma sobrecarga para entrar no escritório e há uma incapacidade de equilibrar as coisas da mesma maneira. Existe esse tipo de troca entre a eficiência da vida versus a diversão dos colegas. Acho que muitas pessoas, principalmente aquelas que têm filhos, estão dizendo: “Eu fico com a eficiência, é disso que eu preciso agora.” Se você acabou de sair da faculdade, pode dizer: “Quero socializar, isso é importante para mim”.

— Com a ajuda de Matthew Boyle.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também:

Fundador da Netshoes: como a era digital chegou ao conserto do carro

Na disputa entre Getnet e Nubank, entenda a queda nas ações de fintechs

O que o head de Data do Itaú busca em profissionais da tecnologia