Bloomberg Línea — As ações de Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11) estão no alvo de debate no mercado nas últimas semanas. Afinal, analistas estão precificando os papeis de maneira adequada em seus relatórios a clientes ou não enxergam as reais perspectivas de valorização?
O time de research do Bradesco BBI tem recomendação de venda para a ação da Suzano há um mês, enquanto a segunda visão é defendida pela empresa - a tal ponto que ela abriu um programa de recompra de ações de quase R$ 1 bilhão, que foi concluído nesta terça-feira (27). Já o Itaú BBA aponta que as ações estão descontadas e representam um ponto de entrada para os investidores.
O cenário incerto diante do risco de uma recessão global, devido ao aperto monetário nas principais economias do mundo e aos conflitos geopolíticos em curso, tem castigado as perspectivas do setor de celulose e papel, um dos carros-chefes das exportações brasileiras.
As ações tanto de Suzano como de Klabin acumulam desvalorizações da ordem de 20% em 12 meses, mesmo com os preços de seus produtos ainda em patamares elevados no mercado internacional. Há analistas que apontam que os papéis das duas companhias estão muito descontados e podem oferecer uma oportunidade de entrada, de olho no potencial de valorização (upside).
O Itaú BBI foi o último grande banco brasileiro a analisar o descolamento das cotações de Suzano e Klabin em relação aos preços da celulose no mercado internacional. Em relatório divulgado nesta terça-feira (27), o analista Daniel Sasson diz que os atuais preços das ações oferecem um “bom ponto de entrada” para os papéis das duas companhias.
“No caso da celulose, muitos investidores projetam o início de uma correção de preços o mais breve possível no quarto trimestre deste ano”, escreve o especialista do Itaú BBA.
A área de research do maior banco privado do país tem recomendação “outperform” (que significa que os analistas esperam que o papel tenha uma performance melhor do que a média do mercado) para as ações tanto da Klabin como da Suzano, com preço-alvo de R$ 24 e e R$ 63, com um upside estimado de 33% e 48%, respectivamente, para 2023 em relação aos preços da terça-feira (26).
“Nós acreditamos que as preocupações do investidor com uma potencial correção nos preços da celulose estão parcialmente precificadas”, cita Sasson.
O relatório observa que as ações da Suzano acumulam queda de 29% no acumulado do ano, enquanto os preços da celulose, em reais, subiram cerca de 45% no período. Quanto ao papel da Suzano, o analista diz que a ação teria de subir 25% para retornar à sua média histórica.
“O recente descolamento dos preços das ações da Suzano e da Klabin em reais tem estado em nosso radar. Enquanto os investidores estão preocupados com um potencial declínio dos preços da celulose no curto prazo, achamos que este movimento está parcialmente considerado nos preços”, apontou o relatório.
O relatório do Itaú BBI, portanto, já reflete as recentes correções dos preços das commodities do setor.
Em agosto, antes da última reunião do Fed (Federal Reserve) na semana passada, que estremeceu os mercados com a previsão de novos aumentos dos juros devido às pressões inflacionárias, fortalecendo as apostas em uma recessão mundial, o Bradesco BBI também divulgou um relatório para as empresas do setor, mas cortando as suas recomendações para as ações das companhias de celulose e papel, de “compra” para “venda” do papel de Suzano, da chilena CMPC e neutra para Klabin.
Europa e Ásia
A equipe de research do Bradesco tem expressado cautela com o efeito de uma recessão no nível de demanda do setor, no momento de aumento de capacidade das unidades de produção.
“Olhando para o futuro, estamos mais preocupados com as perspectivas econômicas na Europa, dado o aperto monetário em curso e a crise energética, que, combinados com o aumento das exportações de papel da China/Ásia e a queda dos fretes marítimos, devem levar a uma pressão sobre os preços do papel, traduzindo-se em margens mais fracas para os fabricantes de papel e preços de celulose mais baixos”, dizem os analistas Thiago Lofiego (Bradesco BBI) e Renato Chanes (Ágora Investimentos).
Os estoques de celulose mantidos nos portos europeus aumentaram em 217 mil toneladas em agosto, para 1,2 milhão de toneladas, um avanço de 22% no mês, mas ainda 4% inferior ao ano anterior, apontaram os especialistas. Os níveis de estoque mais altos foram em Holanda/Bélgica (499 mil toneladas, alta de 13% no mês e de 1% em um ano), Itália (332 mil toneladas, alta de 41% no mês e queda de 14% em um ano) e Alemanha (156 mil toneladas, alta de 19% no mês e de 13% em um ano).
“Os níveis de estoques portuários de celulose na Europa se recuperaram em agosto, mas ainda estão em níveis gerais baixos, possivelmente devido à redução dos gargalos logísticos. Olhando para o futuro, esperamos que os estoques continuem subindo, também impactados pela desaceleração da atividade econômica na Europa, que, em nossa opinião, ajuda a sustentar a visão negativa sobre os preços da celulose”, alertaram os analistas.
Os gargalos da cadeia de suprimentos estão diminuindo, o que deve liberar estoques de celulose e ajudar a impulsionar uma correção de preço de celulose daqui para frente. Os analistas estimam uma correção de preço de celulose de US$ 250/tonelada até o final de 2023, com celulose de fibra curta chegando a US$ 600.
Em outro relatório, divulgado no último dia 15, sobre a Suzano, o Bradesco BBI reiterou sua recomendação “underperform” para o papel, com preço-alvo de R$ 56, destacando uma visita do CFO, Marcelo Bacci, a 20 investidores europeus para falar da estratégia da companhia.
O executivo ouviu questionamentos sobre o impacto do aumento de capacidade nos próximos anos e como isso vai impactar o mercado de celulose nos próximos dois,três anos. Também se informaram sobre as oportunidades do mercado de carbono para a Suzano e sobre a estatégia de criação de valor da companhia para os próximos cinco a dez anos.
Papéis
Já os preços dos papéis sem madeira revestidos (CWF) importados no Brasil caíram pela primeira vez desde o início da pandemia, como resultado de mais volumes importados vindos da Ásia, segundo a RISI, provedora de informações sobre o mercado de produtos florestais.
A chegada de volumes mais altos vem ampliando a diferença de preço para as especificações no Brasil, com fornecedores europeus incapazes de lidar com as fortes pressões de custo e ainda considerando novos aumentos de preço.
O CWF da Ásia foi negociado a US$ 1.200/tonelada para clientes brasileiros, enquanto o preço das importações da Europa chegou a US$ 1.400. As últimas estatísticas mostram que as importações brasileiras de CWF da China entre janeiro e agosto cresceram 470%, para quase 18 mil toneladas.
O material chinês já responde por 58% das importações brasileiras, ante uma participação de mercado de apenas 14,8% em 2021. Os preços domésticos de CWF permaneceram estáveis, mas na faixa entre R$ 6.500 e R$ 6.800/tonelada para bobinas e de R$ 7.100 a R$ 7.800/tonelada para chapas em agosto e setembro. Os participantes do mercado continuaram afirmando que a oferta é escassa, e a demanda, sólida, com os compradores até começando a procurar por tonelagens importadas.
“As exportações asiáticas para o Brasil estão se recuperando fortemente após uma queda significativa durante a pandemia. As importações asiáticas também estão chegando com preços muito mais competitivos em relação aos volumes europeus, já que os fabricantes de papel na Europa continuam lutando com custos muitos altos”, observaram os analistas do Bradesco BBI e da Ágora Investimentos.
Para eles, a tendência é que as exportações europeias comecem a diminuir em muitos mercados, enquanto os asiáticos aumentam as exportações. “Os preços do papel brasileiro permanecem estáveis até o momento em meio à demanda doméstica mais sólida”, citaram.
Impacto da guerra
A guerra entre Rússia e Ucrânia também compõe o contexto para explicar a disparada recente das cotações da celulose, segundo especialistas.
“O conflito entre Rússia e Ucrânia também vem afetando a oferta, já que a madeira russa, uma das principais fontes de insumo para as companhias europeias, perdeu a certificação internacional e tem sofrido restrições comerciais, aumentando a escassez de celulose no mercado internacional”, observaram os analistas Felipe Ruppenthal e Rodrigo Diniz, da Eleven Financial, em seu último relatório.
Os analistas da Eleven destacaram ainda que os projetos de expansão de capacidade produtiva para o setor que eram esperados para o ano estão atrasados e que a produção de alguns países tem sido interrompida por fatores como greves e dificuldades de obter matéria-prima, o que acaba diminuindo a expectativa do mercado de incremento da oferta de celulose no curto prazo.
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