Como insetos poderiam resolver a fome mundial?

Espera-se que quase 670 milhões de pessoas passem fome até 2030, segundo dados da ONU; poderiam os insetos comestíveis ser parte da solução?

Valores nutricionais de insetos são superiores aos da carne bovina, além da produção mais sustentável
27 de Setembro, 2022 | 06:07 PM

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Bloomberg Línea — O gorgulho da palma vermelha na Ásia, as lagartas na África ou certas variedades de formigas na América do Sul estão entre as mais de 1.900 espécies de insetos comestíveis do mundo, fonte de alimento para muitas comunidades e possível resposta aos desafios da fome em meio à escalada da inflação global.

Estima-se que 828 milhões de pessoas no mundo passaram fome no ano passado, um aumento de 46 milhões em comparação com os dados de 2020, ano marcado pelo impacto da pandemia na economia global, de acordo com um relatório das Nações Unidas.

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Em meio a uma perspectiva desafiadora diante da insegurança alimentar, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) propôs em um relatório por que os insetos comestíveis poderiam ser parte da resposta à fome mundial.

Entre os motivos para os países incorporarem insetos comestíveis em dietas locais está o aspecto nutricional, já que esses insetos fornecem micronutrientes como zinco, cálcio e ferro, assim como fibra, energia, gordura e proteína, de acordo com a FAO.

Sua contribuição nutricional também está no fato de poderem ser uma alternativa para o consumo de proteínas em regiões onde o acesso à carne é escasso, gerando insegurança alimentar.

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A FAO aponta que as larvas-da-farinha, por exemplo, têm valores minerais comparativamente semelhantes aos da carne bovina, e seu teor de vitaminas é geralmente mais alto.

A carne bovina, por outro lado, tem um teor mais alto de aminoácidos e gordura, de acordo com o relatório da agência da ONU.

Outras vantagens destacadas pela FAO estão relacionadas à contribuição deste tipo de alimento para o meio ambiente, já que sua produção é mais sustentável em comparação com outras fontes de proteína.

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Por um lado, insetos ocupam uma porção mínima de terra e, no caso dos grilos, requerem “12 vezes menos ração do que o gado para produzir a mesma quantidade de proteína”.

Portanto, esta fonte alimentar gera significativamente menos gases de efeito estufa, tornando-a uma alternativa sustentável.

Há uma chance de 40% de que a temperatura média anual da Terra suba 1,5°C nos próximos cinco anos, acima dos níveis pré-industriais, alerta a ONU.

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Como os eventos climáticos extremos se tornam cada vez mais agressivos, a comunidade científica e ambiental está apontando para as possíveis causas deste fenômeno, exacerbado pela agricultura intensiva e por práticas ambientais ruins na produção de alimentos.

Produção de insetos para consumo alimentar é mais sustentável que outras fontes de proteína

Além das qualidades já citadas, a FAO também destaca as oportunidades econômicas abertas pela produção de insetos comestíveis, tanto em áreas rurais quanto urbanas, ao não exigir grandes espaços, treinamento avançado ou uma rede especial de transporte.

Finalmente, a agência aponta que é um recurso subutilizado em um cenário onde “são necessárias soluções inovadoras para atender à demanda global por proteínas e outras fontes de alimentos nutritivos”.

“Como a população mundial continua crescendo, a produção de alimentos terá que aumentar, o que inevitavelmente pressionará a produção agrícola e nossos limitados recursos naturais”, acrescenta.

De acordo com os dados da ONU, até 2030, espera-se que quase 670 milhões de pessoas, ou o equivalente a 8% da população mundial, continuem com fome.

Isto demonstraria um fracasso no cumprimento dos objetivos propostos na luta contra a fome – já que este número seria semelhante ao registrado em 2015 – em meio às pressões que surgiram no último ano devido à crise logística, à escassez de fertilizantes por conta da guerra na Ucrânia e à escalada da inflação.

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.