Bloomberg — A líder italiana Giorgia Meloni adotou um tom conciliatório após sua vitória nas eleições, comprometendo-se a governar para todos os italianos enquanto lidera o governo mais inclinado à direita no país desde a Segunda Guerra Mundial.
A coligação de Meloni, que inclui a Liga, de Matteo Salvini, e a Forza Italia, de Silvio Berlusconi, recebeu cerca de 44% dos votos nas eleições deste domingo (25), de acordo com os resultados preliminares do Ministério do Interior. Um dos blocos de partidos de esquerda ficou em segundo lugar, com cerca de 26%. A aliança da direita teria uma clara maioria no Senado.
“Este é o momento da responsabilidade”, disse Meloni, que dirige o partido de extrema-direita Irmãos de Itália, em um discurso na noite das eleições. “Se formos chamados a governar o país, o faremos para todos os italianos, com o objetivo de unir este povo, de exaltar o que o une e não o que o divide.”
Um dos primeiros desafios de Meloni será elaborar um plano de orçamento a ser apresentado à União Europeia e ao parlamento para aprovação até o final do ano. A economia da Itália está desacelerando, atingida pela invasão da Ucrânia pela Rússia, pela alta dos preços da energia e pelo aumento das taxas de juros, e deve crescer apenas cerca de 0,4% no próximo ano, ante uma projeção de 2,4% divulgada em abril, de acordo com uma pesquisa de 34 economistas realizada pela Bloomberg.
O spread entre os títulos italianos e alemães de 10 anos – um barômetro de risco da dívida – aumentou para 237 pontos-base (2,37%) após a votação, ao passo que o índice FTSE MIB subiu ligeiramente com os mercados acionários mais fracos na Europa com a notícia de que Meloni tinha a maioria dos votos.
Salvini, cujo partido está mais fraco após ter caído para cerca de 9% na votação, disse aos repórteres na segunda-feira (26) que estava apostando que o próximo governo permaneceria durante todo o mandato de cinco anos. “Com Giorgia vamos trabalhar juntos por muito tempo”, disse Salvini. Ele afirmou que um decreto de energia para proteger as famílias e empresas atingidas pelos aumentos dos preços da energia era urgente e “será o primeiro teste para o novo governo”.
Salvini pediu mais de 30 bilhões de euros em novas dívidas para proteger famílias e empresas. Meloni afirmou que este seria o último recurso.
“Em nossa opinião, a distribuição do poder na coligação fora das mãos da Liga reforça a visão de que o novo governo continuará amplamente em conformidade com a reforma e os compromissos fiscais da Itália, embora a relação com os parceiros europeus possa ficar tensa por um tempo”, escreveu Marco Protopapa, do JPMorgan (JPM), em relatório.
Depois de ficar atrás do partido de Meloni nas eleições, Enrico Letta disse que não buscará um novo mandato no comando do Partido Democrata de centro-esquerda, convocando um congresso para selecionar um novo líder.
Fundos da União Europeia
Os investidores acompanharão atentamente as ideias de Meloni sobre o plano de gastos da Itália para cerca de 200 bilhões de euros de fundos de recuperação da UE. Meloni afirma repetidamente que o plano apresentado pelo atual primeiro-ministro Mario Draghi precisa de um ajuste. O programa de seu partido diz que a gestão dos fundos tem sido “horrível” e que isso “não é mais tolerável”.
O país gastou 66 bilhões de euros até agora para proteger as famílias e empresas dos piores aumentos de preços de energia e mais gastos serão necessários, dificultando o controle da enorme dívida.
Meloni, de 45 anos, tem apenas uma ligeira experiência no governo, e ascendeu na carreira política em grande parte graças ao seu boicote à administração tecnocrática de Draghi nos últimos 18 meses.
Provando seu valor
“Agora Giorgia Meloni terá que provar ser alguém que realmente pode enfrentar os desafios da economia italiana”, disse Domenico Lombardi, economista e diretor-geral do think tank conservador Kypseli, à Bloomberg TV na segunda-feira. “Ser um conservador também significa ser conservador sobre as finanças públicas de seu país.”
Espera-se que Meloni proteja e dê prioridade às empresas italianas e proteja a economia contra aquisições ou interferências estrangeiras. Sobre os impostos, ela e seus aliados apoiam a criação de um imposto fixo tanto sobre a renda quanto sobre imóveis.
Uma das primeiras tarefas da coligação será a escolha dos ministros, particularmente o ministro das Finanças. As opções favoráveis ao mercado incluem manter o atual ministro das Finanças Daniele Franco, de 69 anos, ou recrutar o atual membro da Diretoria Executiva do Banco Central Europeu Fabio Panetta, de 63 anos.
Os candidatos mais próximos ao partido incluem o ex-ministro da Fazenda Giulio Tremonti, de 75 anos, que atuou nos governos de Berlusconi tanto como ministro quanto como vice-primeiro-ministro. Outro nome dessa época é Domenico Siniscalco, de 68 anos, que ocupou brevemente o cargo de ministro da Fazenda e foi diretor geral da Fazenda nos governos conservadores.
--Com a colaboração de With Alberto Brambilla e Antonio Vanuzzo.
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