Libra atinge mínima histórica e títulos afundam em caos no mercado britânico

Maior corte de impostos em meio século, promovido pelo novo governo de Liz Truss, desencadeia onda vendedora de ativos, diante de preocupação com efeitos fiscais

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Bloomberg — A onda vendedora de ativos do Reino Unido se acelerou nesta segunda-feira (26), o que levou a libra esterlina a uma mínima história, derrubou os títulos do governo britânico e aumentou a expectativa de uma ação de emergência do Banco da Inglaterra, o banco central local.

O caos no mercado ampliou as perdas registradas na sexta-feira (23) após as novas medidas fiscais do governo britânico, que deixaram investidores em pânico. O governo da primeira-ministra Liz Truss anunciou o maior corte de impostos e concessão de subsídios em meio século no Reino Unido.

A venda de Gilts, os títulos públicos do Reino Unido, elevou os rendimentos de 10 anos para acima de 4% pela primeira vez desde 2010. A libra caiu para US$ 1,0350, aproximando-se da paridade com o dólar, embora tenha reduzido as perdas para US$ 1,07 posteriormente.

A turbulência – impulsionada pelo comentário no domingo (25) do ministro das Finanças britânico, Kwasi Kwarteng, de que há “mais por vir” em termos de cortes de impostos – gerou pedidos de aumentos mais significativos da taxa de juros do Banco da Inglaterra, sendo que outros apelaram por ações de emergência já nesta semana.

Também já se fala em crise cambial, o que ameaça desestabilizar o novo governo da primeira-ministra Liz Truss enquanto o país enfrenta uma crise de custo de vida e uma recessão.

“Seria tolice descartar a paridade”, disse Dean Turner, economista para o Reino Unido do UBS Private Banking. “Se o mercado está determinado, então o valor justo, os valuations ou os fundamentos têm pouca importância. A questão para mim é o que pode mudar ao longo do mês e o que pode mudar neste ciclo e realmente não vejo muito no horizonte que possa acontecer.”

Traders redobraram as apostas em aumentos dos juros pelo BoE, tendo precificado brevemente 1,75 ponto percentual de aperto até a próxima reunião de política monetária em novembro. O mercado projeta a taxa básica em 6,25% até novembro de 2023.

O mercado de swaps até precifica uma elevação de 0,25 ponto percentual na taxa do BoE hoje, de acordo com Alvin Tan, chefe de estratégia cambial da Ásia no RBC Capital Markets, que mencionou apostas implícitas na curva de câmbio a termo.

O economista Dan Hanson, da Bloomberg Economics, disse que a desvalorização da moeda “vai soar o alarme no banco central”. Se for sustentada, ele projeta que o BoE suba a taxa básica em 1 ponto percentual.

Um porta-voz do Banco da Inglaterra não quis comentar as oscilações da taxa de câmbio.

“Achamos que o BoE está muito psicologicamente marcado pelos eventos de 1992 para tentar aumentos de juros defensivos relacionados à moeda”, disse Chris Turner, do ING. “O que acontece se o BoE subir os juros em 300 a 500 pontos base e a taxa GB/USD acabar sendo negociada em baixa?”

Outra opção é a intervenção direta no mercado de câmbio, mas o banco central britânico não possui reservas suficientes para uma ação significativa e sustentada.

O mergulho na madrugada desta segunda-feira marcou a maior queda intradiária da libra esterlina desde março de 2020, quando o surgimento da Covid-19 agitou os mercados no mundo todo. O movimento elevou as chances de a moeda atingir a paridade com o dólar para cerca de 50% neste ano.

Enquanto isso, os rendimentos dos títulos britânicos de 10 anos subiram 31 pontos base, para 4,14%, e os de 5 anos saltaram 45 pontos base, para 4,53%. Essa alta deve inflar muito o custo dos 400 bilhões de libras extras (US$ 430 bilhões) em dívidas que a Resolution Foundation estima serem necessários nos próximos cinco anos para financiar o plano de crescimento.

“A queda da libra está mostrando a falta de confiança do mercado no Reino Unido e que sua força financeira está sitiada”, disse Jessica Amir, estrategista da Saxo Capital Markets, em Sydney.

- Com a colaboração de Matthew Burgess, Tania Chen, James Hirai, Joe Easton e Ben Priechenfried.

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