Os preços dos hotéis subiram? Culpe os americanos por isso

Com dólar mais valorizado, americanos ajudaram a “puxar para cima” as tarifas dos hotéis mais caros de Paris - “tirando o atraso” da pandemia

Preço não é um problema para os turistas americanos
Por Angelina Rascouet
25 de Setembro, 2022 | 05:00 PM

Bloomberg — Uma das suítes de hotel mais caras de Paris ficou ainda mais salgada. Uma noite na suíte superior do Bristol, um dos mais famosos e luxuosos hotéis da cidade, aumentou em 5 mil euros (cerca de US$ 4.990), já que os turistas americanos, com seus dólares valendo mais, voltaram em massa a frequentar a capital francesa.

O Le Bristol, a três minutos a pé do Élysée Palace, a residência presidencial, elevou todos os seus preços após uma temporada de verão que bateu recordes em termos de ocupação e tarifas médias, diz Catherine Hodoul-Baudry, diretora comercial e de marketing do hotel. Ela espera que o hotel de luxo tenha seu melhor ano de todos os tempos.

PUBLICIDADE

A melhor suíte Imperial do Bristol subiu para 30 mil euros por noite durante a semana de 29 de agosto, diz Hodoul-Baudry – um aumento de 20%. O preço dos quartos mais básicos do hotel também aumentou – em 300 euros, para 2.290 euros – depois de um salto na demanda desde maio.

É comum na hotelaria que as tarifas variem, dependendo da demanda, sazonalidade, descontos oferecidos pelas operadoras de turismo, fidelização, bem como a duração da estadia do hóspede.

A suíte, que possui cerca de 300 metros quadrados e três quartos, tem vista para o jardim em estilo francês e possui uma área de jantar que pode acomodar até 12 hóspedes, de acordo com a descrição do próprio hotel. Ela tende a ser preferida pelas delegações oficiais por causa de seu tamanho, diz a diretora.

PUBLICIDADE

“Não há resistência ao preço” de nossos clientes, diz Hodoul-Baudry. “Paris está se beneficiando de uma forte demanda, então aproveitamos depois de anos de sofrimento”, de bloqueios, mas também de ataques terroristas e protestos. O aumento nos custos de funcionários, alimentação e energia também levou a rede a aumentar suas taxas, acrescenta ela.

Mas Hodoul-Baudry acha que uma série da Netflix também pode ter ajudado. “Emily em Paris, embora cheia de clichês, provavelmente deu aos americanos o desejo de voltar, graças ao belo retrato” da cidade. A série, que estreou há dois anos durante as restrições do coronarívus, também despertou interesse dos turistas nas agora onipresentes exposições imersivas de Van Gogh.

Segundo ela, os americanos gostam particularmente da suíte Paris do Bristol, cujo preço aumentou em mil euros, para 12 mil euros por noite. A suíte exibe temporariamente uma obra de Marc Chagall, intitulada Les Mariés au coq.

PUBLICIDADE

Os principais hotéis de luxo de Paris estão tendo que se virar sem os turistas chineses, ainda presos em casa, e também sem russos desde o final de fevereiro, após a invasão da Ucrânia pelo país e as sanções que se seguiram ao ataque.

O Plaza Athénée, outro hotel luxuoso, que está um pouco acima do status de cinco estrelas, também teve um verão recorde ajudado pela paridade do euro com o dólar, de acordo com François Delahaye, gerente geral. Os americanos agora representam 45% de seus clientes, acima de cerca de 25% antes da pandemia. “Eles também estão ficando mais tempo”, acrescenta. Os russos representavam 9% da clientela do hotel antes da guerra.

“O dinheiro não é um problema” para os clientes, diz Delahaye, acrescentando que mais estão vindo com seus jatos particulares para evitar possíveis interrupções nas companhias aéreas comerciais.

PUBLICIDADE

Ambos os gerentes dizem que setembro e outubro estão a caminho de serem excelentes meses para hotéis de luxo, com a Paris Fashion Week começando em 26 de setembro e o Paris+ par Art Basel, começando em 20 de outubro. Mas Delahaye e Hodoul-Baudry continuam cautelosos ao prever tendências para o próximo ano em meio às incertezas econômicas e financeiras.

O recém-inaugurado hotel Cheval Blanc também se saiu melhor do que o esperado desde que abriu há um ano ao lado do shopping Samaritaine, com quartos agora a partir de 1.250 euros.

A expectativa é obter o status de palácio, o que elevaria para 13 o número de hotéis desse tipo na capital francesa. Atout France, agência encarregada de promover o país como destino turístico no exterior, é quem atribui o título.

Cheval Blanc cobra 55 mil euros por noite por uma estadia em seu apartamento de cerca de mil metros quadrados, que inclui seu próprio elevador privativo e piscina, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto. Uma porta-voz se recusou a comentar.

“Nosso primeiro ano foi além de nossas expectativas”, diz Olivier Lefebvre, CEO da marca de hotéis de luxo LVMH. Ele se recusou a fornecer números, já que o proprietário da Louis Vuitton não detalha os dados por marca.

“Daqui para frente, se não tivéssemos esses profetas da desgraça, eu diria que teremos um 2022 totalmente excepcional”, diz ele com cautela, referindo-se a previsões econômicas sombrias.

Mas, até agora os clientes têm como objetivo “se divertir”. “Avós estão convidando pais e netos, estamos percebendo muitas viagens multigeracionais, as pessoas estão pensando que podem morrer em breve e não fizeram a viagem que queriam fazer”, diz Hodoul-Baudry. “Tem sido tudo sobre tirar o atraso em 2022″.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

O que o quiet quitting diz sobre o futuro das relações de trabalho