Carlos Wizard: ‘se vencer a esquerda ou a direita, parabéns’

Empresário que esteve próximo do governo se distancia da campanha eleitoral e diz que prioridade são os negócios: ‘o Brasil é mais forte que a política’

Carlos Wizard
25 de Setembro, 2022 | 02:50 PM

Bloomberg Línea — Carlos Wizard Martins, empresário e fundador da Wizard Idiomas, assumiu uma posição rara entre líderes de negócios no país em anos recentes ao manifestar suas preferências políticas. Há pouco mais de um ano, chegou a ser convocado pela CPI da Pandemia para depor, apontado como integrante de um grupo que assessorava informalmente o presidente Jair Bolsonaro em temas de saúde.

O empresário, no entanto, decidiu se afastar da campanha eleitoral e de temas políticos em 2022, com o objetivo, segundo ele, de colocar foco no que considera prioridade: os seus negócios.

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“Vi que o Brasil é muito mais forte que a política. Se vencer a esquerda, parabéns; se for a direita, parabéns. Neste ano, estou 100% voltado ao empreendedorismo porque é a fórmula que eu acredito que consegue realizar a transformação de um indivíduo e de uma sociedade”, afirmou o empresário em entrevista à Bloomberg Línea.

“O brasileiro já passou por vários sistemas, vários modelos de governo e, se olharmos historicamente, nós sempre evoluímos a despeito das condições políticas”, disse Wizard, de 66 anos.

A nova postura deixa para trás momentos em que, segundo a CPI, Wizard auxiliava o governo do presidente Jair Bolsonaro a tomar decisões sobre o combate à pandemia. À época, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a afirmar que havia sido aconselhado por Wizard e que ofereceu um cargo na pasta ao empresário. Sobre o a CPI, Wizard disse: “Reservo-me o direito de permanecer em silêncio.”

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Antes do envolvimento com a política, Wizard já era conhecido como um empreendedor em série, um dos mais bem-sucedidos do país. Sob a gestão de seu grupo Sforza, holding estabelecida após a venda da Wizard e do grupo educacional Multi ao grupo britânico Pearson por R$ 2 bilhões em 2013, estão as marcas de produtos esportivos Topper e Rainha e as redes Mundo Verde, KFC, Taco Bell e Pizza Hut no mercado brasileiro. Seu patrimônio foi recentemente estimado em R$ 2,1 bilhões pela Forbes.

“Nós temos que entender que um número mínimo de pessoas se posicionou em relação às minhas empresas [em tentativas de boicotes], aos meus negócios e à minha atividade econômica. Sinceramente falando, é uma gota no oceano. Sentimos zero impacto financeiro”, afirmou.

Empreendedor na crise

Wizard disse estar otimista com o ano de 2022, apesar do momento de alta dos juros e das projeções de recessão global, que começam a se tornar predominantes no mercado.

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Segundo ele, o momento é favorável para empreender. “Nós temos demanda reprimida por parte da população em vários setores porque o brasileiro passou dois anos trancado em casa, sem liberdade de ir e vir, sair, consumir, viajar e ter acesso a serviços. Agora eu acredito que nós já vencemos esse efeito pandemia e o mercado está apto e ansioso para oferecer produtos de qualidade”, disse.

Wizard diz que negócios de franquias, como o KFC, são mais confiáveis

Para ele, o sistema de franquias é a forma mais segura e rentável de montar um negócio. “Mas não basta a pessoa simplesmente lançar uma franquia, sem ter experiência no setor. A experiência te dá uma bagagem como segurança bem grande de que aquele parceiro de negócio que vai estar contigo terá um negócio lucrativo, rentável e que será contínuo, perpétuo, e não uma aventura”, afirmou.

Empreendedorismo para jovens

Neste ano, o empresário lançou uma espécie de MBA para crianças e adolescentes, a partir dos 8 anos até os 16 ou 17 anos, idade em que, em geral, o jovem está no fim do ensino médio.

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Chamada de Mister Wiz, o novo negócio conta com 100 franqueados em oito estados. A companhia afirma que “o programa de ensino anual irá oferecer aulas presenciais e remotas, material de ensino, como livros e apostilas, jogos educacionais, atividades lúdicas e deverá contar com 80 horas/aula”.

O Mister Wiz será um programa pago, com mensalidades de R$ 200 a R$ 250. “Entendemos que hoje os jovens, especialmente os adolescentes, estão muito mais focados em ter um negócio próprio do que um emprego fixo”, disse. “Na minha geração, o sonho de todo jovem era começar como estagiário e se aposentar na mesma empresa. Esse sonho já não existe mais. Hoje o adolescente pensa em ter uma startup.”

As aulas para crianças terão dois formatos, segundo o empreendedor: nas instituições do Mister Wiz e também em escolas particulares que adquirirem o sistema de educação.

Cultura americana de empreendedor

Para explicar como se sentiu ao vender a Wizard Idiomas, o empresário disse que há duas diferenças essenciais entre o “modo americano e o brasileiro de saber a hora de deixar ir” e vender seu negócio.

“O brasileiro, geralmente, abre uma empresa e, no seu imaginário, vai passar a vida toda com aquele negócio. Vai morrer com a empresa nas mãos e aquilo terá uma sucessão: vai passar para os filhos, os netos e os bisnetos. Nos Estados Unidos, você funda uma empresa, e, se a empresa deu certo, você vende. E daí você abre uma segunda, uma terceira, e assim sucessivamente”, afirmou.

Wizard conta que, por ter passado muito tempo nos Estados Unidos, acabou adotando parte da cultura americana em relação aos negócios.

“Foi esse o modelo que nós seguimos. Tivesse eu pensado apenas com o coração, apenas com o meu lado emocional, talvez eu nunca tivesse vendido o meu negócio”, contou.

“Mas eu descobri que existem momentos em que o empresário precisa pensar mais racionalmente. E é uma grande satisfação saber que eu sou fundador de uma companhia de sucesso.”

3 pilares para empreendedores

Wizard, que agora também faz a mentoria de jovens empreendedores, afirmou acreditar em três pilares que considera essenciais para quem deseja abrir seu próprio negócio.

“Eu acredito que a pessoa que leva uma vida de fé tem maior capacidade de concentração, organização, de relacionamentos. Em segundo lugar vem a educação, ou seja, nós estamos sempre no processo contínuo de aquisição de conhecimento, e esse é um pilar fundamental.”

“O terceiro pilar é o empreender por si só, é a habilidade que a pessoa tem de transformar um plano, uma ideia, uma estratégia, em uma atividade com propósito”, afirmou.

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Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.