Bloomberg Línea — Em grandes cidades brasileiras, é comum ver bicicletários ou estações de bicicletas compartilhadas próximos às estações de metrô ou terminais de ônibus. Combinar diferentes modais, coletivos e individuais, amplia o acesso da população ao sistema de transporte urbano e pode ser a solução para diversas pessoas otimizarem seus deslocamentos. De olho nessa realidade, o Itaú Unibanco (ITUB4), maior banco privado do país, e a startup de micromobilidade Tembici anunciaram, nesta quinta-feira (22), a renovação de sua parceria por mais dez anos. O valor do contrato não é revelado pelas companhias.
Em São Paulo, cidade mais populosa do Brasil, as bikes da Tembici são identificadas pela cor laranja, o que rendeu o apelido de “laranjinhas” entre seus usuários. Há ainda as de cor vermelha, que identificam as bicicletas utilizadas por entregadores do aplicativo iFood, que tem parceria com a Tembici.
Segundo dados da startup, o sistema Bike Itaú, iniciado em 2012, opera em três países (Brasil, Chile e Argentina) e cobre dez cidades latino-americanas: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Recife, Jaboatão dos Guararapes (PE) e Olinda (Chile), além de Santiago (Chile), Buenos Aires (Argentina) e Nordelta (Argentina). No total, a startup soma mais de 71 milhões de viagens realizadas e 440 milhões de quilômetros rodados, o equivalente a 15 mil voltas ao mundo.
Tomás Martins, CEO da Tembici, afirmou em nota que o plano agora é continuar investindo para expandir a operação das bicicletas. A startup é líder no mercado de micromobilidade no Brasil e não tem grandes competidores locais desde o fim das operações de aluguel de bicicletas e patinetes de empresas como a Grow (fusão da Grin e a Yellow) e a Uber.
Em outros países, bancos também patrocinam serviços de bikes compartilhadas. Em exemplo é nos EUA, onde o Citibank também adota um modelo de parceria assim como o do Itaú com a Tembici.
O Itaú associa a decisão de renovar o contrato com a Tembici à sua política de incentivo à sustentabilidade.
Bogotá
Com a renovação do contrato por mais 10 anos, a expectativa é de que mais de 20 mil bicicletas estejam disponíveis no período, ampliando em 50% o número de bikes no sistema na América Latina. O próximo alvo da startup é a Colômbia. A companhia anunciou, em fevereiro, um investimento de mais de R$ 53 milhões para implantação de seu sistema em Bogotá, capital colombiana, após vencer uma licitação, com uma proposta de 3.300 bicicletas, sendo 1.500 elétricas, e pelo menos 300 estações.
“O potencial de mercado é gigante em Bogotá. A cidade é referência em mobilidade ativa e conta com uma excelente malha cicloviária com mais de 550 quilômetros de estrutura. Sua primeira ciclovia tem quase 50 anos. E no cenário de pandemia, a prefeitura implementou diversas iniciativas para incentivar ainda mais o uso do pedal”, afirmou o CEO da Tembici.
Além do Itaú e do iFood, a Tembici possui uma parceria com a Localiza (RENT3), locadora de veículos, que oferece descontos de até 25% no aluguel de bikes compartilhadas em capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Recife e Salvador.
Demanda em alta
A maior demanda por bikes como opção de mobilidade não se reflete apenas nos números da Tembici. Levantamento da OLX, plataforma de venda online de usados e seminovos, descobriu que os brasileiros seguem na procura e aquisição online de itens usados de mobilidade ativa - como são conhecidos os meios de locomoção que utilizam a energia do próprio corpo humano para o deslocamento. Segundo o estudo, bicicletas foram os itens mais procurados e adquiridos pelos usuários entre os meses de janeiro e junho deste ano. Patins aparecem em segundo lugar, seguidos por skates e patinetes.
Segundo a pesquisa da OLX, os paulistas são os que mais pesquisam e compram bicicletas por meio da plataforma, seguido dos fluminenses. Já Minas Gerais é o terceiro Estado que mais procura o item na plataforma da OLX, enquanto os moradores do DF ocupam a mesma posição nas vendas de bikes.
A crise nos transportes públicos no Brasil também é um fator que contribui para a maior adesão às bikes no país, segundo o Estudo Mobilize 2022, trabalho elaborado pela organização Mobilize Brasil em parceria com a consultoria EY.
“Parte da infraestrutura existente envelheceu sem manutenção, as condições para pedestres continuam bastante difíceis, quase desumanas, mas houve pequenos avanços para o uso de bicicletas, que se tornaram mais comuns nas paisagens urbanas. Técnicos e gestores públicos parecem ter compreendido a necessidade de adotar as práticas e conceitos previstos na Política Nacional de Mobilidade Urbana, embora essa adoção venha ocorrendo de forma muito lenta, com avanços e recuos a cada gestão”, afirmaram os responsáveis pelo estudo.
Bikes elétricas
A recente disparada dos preços dos combustíveis, como gasolina e diesel, também motivou a busca por alternativas de transporte, como bikes, motocicletas, jardineiras, Segways, tuk-tuks elétricos.
“O brasileiro tem encarado uma perda significativa de renda também com a alta no preço dos combustíveis, especialmente quem usa veículos para o trabalho. Este é um fator que traz à luz o uso de veículos elétricos, que além de serem aliados do meio ambiente, dispensam o gasto com álcool, diesel e gasolina”, disse, em nota, a Cicloway, uma montadora e locadora de veículos elétricos para mobilidade em diferentes setores.
A companhia, que desde 2005 monta mais de 20 modelos de VEs em Manaus (AM), anunciou recentemente mais de 100 mil veículos elétricos em circulação no Brasil.
A popularização das bicicletas elétricas (e-bikes) também avança no país. O brasileiro está deixando o carro na garagem e optando pelas e-bikes e motos elétricas, segundo Gabriel Arcon, CEO fundador da E-Moving, empresa de locação corporativa de bicicletas elétricas.
Ele cita que, em 2021, o mercado de bikes elétricas movimentou R$ 289,3 milhões, alta de 52% ante 2020, conforme a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas. A E-moving conta com mais de 900 e-bikes alugadas e atende clientes como Microsoft, Wickbold, SouDaki e ModalGR.
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