Movida entra no mercado europeu com compra de locadora de veículos em Portugal

Aquisição da Drive on Holidays por R$ 335 milhões representa início do plano de internacionalização para subsidiária do Grupo Simpar

Por

São Paulo — A Movida (MOVI3), subsidiária do Grupo Simpar (SIMH3), acaba de anunciar ao mercado a aquisição de uma das principais locadoras de veículos leves de Portugal, a DOH (Drive on Holidays). O valor do negócio - o Enterprise Value - foi de 66 milhões de euros (cerca de R$ 335 milhões).

O negócio dá início ao seu plano de internacionalização com a entrada na Europa, um dos maiores mercados do mundo no segmento de Rent a Car (RAC).

A compra da DOH (Drive on Holidays) significa que a Movida terá acesso aos mercados de Lisboa, Porto, Faro e Ponta Delgada, cidades estratégicas devido ao alto volume de turistas nos aeroportos.

A Drive on Holidays possui aliança comercial com plataformas de reservas online (OTA’s, Online Travel Agents) como a Rentalcars, Cartrawler, Auto Europe, AurumCars, BSP Auto, Sunny Cars, Expedia e Rentcars), segundo a Simpar.

Segundo o comunicado, a DOH tem uma frota de cerca de 3,3 mil veículos em agosto (99% próprios e 1% sob contratos de buy back) e idade média de 1,6 ano.

Um dos acionistas fundadores e executivos da empresa portuguesa, Ricardo Esteves, vai continuar à frente da DOH, que tem 130 funcionários, com uma gestão independente da operação da Movida no Brasil.

“[O negócio está] em linha com o planejamento estratégico [...] em uma região em que a companhia terá a oportunidade de servir os atuais clientes e contribuir com a expertise construída ao longo dos anos para a fidelização dos mesmos e para a concretização de um crescimento orgânico da Movida através de uma nova plataforma internacional”, disse Denys Marc Ferrez, CFO e diretor de relações com investidores da Simpar.

A DOH, com sede na capital portuguesa, atua no segmento de Rent a Car desde 2011. Entre julho de 2021 e junho de 2022, a companhia apresentou receita líquida de 20,2 milhões de euros, um lucro de 6,7 milhões de euros e uma dívida de 11 milhões de euros. Esses números não são auditados.

A Simpar listou como destaques do negócio a diversificação da receita da Movida em outra moeda (euro), a operação em um país com elevado desenvolvimento socieconômico e economia madura e o fato de servir como porta de entrada para a União Europeia, além de diversas oportunidades de crescimento.

Endividamento

Alguns analistas avaliaram o negócio anunciado com algumas reservas. “Como a companhia tem pouco espaço para alavancagem no balanço (dívida líquida/EBITDA de 3,0x no 2T22), entendemos que o mercado preferiria que a geração de caixa fosse destinada à redução do endividamento. Apesar de esperarmos uma reação negativa, o impacto da aquisição é limitado sobre o endividamento (dívida líquida/EBITDA pro-forma aumentaria 0,03x) e representou apenas 11% do desembolso com aquisição de veículos no trimestre passado”, comentaram os analistas da Eleven Financial, Alexandre Kogake e Pedro Pimenta, em nota.

Já o banco Credit Suisse destacou que o negócio marca o início da internacionalização da companhia, embora seja pequeno. “O mercado pode receber a notícia com ceticismo”, previu a instituição, em comentário. Por outro lado, o analista da Suno Research, José Eduardo Daronco, considerou o anúncio como positivo.

“Apesar de pequena em relação ao todo, avaliamos a transação como positiva para a companhia, porque abre uma importante avenida de crescimento em um mercado fragmentado e com um grande potencial de crescimento. Além disso, o múltiplo da transação foi próximo de 4 vezes o EBITDA dos últimos 12 meses, o que acreditamos ser atraente. Dessa forma, acreditamos que a Movida conseguirá aliar a sua estratégia de fidelização de clientes ao bom uso da frota para conseguir crescer no mercado europeu”, observou Daronco.

O BTG Pactual apontou para a necessidade de os investidores locais monitorarem a capacidade da Movida de atuar no mercado externo com as mesmas vantagens do mercado de locação de veículos observadas no Brasil, como o poder de barganha com os fabricantes e com a venda de veículos usados. O banco de investimento também menciona o interesse da Localiza (RENT3) em uma investida internacional.

“O tema da internacionalização também tem ganho tração na Localiza, sendo mencionado em recentes conversas com investidores. Dado o perfil de mercado consolidado no Brasil, os players locais podem buscar oportunidades adicionais de crescimento no exterior”, comentaram os analistas Lucas Marquiori e Fernanda Recchia, em relatório.

No fim da manhã desta quinta-feira (22), as ações da Movida registravam queda de 2,90%, cotadas a R$ 12,75. O papel da companhia acumula queda de 17% no ano, enquanto o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, tem valorização acumulada de quase 7% em 2022.

(Atualiza às 11h30 do dia 22/09 com comentários de analistas)

Leia mais

Copom mantém Selic em 13,75% e pausa ciclo de aperto iniciado em 2021