Fim do ciclo de alta de juros no Brasil? Leia opiniões de especialistas

Copom manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, interrompendo a sequência de alta do juro básico da economia, iniciada em março do ano passado

BC protagoniza uno de los ciclos de ajuste monetario más agresivos de la historia (Rodrigo de Oliveira)
21 de Setembro, 2022 | 08:01 PM

Bloomberg Línea — O Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, em decisão divulgada na noite desta quarta-feira (21). O movimento era esperado pela maioria dos economistas diante das últimas leituras de deflação no país. Confira algumas opiniões divulgadas pelos especialistas após o anúncio do Copom (Comitê de Política Monetária):

Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital

“Já vimos uma melhora nas expectativas de inflação de 2023 e entendemos que as expectativas de 2024, subindo no Focus, estão mais contaminadas por uma questão de prêmio de risco do que por inflação. A gente acredita que agora o remédio está dado, é uma questão de quanto tempo ele vai manter isso. Por quanto tempo os juros vão ficar lá em cima. Acreditamos que seguirão por pelo menos uns seis meses, ou seja, a gente vai ver provavelmente o primeiro corte de juro só em maio do ano que vem. Foi usada a expressão ‘suficientemente longo’ para manter. Então, na nossa opinião, vamos passar agora por um período de estabilidade. Vamos ter que analisar os dados. Vamos ter que ver a economia desacelerando. Vamos ter que vem inflação os núcleos de inflação também desacelerando para poder falar de algum corte”

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Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos

“O cenário é positivo para a frente com a queda recente dos índices de inflação. Entretanto, a demanda interna e o aquecimento do mercado de trabalho podem atenuar a desinflação. Por isso, Copom deixou as portas abertas, em seu comunicado, para uma nova elevação futuramente, a depender também das elevadas incertezas no Brasil e no exterior.”

“Diferentemente do que vinha sendo precificado nas últimas semanas, o mercado agora espera que a taxa básica volte a recuar apenas em maio de 2023. E que permaneça próximo de 12% ao ano até o início de 2024.″

Bruno Viotto, economista e sócio da Acqua Vero Investimentos

“De maneira geral os mercados oscilaram muito hoje com a decisão do Fomc e do Copom. A Selic veio de acordo com o esperado, ficou em 13,75% por conta da inflação que vem arrefecendo. Além disso, o fim do ciclo de alta da taxa de juros é uma sinalização positiva, principalmente, para o setor de varejo. Não dá para afirmar que teremos altas consistentes no setor, mas agora o cenário muda para o varejo que é muito afetado quando os juros estão alto. Por fim, o encerramento do ciclo altista de juros traz para a bolsa de valores uma certa atratividade para o investidor que quer alocar na renda variável.”

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Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura

“Em nossa visão, há dois grandes destaques na decisão: a frase em que o comitê deixa em aberto a possibilidade de voltar a ajustar a taxa de juros, se a desinflação não transcorrer como o esperado, e a dissidência de dois diretores, que optaram por uma alta de 0,25%. Apesar da decisão dentro do esperado, estes dois eventos nos levam a uma interpretação um pouco mais dura da decisão. Em nosso cenário, não antecipamos que o Copom volte a subir juros. Acreditamos que o sinal do texto é de evitar que o mercado precifique cortes prematuros na curva de juros e, com isso, ocorra um alívio nas condições financeiras atuais, frustrando os esforços recentes do comitê. Em nosso cenário, o Copom deve manter a Selic em 13,75% até o 2T23, pelo menos. Por fim, a decisão de hoje consolida a mudança na estratégia de política monetária do Copom, da postura de ‘subir os juros até a convergência da inflação à meta’ para a estratégia de ‘manter juros altos por período longo para garantir a convergência da inflação à meta.’”

João Beck, economista e sócio da BRA

“Tanto a decisão quanto o teor do comunicado foi o mais dentro do esperado de tantos outros no passado. Chegamos provavelmente a tão aguardada taxa terminal de juros no Brasil considerada cara e extremamente restritiva. Agora, começa outro debate que é o quanto tempo a economia precisará conviver com uma das maiores taxas de juros do mundo e o quanto isso impacta os cofres públicos e quanto precisaremos desacelerar a economia para vermos bons ventos à frente. A incerteza agora ronda sobre nossa capacidade de pagar a conta da desoneração e dos benefícios amplamente difundidos neste ano eleitoral.”

Felipe Miranda, CEO e estrategista-chefe da Empiricus

“A decisão marca o fim do ciclo de alta da Selic, o mercado estava bem dividido, entre uma expectativa predominante que apostava na manutenção de 13,75% e uma minoria que acreditava em um adicional de 0,25%. A manutenção pelos 13,75% veio exatamente com o que era esperado. Acreditamos que o início da queda dessa taxa deve acontecer somente no segundo semestre de 2023. Esses dados ressaltam a importância da finalização de ciclos, quando o mercado viu a possibilidade de não fechar um ciclo, isso fez preço. O fechamento de um ciclo é extremamente relevante para determinar os caminhos a serem seguidos. Falando de investimentos, eu gosto muito do pós-fixado, gosto do Tesouro Selic. Muitas vezes queremos sofisticar, fazer algo inovador, mas esse número de 13,75% é bastante alto, com liquidez diária, sem risco para o investidor. Também gosto muito do ‘pré meio da curva’, porque a inflação implícita está acima de 5%. Também é interessante um título de curva mais longa, o Tesouro IPCA, 2050.″

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.