Bloomberg — Investidores preparados para outro grande aumento nas taxas de juros por parte do Federal Reserve estão focando em algumas movimentações cruciais como trade: apostas em uma inversão mais aguda na curva dos juros dos Estados Unidos, mais perdas nas ações e um dólar mais forte.
As taxas de curto prazo do Tesouro superaram os rendimentos com vencimentos mais longos há meses, sendo um prenúncio de uma desaceleração econômica no horizonte. A pesquisa MLIV Pulse, que obteve 737 respostas do mercado, mostrou que a maioria espera uma inversão maior.
Alguns acreditam que seus níveis devem chegar aos vistos pela última vez no início dos anos 80, quando os custos dos empréstimos foram aumentados para controlar a hiperinflação.
Essa perspectiva ressalta o sentimento bearish do mercado em meio à preocupação de que o banco central arrisque sufocar ainda mais o crescimento em sua luta contra a inflação.
A maioria dos economistas consultados espera um terceiro aumento de 75 pontos base na taxa de juro nesta quarta-feira (21), com mais apertos pela frente. A maioria dos entrevistados da pesquisa MLIV afirma que é melhor apostar nos ganhos em dólares, e 44% preferem vender ações.
“A mensagem do Fed é que eles querem acabar com a demanda ao aumentar as taxas, portanto não é uma questão da possibilidade de uma recessão, mas sim do momento em que ela ocorrerá”, disse Subadra Rajappa, chefe de estratégia de taxas dos Estados Unidos no Société Générale. “E há grandes chances de passarmos por uma situação de ‘hard landing’ [freada abrupta da economia]”.
Os dados mais altos que o previsto de inflação ao consumidor em agosto aumentaram as expectativas sobre a agressividade do Fed para conter as pressões sobre os preços. Eles levaram traders a prever que o Fed vai elevar sua taxa de referência para cerca de 4,5% – a taxa atual é de 2,25% a 2,5%.
Aposta na inversão
É uma perspectiva que estabelece o cenário para que a curva de juros se inverta mais ainda. Os investidores podem fazer essa aposta vendendo títulos do Treasureis de curto prazo e, simultaneamente, comprando aqueles com vencimentos mais longos. Em geral, são os títulos mais longos que pagam juros mais altos, mas isso muda de figura quando o mercado acredita que uma recessão vai acontecer - e isso significa juros mais altos no curto prazo do que no longo.
Enquanto os entrevistados da pesquisa esperam que os juros aumentem amplamente, eles acreditam que as taxas de juros mais curtas – aquelas mais vinculadas à política do Fed – devem subir mais.
Esse é um padrão típico quando o Fed está retirando a política monetária do estágio denominado acomodatício, algo que já levou a diferença entre os rendimentos de 2 e 10 anos para menos 58 pontos base no mês passado, a mais invertida desde 1982.
Entre os 446 investidores que esperam uma inversão mais profunda, 62% acreditam que essa diferença entre as taxas vai entrar mais ainda em território negativo, ao passo que 38% projetam que ela não ultrapassará o mínimo do mês passado.
Essas medidas são de grande importância devido à sua trajetória: o spread entre as taxas dos títulos de três meses e os rendimentos de 10 anos se inverteu antes de cada uma das sete últimas recessões nos EUA.
“O mercado de títulos espera que o Fed aumente as taxas o suficiente para desencadear uma recessão”, disse Kathy Jones, estrategista chefe de renda fixa da Charles Schwab.
Bear market para ações
A perspectiva de uma recessão que esmaga os lucros, combinada com custos de empréstimos mais altos, proporcionou um resultado decisivo quando se trata de bolsa.
As ações estão saindo de outra semana dolorosa, refletindo a preocupação cada vez maior entre investidores de que a campanha agressiva do Fed para aumentar as taxas de juros irá frustrar o crescimento econômico. O índice S&P 500 (SPX) afundou 4,8% na última semana, enquanto o índice Nasdaq 100 (NDX), com muitas empresas de tecnologia, despencou 5,8%.
Dos entrevistados da pesquisa, 44% disseram que devem vender ações antes da reunião do Fed nesta quarta. Para ter certeza, a última queda nas ações levou alguns investidores a concluir que é hora de comprar: 28% dizem que devem comprar ações de valor antes da reunião do Fed, 16% dizem que devem comprar todas as ações, e 13%, que favorecem as ações de crescimento (growth stocks).
“Vai ser mais uma mensagem hawkish do Fed”, disse Michael Contopoulos, diretor de renda fixa da Richard Bernstein Advisors. “E o lugar em que você não quer estar se for um investidor de capital é aquele em que há uma desaceleração do crescimento dos ganhos e um aperto das condições monetárias, que é [o caminho] para o qual estamos indo”.
Rendimentos e o dólar
Um dos sinais mais fortes da pesquisa é que os entrevistados acreditam que haverá mais problemas à frente para os cerca de US$ 24 trilhões do mercado do Tesouro americano, que certamente terá sua perda anual mais acentuada desde, pelo menos, o início dos anos 70.
70% dos entrevistados disseram esperar que os rendimentos de 10 anos dos Treasuries estejam mais altos em um mês do que atualmente, em comparação com os 30% que esperam que eles caiam.
Essa referência para empréstimos globais mais do que dobrou este ano, chegando a mais de 3,4%, elevando os custos de empréstimo para todos, de empresas a compradores de casas.
Um dos maiores ganhadores dos rendimentos mais altos poderia ser o dólar, que subiu neste ano à medida que a campanha de aperto do Fed impulsionou os diferenciais das taxas de juros em favor do dólar.
“Isso mantém o lastro do dólar americano”, disse Charu Chanana, da Saxo Capital Markets, em entrevista à Bloomberg TV.
Entre os entrevistados da MLIV Pulse, 61% disseram que há mais espaço para ganhos do dólar, sinalizando que é melhor manter ou aumentar as posições compradas.
O índice Bloomberg Dollar Spot, que monitora a moeda em relação a uma cesta de 10 moedas líderes, estabeleceu um recorde de alta neste mês. A força do dólar se espalha por mercados financeiros globais, pressionando os parceiros comerciais dos EUA, incluindo Canadá e Japão.
O presidente do Fed, Jerome Powell, disse neste mês que as autoridades “precisam agir agora, de forma direta e sólida” para conter a inflação. Os entrevistados acreditam que isso provavelmente significa pouco desvio em relação às grandes tendências de investimento deste ano.
“O Fed está travando uma batalha de expectativas”, escreveu Joe Davis, economista chefe global do Vanguard Group, em uma nota de pesquisa. “É uma troca de impactos de políticas de taxas mais altas, mas eles preferem conter a inflação no ambiente atual, mesmo às custas do crescimento e do mercado de trabalho”.
- Com a colaboração de Felice Maranz.
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