Bloomberg — A valorização do dólar agora é o único hedge possível para o que sinaliza ser a maior destruição de valor para acionistas desde a crise financeira global.
Os mercados acionários globais já perderam US$ 23 trilhões neste ano e, com a relação inversa da moeda americana com ativos de risco, o dólar se mostra como a única alternativa, pelo menos até o fim de 2022, de acordo com o Citigroup. O Canadian Imperial Bank of Commerce acredita que o dólar vai seguir em alta, enquanto a Brown Brothers Harriman diz que o cenário global continua a favorecer a moeda americana.
“O único lugar para se esconder é no dólar americano”, escreveram estrategistas do Citi como Jamie Fahy e Adam Pickett, em nota na quinta-feira. Seria necessária uma “recessão profunda” para reduzir significativamente a inflação dos EUA, o que implicaria uma queda prolongada dos lucros e ações das empresas antes que o Federal Reserve reverta o aperto monetário, disseram.
O índice Bloomberg Dollar Spot, que rastreia a moeda americana em relação a 10 pares globais, acumula alta acima de 11% este ano e pode encerrar 2022 com o melhor desempenho anual já registrado, segundo dados compilados pela Bloomberg a partir de 2004.
Evidências do estrago causado pela valorização do dólar foram constatadas nos mercados de câmbio nesta semana. O dólar avançou na esteira dos números da inflação nos EUA acima do esperado na terça-feira, o que levou traders a mais uma vez elevarem as projeções de aumentos dos juros pelo Fed e reduziu o apetite por risco.
O iene, que já definhava na mínima de 24 anos, caiu para perto do nível-chave de 145 por dólar, enquanto o yuan se enfraqueceu e superou a marca de 7. O dólar canadense se desvalorizou para a menor cotação em quase dois anos, enquanto a moeda australiana está à beira do menor preço dos últimos anos.
Estrategistas dizem que é improvável que haja algum alívio do domínio do dólar por enquanto.
“A reprecificação dos riscos de aperto do Fed deve manter as ofertas por dólares no curto prazo”, escreveu em nota Win Thin, chefe de estratégia cambial da Brown Brothers Harriman, em Nova York. “Como dissemos durante a mais recente correção do dólar, nada mudou fundamentalmente, e o cenário global continua a favorecer o dólar e ativos dos EUA em geral.”
A CIBC concorda que é muito cedo para descartar a força do dólar.
“A taxa de juros real ainda é muito negativa, e as condições financeiras estão muito frouxas”, disse Bipan Rai, chefe de estratégia cambial da CIBC em Toronto.
O Citi prevê que o índice do dólar medido pela Intercontinental Exchange, que já está na máxima de duas décadas, subirá cerca de 2% nos próximos três meses.
“Temos destacado exaustivamente que o fim do rali do dólar exigirá um giro do Fed evidenciado por meio de uma inclinação altista na curva de juros dos EUA ou um piso das expectativas de crescimento global”, escreveram os estrategistas do Citi. “Esses podem ser temas para 2023, mas não para hoje.”
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