O que o alinhamento de Putin com a China significa para Ucrânia e Taiwan

Rússia pode ser um potencial parceiro estratégico para o abastecimento de alimentos e combustível para a segunda maior economia do mundo

Líderes tiveram primeira conversa presencial após início da guerra na Ucrânia nesta semana
Por Bloomberg News
16 de Setembro, 2022 | 11:59 AM

Bloomberg — Os comentários de Vladimir Putin sobre Taiwan podem acabar pesando para Xi Jinping, mesmo após o russo ter admitido que a guerra era uma preocupação para o presidente da China.

Durante suas primeiras conversas presenciais desde o início da guerra na Ucrânia nesta quinta-feira (15), Putin criticou o que chamou de “provocações dos Estados Unidos e seus satélites no Estreito de Taiwan”, ao mesmo tempo em que reiterou o apoio ao princípio de “uma só China” de Pequim.

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A declaração de Pequim sobre a conversa agradeceu a Moscou por sua posição sobre a ilha ao mesmo tempo em que afirmou que “nenhum país tem o direito de agir como juiz na questão de Taiwan”. A declaração não mencionou a Ucrânia, onde os militares russos sofreram derrotas humilhantes recentemente.

Apesar das dúvidas sobre qual o limite do apoio da China à invasão de Putin na Ucrânia, Pequim deixou claro que concorda com as críticas da Rússia sobre a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) por parte dos EUA, o que representa uma ameaça à segurança. A China acusou os EUA de tentar estabelecer uma versão indo-pacífico da aliança e considera que as recentes ações dos legisladores de Washington incentivam o separatismo em Taiwan.

As tensões em torno de Taiwan aumentaram depois que a porta-voz da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, visitou a ilha no início de agosto, quando Xi acabou ordenando exercícios militares sem precedentes do Exército de Libertação do Povo no Estreito de Taiwan.

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Pequim também alertou sobre mais revoltas se os legisladores americanos aprovarem a Taiwan Policy Act, ou a Lei de Política de Taiwan, que daria a Taipei US$ 4,5 bilhões para defesa durante quatro anos e possivelmente reconheceria a ilha como um grande aliado de fora da Otan.

“Em vez de buscar mais apoio da China sobre a guerra na Ucrânia, Putin prometeu mais apoio na questão de Taiwan”, disse Henry Wang Huiyao, fundador do Center for China & Globalization, um grupo de pesquisa política em Pequim. “Isso é algo novo para mim e mostra que Putin quer se aproximar da China, e não o contrário”.

Embora atualmente o foco esteja em como a China pode ajudar a Rússia em sua guerra contra a Ucrânia, no longo prazo, Pequim pode estar calculando o apoio que Moscou poderia oferecer em qualquer conflito com Taiwan.

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No caso de uma guerra, a Rússia pode ser fundamental para garantir o abastecimento de comida e combustível que pode ser afetado por sanções e movimentações militares dos EUA e de seus aliados.

A guerra da Ucrânia está dando a Pequim mais força para continuar comprando petróleo e gás de seu vizinho, o que poderia se traduzir em maior apoio militar da Rússia à China no longo prazo, segundo Alexander Gabuev, membro sênior do Carnegie Endowment of International Peace.

“A ajuda substancial será no fortalecimento do Exército – dissuasão nuclear e transferência de projetos de armas e de novos sistemas”, disse Gabuev. “Este é um apoio substancial para a política da China.“

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No caso de uma guerra por Taiwan, a China precisaria de um apoio estratégico estável enquanto enfrenta batalhas no mar, escreveu Zhao Huasheng, professor da Universidade Fudan de Xangai que pesquisa a Rússia, em artigo publicado no mês passado pelo Centro de Segurança e Estratégia Internacional da Universidade de Tsinghua.

As exportações de petróleo e gás da Rússia para a China, que serão realizadas por meio de oleodutos, poderiam contornar as sanções no caso de um embargo imposto pelo Ocidente, escreveu ele, acrescentando que o transporte marítimo se tornaria pouco confiável.

“No caso de uma grande crise internacional, a Rússia será a mais importante fonte externa de petróleo bruto que a China poderia pensar – se não a única”.

Excertos oficiais da reunião de Xi e Putin paralelamente à cúpula da Organização de Cooperação de Xangai no Uzbequistão mencionaram poucos detalhes concretos sobre uma possível colaboração energética, inclusive em gasodutos.

China, Rússia e Mongólia disseram separadamente que impulsionariam ativamente a construção de gasodutos entre a China e a Rússia na Mongólia, de acordo com a agência de notícias Xinhua.

Ainda é possível que as discussões tenham acontecido a portas fechadas. Gabuev notou a presença do vice-primeiro-ministro russo Alexander Novak no evento.

“Ele é o responsável pelo relacionamento energético com a China”, disse Gabuev, acrescentando que a Rússia tem um “incentivo massivo” para trabalhar em estreita colaboração com a China em matéria de energia, considerando os desafios que enfrenta na Europa devido às sanções impostas em resposta à guerra na Ucrânia.

O país asiático ultrapassou a União Europeia e se tornou o maior comprador de petróleo bruto russo neste verão, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Esse ritmo poderia continuar, já que a UE deve impor sanções de transporte e seguro no comércio de petróleo russo após 5 de dezembro.

“Para onde a Rússia vai”? disse Gabuev. “A China é seu principal destino.”

- Com a colaboração de Sarah Chen.

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