A nova tacada de Musk: Netflix e YouTube a 30 mil pés. E o Brasil nos planos

Homem mais rico do mundo acelera o plano do sistema de satélite Starlink para conexões de internet em voos, atingindo transmissão acima de 100 megabits por segundo

Jato de Elon Musk em teste com sistema de satélite Starlink, para permitir o acesso à internet em alta velocidade
Por Todd Shields
16 de Setembro, 2022 | 01:44 PM

Bloomberg — A SpaceX quer mostrar ao mundo que seu sistema de satélite Starlink pode fornecer Netflix e YouTube a 30 mil pés. Por isso, recentemente realizou uma demonstração para a mídia a bordo de um jato operado por sua primeira companhia aérea que é cliente, a transportadora regional JSX.

A curta viagem de Burbank a San Jose, no estado da Califórnia, marca o início da tentativa de Elon Musk de aproveitar os negócios em voo hoje dominados pelos provedores de satélite Intelsat e Viasat, que já atendem milhares de aeronaves.

Não será fácil, mesmo para um empreendedor disruptor de mercado em série como Musk.

Cerca de 10 mil aeronaves comerciais já possuem sistema wireless em voo, um número projetado para ultrapassar 36 mil aviões até 2031, de acordo com a NSR, uma pesquisadora da indústria de satélites e espaço de propriedade da Analysys Mason. Espera-se que a receita anual no mercado atinja mais de US$ 7,3 bilhões até 2031, ante US$ 1,9 bilhão em 2021, disse a NSR em e-mail.

PUBLICIDADE

No voo de teste da companhia aérea JSX, o sistema Starlink registrou consistentemente capacidades de transmissão superiores a 100 megabits por segundo, conforme medido pelo aplicativo Ookla, um serviço de teste. Havia cerca de uma dúzia de pessoas a bordo. Dispositivos adicionais a bordo aumentaram a demanda para o equivalente a 20 a 30 passageiros usando o sistema.

“Estou emocionado”, disse o CEO da JSX, Alex Wilcox, que estava a bordo do voo.

“Eles são um concorrente sério? Sim”, disse Jeff Sare, presidente de aviação comercial da Intelsat, fornecedora líder de serviços wireless para companhias aéreas. Ainda assim, Sare disse: “não acreditamos que haja alguém que possa nos vencer”.

A Starlink, parte da SpaceX - a Space Exploration Technologies de Musk -, fornece banda larga a partir de uma constelação de pequenos satélites a baixas altitudes. Satélites circundam o planeta em 90 a 120 minutos. Isso é uma mudança em relação à prática estabelecida de uso de naves espaciais poderosas em órbitas mais altas e mais lentas. Uma vantagem para o Starlink é que seus sinais chegam mais rapidamente.

Isso é uma vantagem para o negócio principal da empresa de servir banda larga principalmente para residências rurais em áreas escassamente povoadas. A Starlink lançou mais de 3.000 satélites e atende a mais de 400 mil assinantes, disse a empresa em documentos recentes.

A visita-relâmpago de Musk ao Brasil em maio teve como um dos objetivos justamente vender o serviço da Starlink ao governo brasileiro, de Jair Bolsonaro, para levar internet a cerca de 19 mil escolas e ajudar no monitoramento de áreas pouco acessíveis como a Amazônia.

Mas uma desvantagem da tecnologia de Musk é que os pequenos satélites têm menos capacidade e podem ter dificuldades para atender às necessidades de grandes aeronaves em céus lotados. Dezenas de aviões lotam centros de viagens, com cada avião transportando 100 ou mais passageiros conectados.

PUBLICIDADE

Desafios para a SpaceX e a Starlink

Como os satélites circulam pelo mundo, apenas alguns podem estar servindo uma área como Atlanta e seu movimentado aeroporto, levantando questões de capacidade, disse a B. Riley Financial em nota no ano passado. A SpaceX, uma das prioridades de negócios do homem mais rico do mundo e fundador da Tesla (TSLA), disse que as projeções subestimam a rapidez com que o sistema está evoluindo.

Os reguladores dos EUA citaram recentemente a “tecnologia ainda em desenvolvimento” da Starlink quando recusaram o serviço por um subsídio governamental de US$ 866 milhões.

A Starlink diz que pode atender aeronaves de todos os tamanhos e cita um acordo com a controladora da Hawaiian Airlines para atender grandes aviões tanto da Airbus como da Boeing. Quanto ao subsídio, a empresa disse que foi injustamente rejeitada pelas autoridades que julgaram as velocidades de dados atuais em vez do serviço mais rápido previsto quando a rede celestial for construída.

“Você tem que fazer funcionar e tem que ser barato”, disse Chris Quilty, sócio da Quilty Analytics, consultor da indústria espacial e de satélites. “É um mercado muito complexo. E as companhias aéreas têm sido historicamente extremamente cautelosas.”

Os executivos da Starlink sabem que têm muito trabalho para eles. “Há muitos desafios para chegar aonde queremos”, disse Jonathan Hofeller, vice-presidente de vendas comerciais da Starlink. “Levará tempo para que as pessoas adotem a mentalidade que a JSX e a Starlink possuem.”

Os acordos da empresa com a JSX e a Hawaiian, anunciados em abril, vieram depois que a SpaceX tentou lançar a Starlink para quatro das maiores companhias aéreas dos Estados Unidos, sem sucesso, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

“Este é um pé na porta para a Starlink”, disse o analista de telecomunicações Roger Entner. “Esta é a prova de conceito. Uma vez que funcione no JSX, funcionará em qualquer lugar.”

Parte da atração do JSX era a antena plana da Starlink, não muito maior do que uma grande caixa de pizza. É menos volumoso do que as antenas parabólicas giratórias amplamente utilizadas por outros serviços de satélite e, por essa razão, se encaixa nos corpos dos jatos regionais menores da Embraer (EMBR3) com que a JSX voa.

A antena “é definitivamente uma vantagem em termos de ganhar contratos de conectividade em voo para aeronaves regionais”, disse Louie DiPalma, analista da William Blair. A empresa faz negócios com a Viasat.

Nos próximos anos, as companhias aéreas podem acabar atualizando mais de 1.000 aeronaves em frotas regionais para substituição de sistemas lentos de internet legados, e a Starlink é “um concorrente líder” para ganhar esses contratos, disse DiPalma.

A Intelsat diz que continua sendo a maior fornecedora de serviços em voo, com cerca de 2.000 aeronaves conectadas por seus satélites e cerca de 1.000 aeronaves conectadas por sistemas ar-terra que se comunicam com equipamentos terrestres. A Viasat diz que seu sistema de voo atende cerca de 1.930 aeronaves, com acordos para equipar outros 1.210 aviões.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Exclusivo: CEOs das teles, alunos tech e coca zero. Os bastidores de Musk no Brasil

Musk vs. Twitter: fundos de Wall Street fazem apostas para a batalha jurídica