Bloomberg — O mercado de minério de ferro se estabilizou com os impactos dos bloqueios da Covid-19 na China e dos problemas imobiliários já precificados, de acordo com um dos principais produtores do ingrediente siderúrgico.
“A boa notícia é que daqui para frente só pode melhorar”, disse Luciano Siani, vice-presidente executivo de estratégia e transformação de negócios da Vale (VALE3), a segunda maior produtora de minério de ferro do mundo.
Ao contrário de outros períodos de desaceleração da demanda chinesa, quando os preços despencaram, a cotação do minério de ferro deve se manter perto do nível atual de US$ 95 a US$ 100 por tonelada métrica, já que as mineradoras estão tendo dificuldades para expandir capacidade rapidamente e abastecer os mercados, disse ele em entrevista.
“No curto prazo não há minério disponível”, disse Siani.
A indústria de minério de ferro está enfrentando ventos contrários depois de desfrutar de um período de prosperidade no primeiro semestre de 2021. As margens de lucro antes infladas por um boom de commodities agora estão sendo espremidas à medida que os preços em queda colidem com os temores de inflação e recessão. A demanda da China abrandou à medida que restrições de mobilidade causadas pela Covid-19 e uma crise imobiliária ameaçam minar o pico da temporada de construção do país. Os futuros de minério de ferro caíram 40% em relação ao pico de março.
A China continuará sendo um importante comprador de metais, embora a transição global de combustíveis fósseis para fontes de energia mais limpas deva se tornar a principal força motriz das decisões de negócios na indústria de mineração nos próximos 20 anos, disse Siani. Essa mudança levará as siderúrgicas chinesas cada vez mais a demandarem um minério com maior teor de ferro, crucial para cortar emissões na fabricação do aço. Em meio à desaceleração econômica chinesa, a Vale visa preservar sua participação de mercado tornando-se um dos principais fornecedores de produtos de minério de alta qualidade, que hoje alcançam um prêmio de cerca de US$ 85 a tonelada para variedades de baixo teor.
A Vale vem buscando parcerias com siderúrgicas para enfrentar o desafio de encontrar formas mais limpas de processar minério. Seus esforços incluem o desenvolvimento dos chamados briquetes verdes que, segundo a empresa, podem reduzir as emissões de gases de efeito estufa durante a produção de aço em até 10%. A empresa planeja ter hubs para fabricar produtos de alta qualidade em regiões com baixo custo de energia, incluindo Oriente Médio e Estados Unidos, nas próximas duas décadas, disse Siani.
A mineradora sediada no Rio de Janeiro também tem ambições de se tornar um player maior nos metais básicos que sustentam a transição energética, indo além de seu foco em níquel e cobre, disse Siani. A Vale quer expandir sua atuação em metais essenciais necessários para veículos elétricos e indústria de energia renovável, e consideraria aquisições.
Um metal considerado menos atraente para a Vale no momento é o lítio, devido às crescentes avaliações para mineradores do mineral crucial para baterias de veículos elétricos.
“O lítio é um mercado interessante, com sinergia com nossos negócios, mas eu diria que no momento as avaliações das empresas passaram do ponto em que seria atrativo fazer um movimento”, disse Siani.
A companhia brasileira está procurando um parceiro para construir uma operação de sulfato de níquel no Canadá e também conversando com empresas de reciclagem de baterias para ampliar a exposição à cadeia de suprimentos de veículos elétricos.
A Vale deu aos investidores uma visão de um pipeline de projetos de metais básicos durante uma apresentação recente no Canadá, onde opera grandes operações de mineração de níquel em Sudbury, Ontário e Voisey’s Bay em Labrador. A mineradora também pretende crescer em cobre, devido à escassez do metal usado na fiação.
“Haverá um déficit importante”, disse ele. “Se uma empresa tiver um projeto de cobre licenciado e pronto para ser implantado, nenhum investidor dirá ‘não faça’.”
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