Para a BlackRock, o maior risco para os ativos no Brasil não é a eleição

Axel Christensen, estrategista-chefe de investimentos para América Latina, afirma que outros fatores devem ter mais peso para o desempenho no país

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Bloomberg Línea — O cenário atual tem sido desafiador para os investimentos no Brasil e no mundo, com alta dos juros e da inflação, e isso em meio à proximidade das eleições presidenciais. Mas não são esses fatores que têm mantido os estrategistas da BlackRock acordados à noite. A maior preocupação é, na realidade, o baixo crescimento econômico estrutural do país, que tende a afetar os retornos no médio e longo prazo.

“Estamos preocupados com o fato de que muitas das decisões que precisam ser feitas para driblar esse baixo crescimento [no Brasil] não estão sendo tomadas. Muitas delas são difíceis, mas vemos que outras regiões têm conseguido manter a expansão da atividade - não só entre os emergentes, como também nos Estados Unidos”, afirmou Axel Christensen, estrategista-chefe de investimentos para América Latina, durante conversa com jornalistas nesta segunda-feira (12).

Segundo ele, com os investidores globais escolhendo onde vão direcionar seus recursos, o maior desafio – e não apenas no Brasil, mas também no México –, é como o país vai aumentar os níveis de crescimento.

“Há diversas oportunidades, mas estamos preocupados se vamos conseguir tirar proveito delas”, disse Christensen, referindo-se às oportunidades de investimento relacionadas ao combate às mudanças climáticas, por exemplo.

Em entrevista com jornalistas na sede da BlackRock em São Paulo, Christensen compartilhou sua visão construtiva para os mercados emergentes no curto prazo, como o Brasil.

Segundo ele, há oportunidades no Brasil e em demais países da América Latina pelo fato de os bancos centrais da região terem se adiantado ao movimento de aperto monetário, bem como pelo conhecimento de investidores e da população com o histórico de alta inflação, algo que não era visto nem nos EUA nem na Europa.

Apesar desse maior otimismo no curto prazo, Christensen destacou a importância de se manter a cautela, dado o cenário ainda complexo para investimento, com guerra da Rússia na Ucrânia, tensão entre EUA e China, pandemia de covid, entre outros.

Segundo ele, não é momento de fazer movimentos drásticos no portfólio, dado que a maioria desses eventos geopolíticos atuais são, no fim do dia, “transitórios” em relação ao objetivo final.

Com visão de longo prazo, Christensen reforçou a exposição a teses que tendem a performar bem independentemente do cenário macro, as chamadas macrotendências. Entre elas estão investimentos em empresas com negócios relacionados à energia verde, como lítio e cobre, além de cibersegurança e inteligência artificial (IA).

Quando questionado sobre a eleição no Brasil, o executivo disse que não alterou posições no portfólio, uma vez que o país “faz parte de um portfólio global muito diversificado”.

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