Bloomberg — A tentativa do Federal Reserve, o banco central americano, de obter uma leitura clara da inflação pós-pandemia focou a atenção em indicadores que elevam os custos de moradia nos Estados Unidos. Por isso, o que acontece com a inflação dos aluguéis influenciará em grande parte o futuro da política monetária.
A boa notícia é que o custo dos aluguéis pode estar perto de atingir um pico, depois de avançar quase 6% nos 12 meses até julho. A má notícia é que vai demorar um pouco para voltar aos níveis pré-coronavírus.
E isso significa que as autoridades do Fed manterão os juros altos por algum tempo.
“Se você for o Fed e estiver tentando baixar a inflação, tem que martelar um pouco o mercado de trabalho, no sentido de que é isso que vai ajudar a empurrar a inflação das moradias para baixo”, disse Omair Sharif, presidente da Inflation Insights em Pasadena, Califórnia. A maioria dos outros preços, ao mesmo tempo, está “fora do controle (do Fed)”, avalia.
O relatório do Departamento de Trabalho com os preços ao consumidor a ser divulgado nesta terça-feira deve mostrar que o chamado núcleo da inflação, um indicador acompanhado de perto que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, subiu 0,3% em agosto, após aumento semelhante em julho.
Embora o resultado possa marcar uma desaceleração nos últimos 12 meses, ainda seria elevado em comparação com os anos anteriores à pandemia. Tampouco é provável que faça o Fed desistir de aplicar uma terceira elevação consecutiva de 0,75 ponto percentual quando se reunir entre os dias 20 e 21 de setembro.
“Espero ver aumentos consideráveis neste componente da inflação por um tempo, à medida que a recente alta dos novos aluguéis entre nos indicadores de preços agregados”, disse na sexta-feira o governador do Fed, Chris Waller. “Porém, em algum momento no início do próximo ano, espero ver a pressão ascendente dessas forças sobre a inflação diminuir.”
Grande peso
Os aluguéis sempre foram importantes para indicadores de inflação, devido ao forte peso na maioria dos orçamentos familiares: esses custos respondem por pouco mais de 30% do índice de preços ao consumidor e cerca de 40% do núcleo.
Mas, durante a pandemia, com o avanço da inflação, outros componentes de menor peso – como veículos usados – registraram valorização dos preços sem precedentes e também se tornaram os principais fatores de alta desses indicadores.
Domínio do aluguel
Mas, em última análise, esses componentes também acabam sendo dominados pelo aluguel. Em parte, porque esse item é muito maior do que qualquer outro componente. Mas também porque o custo de moradia tende a ser um dos componentes mais persistentes e menos voláteis, o que significa que raramente – ou nunca – acaba sendo filtrado.
Para analistas, isso destaca a importância de compreender os fatores que impulsionam a provável trajetória da inflação dos aluguéis.
O custo de moradia está alto agora em parte devido à economia forte: historicamente, aluguéis e salários estão intimamente correlacionados, e o salário médio por hora tem aumentado de forma sólida.
Nesse contexto, qual o rumo dos aluguéis? O CPI tende a mostrar atraso em relação aos indicadores de inflação do setor privado sobre novos contratos de aluguel, porque a maioria dos inquilinos não muda de um ano para o outro. Assim, há certa visibilidade para as previsões.
Depois de subirem em 2021, modelos que usam dados sobre a inflação de novos aluguéis calculados por empresas como Zillow e Apartment List atingiram uma máxima este ano e agora mostram desaceleração, disse Alan Detmeister, economista do UBS Securities, em Nova York.
O índice de preços ao consumidor que acompanha a inflação dos aluguéis deve seguir essa tendência, embora com longa defasagem. Detmeister vê a inflação dos aluguéis acima de 7% no início do próximo ano – e até o fim de 2024 permanecerá elevada, em cerca de 4,5%, acima do nível pré-pandemia.
Leia também