Bloomberg — A sinalização dada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o governo poderia recorrer a um decreto de calamidade para assegurar o pagamento de um Auxílio Brasil turbinado em 2023 preocupou integrantes da equipe econômica.
Eles avaliam que o chefe fez uma jogada de campanha que pode acabar se virando contra o governo caso o presidente Jair Bolsonaro se reeleja. Todo o trabalho que está sendo feito nos bastidores da Economia envolve buscar uma alternativa sustentável para as contas públicas a partir do ano que vem, e não um decreto de calamidade, afirmam os técnicos.
Já será preciso mexer na regra do teto com uma emenda constitucional, seja transformando a dívida pública em um referencial para as despesas ou desindexando gastos para criar espaço fiscal. Este, avaliam, deveria ser o caminho.
Interrogatório
O secretário especial de Tesouro e Orçamento, Esteves Colnago, está sendo preparado para um verdadeiro interrogatório quando for discutir o projeto de lei orçamentária de 2023 no Congresso. A equipe econômica sabe das fragilidades da proposta, mas considera que tem argumentos para rebater eventuais críticas.
Uma delas, por exemplo, é que a inflação usada para corrigir o teto de gastos na proposta, de 7,2%, foi mais alta do que a que efetivamente irá corrigir o limite de despesas -- o boletim Focus já projeta o IPCA de 2022 em 7,11%. Isso, na prática, fará com que a margem para o aumento de despesas, de quase R$ 120 bilhões, seja menor.
Um argumento em defesa do governo seria que uma inflação mais baixa também faz com que as despesas indexadas, como benefícios previdenciários, sejam menores. Dos quase R$ 120 bilhões de margem no teto, R$ 71 bilhões serão ocupados com a Previdência.
A estratégia de Ciro
Lideranças do PT têm demonstrado preocupação com a estratégia de Ciro Gomes de aumentar os ataques contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o partido na campanha eleitoral.
A leitura é que Ciro está tratando as coisas de forma tão polarizada que afasta o PDT do campo de esquerda que tradicionalmente se alia a Lula em um eventual segundo turno. Eleitores de Ciro ficariam tão insuflados contra Lula que poderiam até mesmo se voltar para Bolsonaro.
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