São Paulo — O Brasil é uma das principais apostas de uma das maiores farmacêuticas do mundo, que acaba de protagonizar o maior IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês) da Europa em mais de uma década: a Haleon, empresa de bens de consumo de saúde a partir de um spin-off da gigante britânica GSK.
“Os nossos planos na América Latina têm como base a combinação de escala, medicações premium com preços acessíveis, a criação de uma narrativa sobre os benefícios e o aumento nas vendas”, disse o gerente geral da Haleon na América Latina, David Linsenmeier, à Bloomberg Línea.
É uma tese que tem o Brasil como o principal mercado na região, com algumas das marcas mais conhecidas em bens de consumo de saúde. O produto mais vendido da Haleon no país é um exemplo dessa estratégia. “O Eno é uma marca líder, mas disponível em um formato muito econômico. Isso o torna acessível à maioria da população brasileira”, afirmou Linsenmeier.
“É tudo sobre contar a história da maneira certa para os consumidores certos, nos momentos em que eles estão engajados. E temos muitas marcas com heranças históricas e credenciais científicas muito fortes, mas a maneira como damos vida a essas marcas e contamos a história em torno delas é uma peça-chave da estratégia - e a nossa vantagem competitiva”, disse.
Outras marcas conhecidas da Haleon, que nasceu também de uma joint venture com a Pfizer e de ativos comprados da Novartis, são o Sensodyne, o Panadol e o Advil.
Segundo Linsenmeier, o foco na América Latina se dá pelo aumento da demanda de remédios durante a pandemia da covid-19 e também pelo tamanho do mercado. A empresa não abre números sobre a operação.
“A reorganização como empresa independente permite aumentar os recursos e a autonomia na unidade de negócios, com as fábricas no Brasil, e também impulsionar a inovação na América Latina. Isso nos aproxima de nossos consumidores e também tem o potencial de nos trazer essa inovação ao mercado mais rápido do que costumávamos”, disse o executivo da Haleon.
Desafios na bolsa
O spin-off foi um dos eventos mais aguardados em anos por investidores, em especial na Europa. No dia da oferta, em 18 de julho, as ações da Haleon caíram 6,6%, mas, ainda assim, a empresa tinha um valor de mercado de cerca de 30 bilhões de libras - na ocasião, cerca de US$ 36 bilhões. Até a última sexta-feira (9), os papéis acumulavam queda de 15% desde a abertura de capital.
“Temos, atualmente, uma dinâmica complicada, com a inflação, a crise dos commodities e a guerra da Rússia e da Ucrânia, além da covid-19. É um momento bastante incomum no mercado. Minha perspectiva, e a conversa que tenho com minha equipe de liderança sobre o preço das ações, é que não estamos preocupados com isso, pois o foco é o longo prazo”, disse Linsenmeier. “O que precisamos fazer para melhorar a situação é entregar os resultados que prometemos.”
Os planos da Haleon são ambiciosos, com expectativa de crescimento de receita orgânica anual de médio prazo de 4% a 6% - para o mercado de saúde, a previsão é de um aumento de 3% a 4%.
Produtos com direcionamento
O gerente-geral da Haleon para a região afirmou que as pessoas serão capazes de separar a GSK e a Haleon “porque cada uma de nossas marcas tem sua estratégia”. “É realmente sobre o foco de que somos a única empresa em nossa escala 100% focada na saúde do consumidor e na saúde cotidiana dos consumidores. Isso significa que estamos 100% focados na produção de medicamentos para os clientes, e não em abrir nosso leque para vacinas ou alimentos”, disse.
Outro exemplo, para ele, é a marca de pastas de dente Sensodyne. “Também não estamos vendendo algo que todo mundo está vendendo. Sim, existem muitas outras empresas de pasta de dente, mas a nossa é, na verdade, a única focada especificamente em dentes sensíveis”, afirmou.
“Nosso produto, hoje em dia, tem uma participação de mercado menor do que a quantidade de pessoas com problemas dentários e que precisam de algo específico para elas.”
“Dependendo do país na América Latina, de 40 a 50% da população tem algum nível de sensibilidade dentária, o que significa que, quando comem ou bebem certos alimentos, podem experimentar uma sensação muito desconfortável — e é aí que podemos ganhar novos clientes”, explicou.
- Com a Bloomberg News
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