Bloomberg Línea — Morreu nesta quinta-feira, 8 de setembro, a rainha Elizabeth II, do Reino Unido. Elizabeth tinha 96 anos e faleceu nesta tarde, informou o Palácio de Buckingham.
Elizabeth II se tornou rainha em 1952, há 70 anos e quatro meses, o que faz do seu reinado o período mais longo de um monarca no Reino Unido em toda a história britânica. E o segundo mais longo de todas as monarquias, atrás apenas dos 72 anos e 110 dias do Rei Luís XIV da França nos séculos XVII e XVIII. Ele, no entanto, foi coroado rei com apenas quatro anos de idade e só passou a comandar perto dos 20.
A rainha morreu pacificamente em Balmoral nesta tarde. O rei e a rainha consorte permanecerão em Balmoral esta noite e retornarão a Londres amanhã.
O marido de Elizabeth II, o príncipe Philip, faleceu no ano passado, aos 99 anos.
O próximo na linha de sucessão é Charles, duque de Edimburgo, primeiro filho da rainha, de 73 anos. Ele é casado com Camila, duquesa da Cornualha. Elizabeth II deixa quatro filhos e oito netos, incluindo William e Harry, filhos de Charles e da princesa Diana.
Antes de completar sete décadas no trono, Elizabeth II ultrapassou o recorde anterior estabelecido por sua tataravó, a rainha Victoria, que teve um reinado de de 63 anos e 216 dias. Os 70 anos de Elizabeth foram marcados por uma série de acontecimentos em comemoração ao Jubileu de Platina, em fevereiro passado. Desde que a rainha assumiu o posto de chefe da monarquia, o Brasil, por exemplo, teve 18 presidentes, passou por uma ditadura militar, pela redemocratização e pelo período democrático.
Até este ano, a aprovação de Elizabeth II pelos britânicos continuava alta. Segundo o instituto de pesquisas YouGov, 81% dos britânicos tinham uma opinião favorável em relação à rainha.
O reinado de Elizabeth II
Elizabeth se tornou rainha do Reino Unido em 1952, após a morte de seu pai, o rei George VI. Ela estava a dois meses de seu aniversário de 26 anos. À época, ela visitou os sete países que integravam a Commonwealth: além do Reino Unido, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Paquistão e Ceilão (conhecido hoje como Sri Lanka).
Sua coroação, entretanto, aconteceu somente no meio de 1953. Em 1947, Elizabeth havia dito: “Declaro diante de todos vocês que toda a minha vida, seja longa ou curta, será dedicada ao seu serviço”.
Em seus primeiros anos como monarca do Reino Unido, sua principal tarefa, segundo estudiosos, foi a de se estabelecer no papel, inclusive ao tornar-se mais próxima do então primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, o primeiro de uma lista de mais de 13 nomes que passaram pelo cargo durante seu reinado.
Elizabeth II foi responsável, ainda de acordo com estudiosos, pela “modernização” da monarquia britânica, quando, em 1957, televisionou sua mensagem de Natal para o país pela primeira vez na história. Desde então, seu depoimento natalino se tornou uma tradição na realeza.
“Não posso conduzi-los à batalha, não lhe dou leis nem administro a justiça, mas posso fazer outra coisa, posso dar-lhe meu coração e minha devoção a essas velhas ilhas e a todos os povos de nossa irmandade de nações”, afirmou a rainha durante sua primeira transmissão.
Pouco mais de dez anos depois de ter assumido a coroa, Elizabeth II visitou a Alemanha Ocidental, dividida pelo muro de Berlim. A parte do país visitada pela rainha era alinhada ao Ocidente, ou seja, a parte capitalista, enquanto a Alemanha Oriental era comunista. Desde 1913 um monarca britânico não visitava a Alemanha, uma vez que ambos os países foram inimigos tanto na Primeira quanto na Segunda Guerra Mundial.
Em 1969, Elizabeth II parabenizou os astronautas norte-americanos que pisaram na lua com a operação Apollo 11. A mensagem enviada pela rainha foi filmada e enviada ao satélite terrestre em um contêiner de metal. Mais tarde, a monarca recebeu os astronautas em território britânico.
Antes de comemorar duas décadas no trono, em 1970, a rainha deu início a uma prática que, mais tarde, também se tornaria tradição em seu reinado: a de caminhar com os plebeus. Naquele ano, Elizabeth II caminhou entre a população britânica, quebrando o protocolo da monarquia que estabelecia uma certa distância com o povo.
Em 1977, Elizabeth II comemorou 25 anos no trono, em um marco chamado de “jubileu de prata”. Até 2022, a rainha também realizou o jubileu de rubi (40 anos), de ouro (50 anos), diamante (60 anos), safira (65 anos) e de platina (70 anos).
Em 1981, o herdeiro da rainha, o príncipe Charles, se casou com a princesa Diana, em um casamento que durou quase 15 anos e que, até hoje, é considerada uma das uniões mais populares da história.
Um ano depois do casamento de seu filho, Elizabeth recebeu o papa João Paulo II no Reino Unido — a primeira vez em 450 anos que a maior figura da igreja católica colocava os pés no país.
O ano de 1992, quando Charles e Diana anunciaram sua separação, foi chamado de “annus horriblis” em um discurso realizado pela própria Elizabeth II. Isso porque, além desse casal, o príncipe Andrew (também filho de Elizabeth) e sua esposa, Sarah Ferguson, também se separaram, enquanto sua outra filha, a princesa Anne e seu marido, Mark Phillips, se divorciaram. Foi também nesse mesmo ano que o castelo de Windsor pegou fogo, passando por problemas extensos.
O fim da década de 90 e o começo dos anos 2000 foi marcado por tragédias e mortes para a família real. Em 1997, a ex-nora de Elizabeth, Diana, faleceu em um acidente de trânsito ao lado de seu namorado. Já em 2002 morreram a mãe e a irmã de Elizabeth, com 101 e 71 anos, respectivamente. No mesmo ano, a rainha comemorou seus 50 anos no trono.
Mesmo assim, os anos 2000 foram considerados mais tranquilos, com a maioria do público aprovando o casamento de Charles com Camilla Parker-Bowles. Os dois se casaram em 2005. Neste ano, Elizabeth afirmou que Camila se tornará a rainha-consorte quando o seu filho assumir o trono.
Em 2013, nasceu o bisneto da rainha, George, filho do príncipe William e de Catherine, duquesa de Cambridge — a criança de nove anos é, atualmente, o terceiro na linha de sucessão ao trono, sendo esperado que ele se torne rei após seu avô e seu pai. Também naquele ano, Elizabeth consentiu a um projeto de lei que permitia o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Há quatro anos, o príncipe Harry, também filho de Charles, se casou com a atriz norte-americana Meghan Markle, já divorciada e birracial. Em 2020, ambos deixaram o reino britânico para criar seus filhos nos Estados Unidos.
Também em 2020, Elizabeth viveu ainda outro momento histórico: a pandemia da covid-19. Logo no começo dos bloqueios realizados por conta do vírus, a rainha fez uma transmissão televisionada filmada no Castelo de Windsor, para agradecer aos trabalhadores essenciais que, segundo a monarca, “continuaram prestando serviços essenciais durante o surto de coronavírus”. Na ocasião, ela também elogiou quem estava “ficando em casa para evitar a propagação do vírus”.
No ano passado, em 9 de abril, o marido de Elizabeth, o príncipe Philip, morreu, aos 99 anos, sendo a sua idade avançada apontada como a sua causa de morte. O testamento do marido da rainha ficará trancado a sete chaves por pelo menos 90 anos para “proteger a dignidade de Elizabeth”, segundo a justiça britânica.
Em fevereiro de 2022, Elizabeth comemorou seus 70 anos no trono, se tornando a primeira monarca britânica a celebrar o jubileu de platina. “Ao comemorarmos este aniversário, tenho o prazer de renovar a você a promessa que fiz em 1947 de que minha vida será sempre dedicada ao seu serviço”, disse ela.
O que acontece após a morte da rainha Elizabeth II?
Como acontece sempre que um membro da Família Real morre, existem um protocolo pré-determinado e seguido à risca para o que acontece na sequência. Cada membro tem seu próprio codinome; no caso da rainha, o codinome é “Operação London Bridge”.
No ano passado, vazaram novas informações sobre a operação, sugerindo que o dia da morte da rainha seria conhecido como “Dia D”.
Com a morte de Elizabeth, quem assume é Charles, o próximo na linha de sucessão. Ele será o responsável pelo primeiro discurso após a morte da mãe. Já a primeira-ministra Liz Truss, que assumiu o cargo na segunda-feira (5), será a primeira funcionária do governo a divulgar uma declaração oficial.
Se ele optar por manter seu próprio nome (a realeza pode escolher outro ao ascender ao trono), o príncipe Charles será conhecido como rei Charles III. Acredita-se que o príncipe William, o duque de Cambridge, se tornará o príncipe de Gales.
O papel da monarquia no Reino Unido
A monarquia britânica, conhecida como monarquia constitucional, significa que, embora o soberano seja o chefe de Estado, a capacidade de fazer e aprovar leis cabe a um parlamento eleito.
De acordo com o site da família real, “como chefe de Estado, o monarca assume deveres constitucionais e representativos que se desenvolveram ao longo de mil anos de história”. “Além desses deveres do Estado, o monarca tem um papel menos formal como ‘chefe da nação’. O soberano atua como foco de identidade nacional, unidade e orgulho; dá uma sensação de estabilidade e continuidade; reconhece oficialmente o sucesso e a excelência; e apoia o ideal do serviço voluntário”, continua o artigo.
Ou seja: apesar de ocupar o cargo de chefe de Estado, o poder do monarca é mais simbólico e cerimonial do que prático.
O rei ou rainha também pode ir contra o primeiro-ministro, mas isso acontece somente em emergências. Atualmente, Liz Truss, a 15ª pessoa a ocupar o cargo desde o início do reinado de Elizabeth, é a primeira-ministra do país.
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