Como o Nubank planeja elevar a receita por cliente e reduzir o custo de funding

Após 2 meses de testes, banco digital estende para a base de 62 milhões de clientes no Brasil novas ferramentas de investimento e de remuneração de depósitos

Sede do Nubank em São Paulo: banco digital adota novas ferramentas para aumentar receitas por cliente
08 de Setembro, 2022 | 09:00 AM

Bloomberg Línea — Um dos principais desafios do Nubank (NU) é reduzir o custo de funding de sua operação, que representa uma diferença importante na competitividade em relação aos grandes bancos. Um passo nessa direção será adotado nesta quinta-feira (8), com a extensão para toda a sua base de mais de 62 milhões de clientes no Brasil de uma ferramenta para potencializar os investimentos e a manutenção de recursos em contas por períodos mais prolongados, ao mesmo tempo em que diminui os custos.

O banco digital fundado por David Vélez, Cristina Junqueira e Edward Wible chama a nova solução de Caixinhas: é um recurso que pretende facilitar a organização financeira dos clientes e estimular o hábito de guardar dinheiro de acordo com objetivos e prazos personalizados.

“Esperamos que [as Caixinhas] possam otimizar nossa franquia de depósitos, promover o cross-sell e o upsell na nossa plataforma de investimentos e mitigar atritos potenciais. Essas mudanças combinadas podem contribuir para uma redução progressiva do nosso custo de financiamento ao longo do tempo”, disse Guilherme Lago, CFO do Nubank, na teleconferência de resultados do segundo trimestre, em agosto.

Os depósitos em moeda local são utilizados para financiar a maior parte das operações do banco digital - daí a importância de reduzir o custo. O Nubank encerrou o segundo trimestre com aumento de 87% nos depósitos (neutro de efeitos cambiais).

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A solução das Caixinhas foi colocada em fase de teste para uma “pequena parcela” da base de clientes no dia 25 de julho, depois ampliada gradualmente. Mais de 500 mil Caixinhas já foram criadas, segundo o banco.

Junto com a novidade, o Nubank alterou a forma de remuneração de novos depósitos em suas contas, que passaram a render o equivalente a 100% do CDI (taxa de referência que acompanha de perto a Selic) apenas depois de 30 dias, e daí de forma retroativa, de forma a estimular a permanência.

A partir do 31° dia, o rendimento passa a ser diário. Recursos sacados antes do 30° dia perdem o direito à rentabilidade.

“Otimizar os custos de funding é essencial para o Nubank na medida em que o banco busca competir com bancos maiores em carteiras de crédito menos arriscadas”, apontou Pedro Leduc, analista do Itaú BBA, em relatório em meados de julho por ocasião do anúncio das mudanças do banco digital.

“Nós estimamos um potencial acréscimo de cerca de 15% no lucro líquido em cima do nosso cenário-base para 2026 se as mudanças forem bem-sucedidas”, disse o analista, destacando a capacidade do banco de testar a aderência dos clientes às novas ferramentas diante do seu tamanho acima da média do setor.

Nesse mesmo cenário de sucesso na adoção das mudanças, os custos de funding cairiam cerca de 40% em 2026. Segundo estimativas do banco de investimento, de 40% a 50% dos depósitos de clientes no Nubank são resgatados antes de completarem 30 dias, o que dá a dimensão da economia na medida em que não precisará mais remunerar esses recursos como fazia até então.

Há duas alternativas para investimento por meio das Caixinhas na primeira fase da solução, segundo o banco digital: em RDBs (Recibos de Depósitos Bancários), com liquidez diária e rendimento equivalente a 100% do CDI; e fundos de renda fixa com estratégia para superar os 100% do CDI.

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Como destacou Lago, CFO do Nubank, as novas soluções também tendem a promover o cross-sell (venda cruzada de produtos) e o upsell (venda de produtos mais caros) do banco, referindo-se a uma das principais ações estratégicas em execução: o aumento da receita média por cliente ativo (ARPAC, na sigla em inglês). Ao incentivar hábitos de poupança e de investimentos, o banco potencializa essa frente.

O Nubank disse que pesquisas com sua própria base de clientes endossaram o lançamento. Uma delas, com 11.600 clientes no primeiro trimestre, revelou que uma em cada duas pessoas disse precisar de ajuda para conseguir guardar dinheiro.

O ARPAC do Nubank dobrou em 12 meses, chegando a US$ 7,8 no segundo trimestre e impulsionando o avanço de 230% nas receitas (neutras de efeitos cambiais), mas ainda está muito aquém dos cerca de US$ 40 de grandes bancos. Em clientes há mais tempo na casa, o ARPAC chegou a US$ 21.

2022 tem sido um ano em que bancos incumbentes como Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4), os dois maiores privados do país, bem como o Banco do Brasil (BBAS3), têm apresentado resultados mais destacados, segundo analistas e investidores, em razão justamente de fatores como menores custos de funding e capacidade maior de geração de receitas com a operação em tempos de juros altos.

No relatório, o analista do Itaú BBA alertou para os riscos associados à mudança, como uma eventual queda dos depósitos ou do engajamento de clientes, uma vez que o compromisso de oferecer rendimento de 100% do CDI tem sido um dos pontos de atração do Nubank. A decisão de estender as soluções para toda a base sugere que os resultados preliminares atenderam ou superaram as expectativas.

As ações do Nubank negociadas na Bolsa de Nova York (NYSE) acumulam alta de 32% desde o anúncio das mudanças, em 11 de julho, embora ainda estejam em queda de 47% neste ano. O Nasdaq Composite, que seria um índice de referência para ações de tecnologia - e de crescimento, ou growth stocks, como a do Nubank -, teve alta de 3,7% e queda de 25%, respectivamente, nos dois períodos.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.