Opinión - Bloomberg

Quiet quitting: nem todos podem se ‘dar ao luxo’ de fazer o mínimo no trabalho

Movimento chamado ‘quiet quitting’ parece ser a solução para o burnout, mas pode trazer repercussões duradouras, principalmente para minorias

Movimento consiste em não fazer nenhuma atividade que esteja fora de seu escopo de trabalho. Contudo minorias frequentemente são consideradas problemáticas ao tentarem impor limites
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — A Geração Z tem uma nova solução para o burnout: o “quiet quitting”. A ideia é simples: não faça atividades fora de seu escopo de trabalho. A tendência, que decolou no TikTok, parece ideal. Bater ponto às 17h? Ótimo. Passar mais tempo com a família em vez de assumir tarefas extras? Com certeza.

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Mas as pessoas que tendem a apresentar os mais altos níveis de burnout – mulheres e não brancos – provavelmente não podem se dar ao luxo de “fazer o mínimo”.

As mulheres que trabalham nos Estados Unidos relatam que sofrem maiores taxas de burnout no trabalho em comparação com seus colegas homens, segundo uma pesquisa da Gallup de 2021.

Mulheres superaram homens em todos os anos da pesquisa

Esta é uma das explicações: com “atividades” como manter um registro dos aniversários dos colegas até garantir o estoque de café do escritório, muitas mulheres ficam sobrecarregadas com trabalho que não faz suas carreiras evoluírem, diz Celeste Headlee, autora de “Do Nothing: How to Break Away From Overwork, Overdoing and Underliving”.

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Mulheres não brancas são ainda mais propensas a apresentarem burnout, segundo a pesquisa Women at Work da Deloitte de 2022. E elas são menos propensas a revelar suas preocupações com sua saúde mental no trabalho.

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À primeira vista, “fazer o mínimo " parece uma resposta lógica – se você está sobrecarregado, por que não reduzir o trabalho que você está fazendo? Principalmente se o trabalho extra não for remunerado. O problema é que mulheres e minorias podem enfrentar maiores riscos quando se trata de avançar em suas carreiras e manter seus empregos se o fizerem.

Um estudo de 2022 sobre trabalhadores do varejo descobriu que os gerentes já subestimam o potencial das mulheres mais do que o dos homens, tornando-as 14% menos propensas a serem promovidas em comparação com seus colegas homens.

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Muitos funcionários negros sentem que precisam trabalhar duas vezes mais devido a avaliações de desempenho injustas e promoções atrasadas. Os não brancos foram desproporcionalmente afetados pelas demissões no início da pandemia de covid-19. “Fazer o mínimo” pode exacerbar essas desigualdades no ambiente de trabalho.

Mulheres não brancas são mais propensas a passar por burnout

Sempre que uma pessoa não branca ou uma mulher tenta estabelecer limites saudáveis para si, é muito mais provável que sejam vistos como problemáticos, diz Headlee. Sem falar em fazer o mínimo no trabalho. Algumas pesquisas mostram que mulheres e minorias enfrentam punições mais severas do que outros pelos mesmos erros.

Portanto, não é apenas o crescimento profissional e as relações no local de trabalho que podem sofrer com o “fazer o mínimo” – ser demitido também pode ser um risco se os empregadores considerarem que estão fugindo de suas obrigações.

Sendo da Geração Z e entrando na força de trabalho após a covid-19, entendo por que minha geração está resistindo à “cultura do trabalho exaustivo”.

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Assumimos bicos e freelas para compensar as oportunidades perdidas devido à perda de empregos na linha de frente durante a pandemia, recebemos uma avalanche de vídeos do TikTok sobre como ganhar dinheiro extra, e trabalhar em casa misturou os limites entre nossos empregos e nossas vidas pessoais. “Fazer o mínimo” é a nossa maneira de recuperar energia e poder no trabalho.

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Talvez essa abordagem funcione para alguns. Mas, para aqueles que querem fazer menos no trabalho sem correr o risco de retaliações, vale a pena questionar o que está por trás de seu burnout ou insatisfação.

Você está sobrecarregado com trabalho extra que não acrescenta em nada sua carreira? Você sente que seus esforços não são reconhecidos? Você sente que lhe faltam oportunidades de progresso? Você é mal remunerado? “Fazer o mínimo” pode trazer alguma paz de espírito temporária, mas não fará com que essas questões desapareçam.

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Em vez de resistir em silêncio, provavelmente será melhor levar essas questões a seu chefe e pensar em soluções. Mentores e aliados de dentro e fora de sua empresa podem ajudá-lo a navegar por essas conversas. E se ter uma discussão honesta sobre seu equilíbrio entre trabalho e vida pessoal leva a conflitos ou punições, geralmente é um sinal para procurar outro emprego.

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Eu gostaria de ver mais funcionários defendendo a si mesmos em vez de “fazer o mínimo”. Documente os casos de excesso de trabalho – seja fazer horas extras, atender chamadas durante o fim de semana ou receber mais trabalho do que você consegue manejar – para que você possa apontar casos específicos ao falar com seu supervisor sobre limites.

Peça apoio na definição de prioridades e na gestão de sua carga de trabalho. Se você estiver pedindo uma promoção ou um aumento, destaque feitos específicos para mostrar como você agrega valor à sua equipe.

“Fazer o mínimo” parece uma boa ideia, mas pode prejudicar suas perspectivas de carreira a longo prazo. Para trabalhadores jovens, principalmente mulheres e minorias, esse é um preço muito alto a pagar só para fazer parte da tendência.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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