Esta fintech é o mais novo investimento de Marcelo Claure, ex-SoftBank

Executivo participou de rodada série A de R$ 60 milhões em startup que desenvolve uma plataforma de captação de crédito em blockchain

Marcelo Claure faz um de seus primeiros investimentos com seu Family Office depois do SoftBank.
06 de Setembro, 2022 | 08:30 AM

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Bloomberg Línea — Desde que deixou o SoftBank em janeiro, o empresário e investidor boliviano Marcelo Claure preparava o terreno para investir em startups na América Latina com o seu próprio capital. Agora esse plano começa a tomar forma. O ex-Chief Operating Officer (COO) do conglomerado japonês é o mais novo investidor privado na fintech Credix, que acaba de levantar R$ 60 milhões (US$ 11,6 milhões) em uma rodada de investimentos série A.

O aporte na empresa é o primeiro investimento do family office de Claure que se torna público desde que ele deixou o SoftBank, onde liderou uma série de aportes do grupo em startups mundo afora entre 2018 e 2022.

Em entrevista à Bloomberg Línea no início do ano, Claure afirmou que se preparava para fazer investimentos na América Latina novamente por meio de seu family office, o Claure Group, e disse que pretendia investir em mercado imobiliário, tecnologia, games, blockchain, veículos elétricos, inteligência artificial, empresas públicas, privadas, desde estágio semente até mais consolidadas.

Além de Claure, o presidente do Itaú na América Latina, Ricardo Villela Marino, é um dos investidores na fintech, fundada por executivos belgas, que funciona como uma plataforma em blockchain para originação de crédito no Brasil.

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A rodada série A da Credix foi coliderada pelos fundos de venture capital norte-americanos Motive Partners, ParaFi, Valor Capital, além da Circle Ventures, Abra, e fundos de crédito globais como o MGG Investment Group. Fundos de cripto, como a gestora carioca Fuse Capital, também participaram do aporte.

Dan Yamamura, sócio da Fuse, disse à Bloomberg Línea que a empresa viu a oportunidade de fazer investimento em early-stage que “ainda não estava sendo feito no Brasil”. Yamamura veio da indústria de private equity mas criou a Fuse há dois anos com a ideia de ajudar as empresas a crescerem “mais por conta dos relacionamentos do que pelo dinheiro injetado”.

A Fuse recentemente lançou seu primeiro fundo com foco exclusivo em Web3 (conceito de uma internet descentralizada baseada em blockchain). Em agosto, a gestora começou a captar para o Fuse Capital Fund II, com o objetivo de levantar US$ 50 milhões, com o primeiro closing de US$ 10 milhões. A Fuse pretende transformar seus investimentos em equity em tokens. Uma premissa dos investimentos desse fundo é que as investidas emitam tokens dentro do prazo de cinco anos do fundo, permitindo que o desinvestimento seja feito a partir da venda desses tokens.

A Fuse Capital já tinha participado da rodada seed da Credix em dezembro de 2021. Na época, a fintech captou US$ 2,5 milhões (R$ 14,2 milhões) com a DRW Cumberland e a ParaFi Capital. Solana Ventures, Transfero Swiss BRZ Solana Ecosystem Fund, Petrock Capital, MGNR, Mercurial, Parrot Finance também investiram.

O que faz a Credix

Chaim Finizola, um dos fundadores da Credix, é meio brasileiro e meio belga. Com o CEO Thomas Bohner e o CTO Maxim Piessen, eles criaram a Credix para fornecer opções de financiamento para fintechs e empresas que concedem crédito.

As empresas solicitam o dinheiro por meio do marketplace da Credix, que conecta essa solicitação com quem pode garantir o crédito: investidores institucionais e mutuários, desde bancos, fundos, e pessoas físicas de alto patrimônio. É uma alternativa ao FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) onde cada empresa precisa emitir seu próprio FIDC para captação.

Os investidores podem investir de forma ativa ou passiva e podem analisar e subscrever negócios um a um. Segundo a Credix, esses investidores podem antecipar um retorno de cerca de 12% até mais de 20% ao ano.

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A Credix começou operando com tíquetes de até US$ 1 milhão. A empresa usa USDC stablecoins, criptomoedas lastreadas ao dólar, para garantir o crédito na plataforma e converte a criptomoeda para o dinheiro local das empresas clientes.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Bohner disse que desde a rodada Seed o mercado cripto e o cenário macroeconômico mudaram, mas que, dado ao colapso das criptomoedas, a tese da empresa se tornou ainda mais relevante.

“No começo nossa tese era de que criptos e blockchain precisam se diversificar. Precisamos tokenizar ativos do mundo real e a tecnologia blockchain precisa estar ainda mais conectada à economia do mundo real. Vimos isso acontecendo recentemente com esse ambiente macro e há uma necessidade para essa infraestrutura. Isso nos deu a confiança de que estamos indo na direção correta e devemos dobrar a aposta”, disse Bohner.

A Credix lançou sua plataforma usando a blockchain Solana. O produto está funcionando e Bohner disse que a empresa já distribuiu quase US$ 25 milhões em empréstimos. “Durante o processo de captação da Série A, o mundo mudou algumas vezes na perspectiva macroeconômica e de cripto. Mas porque temos o foco em ser uma plataforma institucional conectando atividade do mundo real com finanças descentralizadas, ficamos confiantes no nosso jogo e com nossos investidores”, disse o CEO, embora reconheça que o processo levou mais tempo do que esperava, muito por conta da diligência que alguns investidores fizeram.

“Tivemos um valuation justo, na linha do que esperávamos”, afirmou o empreendedor.

Bohner não acha que todos os ativos do mundo de blockchain e cripto devem estar atrelados à atividade do mundo real, mas acredita que para que a indústria cresça é preciso trazer mais ativos para a tokenização. “Se você olhar hoje para o mercado financeiro, crédito e derivativos são muito maiores do que equity. E são muito maiores do que Bitcoin e Ethereum. Por isso acreditamos que todos eles podem existir juntamente, mas podem se beneficiar sendo ativos digitais tokenizados em uma blockchain, trazendo mais interoperabilidade, escalabilidade e eficiência”, afirmou.

Segundo Bohner, usar blockchain para conectar investidores em mercados emergentes pode garantir maior acesso financeiro e menor custo de capital. Hoje a Credix tem seis clientes no Brasil. Entre eles estão a Adiante, que oferece capital de giro para pequenas e médias empresas; a Provi, que oferece financiamento estudantil; e a fintech a55, de empréstimo com base em receita das empresas (revenue-based financing) além de prover crédito para uma empresa de financiamento de carros.

O capital levantado na rodada de Série A será aplicado no desenvolvimento da plataforma, adicionando recursos do mercado secundário para fintechs, além de contratar engenheiros e pessoas de tecnologia. “Estamos contratando pelo mundo todo. Temos 14 pessoas mas pretendemos ter cerca de 25, dependendo da demanda, nos próximos meses”, disse o CEO.

A Credix é uma empresa “remote-first”, mas tem escritórios em São Paulo e Nova York. Hoje, os funcionários estão espalhados pelo Brasil, Estados Unidos e Europa. A empresa pretende atingir US$ 100 milhões em ativos sob gestão nos próximos meses.

Por enquanto, todos os contratos de clientes da Credix são no Brasil, mas Bohner disse que já tem os primeiros contratos para serem executados no México e na Colômbia ainda este ano.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups