Bloomberg — A clara rejeição no domingo à proposta de nova Constituição no Chile pode ter o efeito secundário de moderar aumentos de impostos, o que eliminaria uma grande barreira para bilhões de dólares em investimentos em cobre.
Com 62% dos eleitores – número acima do esperado - tendo optado por manter a atual carta magna, vista como favorável a investidores, o governo do presidente esquerdista Gabriel Boric se encontra em terreno mais instável para promover reformas.
“O Congresso será chave nesta nova etapa, pois seu poder de negociação com o governo aumenta consideravelmente”, disse Juan Carlos Guajardo, que comanda a consultoria Plusmining e prevê uma agenda legislativa do governo muito mais debatida.
Isso fortalece a posição de parlamentares da oposição e da indústria de mineração em amenizar um projeto de lei atualmente em debate que criaria a carga tributária mais pesada entre os maiores países produtores de cobre. A perspectiva de impostos mais altos e regras ambientais mais duras na nova Constituição levou mineradoras a suspenderem alguns investimentos. A BHP disse em março que gastaria US$ 10 bilhões no Chile, desde que a maior nação produtora de cobre não mudasse muito as regras.
É um grande investimento em um país que responde por mais de 25% do cobre extraído do mundo e pela maioria das reservas, quando o desenvolvimento de novos depósitos se torna mais difícil e mais caro, além da expectativa de maior demanda pelo metal usado em fiação com a transição para reduzir o uso de combustíveis fósseis. Os investimentos são cruciais no Chile, onde os teores de minério têm caído constantemente. Isso significa que as minas precisam mover mais rocha para produzir a mesma quantidade.
O ministro da Fazenda do Chile, Mario Marcel, já havia aberto a porta para atenuar a chamada lei de royalties da mineração. Na semana passada, Marcel havia dito que o governo estudava mudar as alíquotas para um componente de imposto sobre vendas do projeto de lei.
A recente decisão do governo peruano, que desistiu das reformas tributárias planejadas para a mineração, também diminui a capacidade do Chile de elevar os impostos, mantendo-se competitivo como destino de investimento, de acordo com Cesar Pérez-Novoa, analista do BTG Pactual. A queda de mais de 20% nos preços do cobre neste ano também destaca a natureza cíclica dos mercados de commodities, o que enfraquece o nacionalismo de recursos.
No entanto, a votação reduz, mas não elimina, as incertezas para a indústria de mineração no Chile. Em comentários televisionados após a votação, Boric reiterou seu compromisso de mudar a Constituição. Mas enfatizou que o Congresso do país terá papel de liderança.
Veja mais em bloomberg.com
Leia também
Os carros híbridos preferidos no Brasil e quanto custa o seguro de cada um deles