Bloomberg — Os trabalhadores mais jovens dos Estados Unidos querem se tornar empreendedores – mas não como seus pais poderiam imaginar.
O impulso para extrair uma renda sustentável das publicações nas redes sociais é maior entre a geração mais jovem de trabalhadores, segundo novas pesquisas da Adobe (ADBE).
Cerca de 45% dos criadores de conteúdo da geração Z entrevistados disseram que aspiram ser proprietários de um negócio e ganhar dinheiro com conteúdo online, de acordo com a pesquisa realizada pela empresa em maio com mais de 9 mil influenciadores e criadores de conteúdo de nove países.
A Adobe define criadores de conteúdo como aqueles que publicam conteúdo em redes sociais com o objetivo de aumentar sua presença online ou promover seu trabalho criativo – que pode ir de fotografia a música e até NFTs. Os influenciadores entrevistados relataram ter mais de 5 mil seguidores em sua principal plataforma de mídia social e ganham dinheiro publicando conteúdo.
Os criadores de conteúdo e influenciadores da geração Z fazem parte da onda de empreendedorismo que acompanhou a agitação do mercado de trabalho nos últimos dois anos. Embora muitos americanos tenham aberto seus próprios negócios durante o lockdown por necessidade, o impulso se manteve, motivado pelo desejo de flexibilidade e maior controle sobre o futuro financeiro. Um recorde de 5,4 milhões de novos negócios foram abertos nos EUA no ano passado, de acordo com os dados do censo. Embora a taxa mensal tenha ficado abaixo de seu pico de 2021, ela permaneceu muito acima dos níveis pré-pandemia.
Mesmo com muita especulação sobre a possibilidade desse aumento na criação de pequenas empresas ser uma aberração ou o início de uma inversão de longo prazo, “o que vemos é que esta tendência não mostra sinais de abrandamento”, disse Luke Pardue, economista da plataforma de serviços de folha de pagamento Gusto.
A dinâmica da mudança é, em parte, geracional, segundo ele. “Especificamente entre trabalhadores mais jovens, vemos esta tendência de que, mesmo em meio a um mercado de trabalho apertado, os trabalhadores não estão tendo ganhos salariais que acompanham a inflação, então eles estão migrando para o trabalho autônomo para determinar sua remuneração de forma um pouco mais independente”, disse Pardue. “Ter um emprego corporativo não permite mais que o trabalhador atinja algumas das metas disponíveis para as gerações anteriores”.
Geração Z vs. millennials
Enquanto os millennials tentam equilibrar um emprego formal e um bico, a geração Z foca em transformar um projeto em carreira, disse Maria Yap, vice-presidente de aplicativos de imagem digital da Adobe. “Eles pensam ‘meu trabalho pode ser algo que eu amo’”.
Algumas universidades, como a Universidade Duke, a Universidade do Sul da Califórnia e a Universidade da Virginia, responderam à mudança na demanda ao oferecer aulas sobre como criar empresas de sucesso nas redes sociais.
A pesquisa da Adobe sugere que abandonar a carreira corporativa pelo Instagram pode trazer uma renda de seis dígitos se for um trabalho em período integral, embora a realidade normalmente seja mais complicada.
Os criadores que monetizam conteúdo ganham em média US$ 61 por hora, de acordo com a Adobe. Em período integral (40 horas por semana), a Adobe estima que a renda anual poderia ser de US$ 122 mil. Os influenciadores pesquisados pela Adobe ganham US$ 81 por hora, o que se traduziria em cerca de US$ 162 mil se fosse um emprego em período integral.
No entanto, os limites entre hobby e bico não são bem definidos, e a maioria das pessoas entrevistadas pela Adobe não trabalham em período integral. Os criadores de conteúdo gastam, em média, nove horas por semana criando conteúdo; os influenciadores gastam, em média, 15 horas. Nos EUA, seis em cada 10 criadores de conteúdo trabalham em período integral, segundo constatado pela Adobe. Se os criadores de conteúdo deixassem seus empregos formais, não é possível saber se conseguiriam trabalho suficiente para preencher 40 horas semanais.
A percepção pública geralmente é que os criadores de conteúdo e influenciadores com mais de 10 mil seguidores ganham uma renda significativa, mas a realidade não é essa, disse Qianna Smith Bruneteau, fundadora do American Influencer Council, associação comercial para profissionais de criação de conteúdo para redes social.
Entre os que criam conteúdo em período integral, apenas 12% ganham mais de US$ 50 mil por ano, segundo uma pesquisa global com mais de 9,5 mil criadores de conteúdo publicada em abril pelo Linktree, plataforma de compartilhamento de links muito popular entre influenciadores. O salário digno para viver em Manhattan é quase US$ 53 mil, segundo a calculadora de salários do MIT.
É um trabalho de verdade?
Embora alguns criadores e influenciadores tenham sucesso, outros podem ter muito trabalho e nenhum retorno na hora de acumular seguidores, segundo Bruneteau. “Produzir conteúdo todos os dias em um ambiente que prioriza vídeos é muito trabalhoso”, disse. Isso pode significar anos produzindo gratuitamente antes de receber algum retorno. “Quando você está começando, não pode esperar ganhos imediatos. Como qualquer pequeno negócio, leva cerca de dois anos até você sair do vermelho”, disse Bruneteau.
Mesmo com um grande público, monetizar o conteúdo não é fácil – é necessário ter muita perspicácia comercial para se lançar às marcas e firmar parcerias. E os criadores de sucesso muitas vezes precisam trabalhar para gerar o maior número possível de fluxos de renda entre plataformas, desde renda proveniente de anúncios até mercadorias, oficinas e aulas.
Tejas Hullur, 21 anos, é um influenciador da cidade de Nova York. Após começar a publicar sobre criptomoedas e finanças em 2020, Hullur disse que acertou em cheio falando sobre a própria economia de criação de conteúdo. “É ironicamente metalinguístico, no sentido de criar conteúdo para outros criadores”, disse.
Como muitos de seus pares, Hullur teve que diversificar rapidamente seu fluxo de renda depois que a renda proveniente dos acordos com as marcas acabou se tornando escassa. Mesmo assim, a imprevisibilidade da renda dificulta o planejamento eficiente, principalmente com uma desaceleração econômica que ameaça os orçamentos de marketing das empresas. Além disso, a longevidade de carreira para os influenciadores é um problema. Muitas vezes, a fama na internet – e o dinheiro que vem junto – não dura para sempre.
“Estamos neste mundo que gira em torno do burburinho. Você pode se sentir o máximo”, disse Hullur. “Eu vejo isso sempre – eu diria que a quantidade de TikTokers que estavam no auge em 2020 e que ainda têm um negócio totalmente monetizável e bem-sucedido é inferior a 5%. O sucesso vem, mas acaba”.
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