Bloomberg Opinion — No Reino Unido, com o aumento dos preços da energia, poucas casas ficarão totalmente iluminadas durante as festas de fim de ano. Provavelmente não teremos renas iluminadas ou um Papai Noel escalando alguma casa. Por todo o país, as decorações não devem marcar presença este ano.
Mas não pense que as árvores de Natal ficarão sem luzinhas. Apesar das terríveis previsões, os britânicos tentarão aproveitar ao máximo as festas, trazendo algum conforto muito necessário para os setores de varejo e hospitalidade.
O órgão regulador Ofgem aumentou seu limite de preço nas contas de energia doméstica para um recorde de 3.549 libras (US$ 4.167), o que significa que as residências pagarão quase o triplo para ficarem aquecidas neste inverno. Além disso, os custos de outros produtos essenciais estão aumentando – os preços das mercadorias básicas ficaram 11,6% mais altos no período de quatro semanas encerrado em 7 de agosto, de acordo com a Kantar – e a inflação está superando o aumento dos salários. Os proprietários também precisam lidar com o aumento dos custos hipotecários pela primeira vez em anos.
O Asda Income Tracker, que mede a quantia que restou para as famílias após o pagamento de impostos e de itens essenciais, como alimentação, transporte, energia e moradia, caiu 40,21 libras por semana em julho, em comparação com o período do ano anterior.
Esta queda está pesando tanto sobre a confiança dos consumidores quanto das empresas. Os executivos do setor de varejo esperam que o outono seja extremamente difícil no país após as contas de energia ficarem mais caras. Muitas pessoas também passearam livremente este verão, seja viajando para o exterior ou curtindo ao máximo a onda de calor da Grã-Bretanha. Mas um dia a conta chega.
Mas há vários motivos pelos quais o período de compras de Natal pode não ser tão ruim quanto imaginavam.
As duas últimas épocas de festas foram perturbadas pelos surtos de covid. Mesmo que um lockdown tenha sido evitado em 2021, a variante ômicron causou estragos nos planos de visitar a família e amigos e jantar fora. Naturalmente, muito ainda depende se haverá outro pico de casos durante o inverno. Mas supondo que o covid esteja sob controle, é provável que haja um elemento de “gastos de Natal de vingança” – no qual as pessoas vão gastar ainda mais só porque não puderam em outras ocasiões – que se espalhe este ano.
Os britânicos precisam compensar algumas comemorações que não tiveram. É provável que as festas e casamentos continuem durante os meses de inverno, mantendo a demanda por trajes a rigor.
Apesar de alguns sinais de desaceleração, o mercado de trabalho continua forte. E mesmo após as férias, alguns trabalhadores com salários mais altos ainda terão uma economia reprimida para amortecê-los da crise do custo de vida. Outros poderão recorrer a cartões de crédito para sustentar seus gastos.
Os consumidores também tendem a valorizar o Natal – quando a vida está difícil, as pessoas tentam fazer das festas de fim de ano um alento para suas aflições.
Há mais um fator significativo em jogo: a Copa do Mundo será realizada em novembro e dezembro pela primeira vez. Dependendo do desempenho da seleção britânica, isso pode incentivar algumas confraternizações para assistir às partidas. Grandes eventos esportivos costumam ser bons para as vendas na TV, mas como os itens mais caros são muitas vezes os primeiros a serem cortados do orçamento em tempos de ansiedade econômica, as varejistas talvez não devam contar com esse crescimento.
Isso não significa que os britânicos não vão mudar seus hábitos. Muitos já estão fazendo cortes e deixando as compras apenas para momentos de necessidade. Por exemplo, nesta temporada de volta às aulas, mais famílias esperaram mais para comprar uniformes, mochilas e fichários, em vez de se abastecerem antecipadamente. Devemos ver um padrão semelhante para o Natal, o que significa um comércio tardio e volátil para os varejistas.
Mesmo que muitas pessoas vejam amigos e familiares durante as férias, elas podem fazer cortes nos presentes. Se as famílias mais apertadas tiverem de priorizar presentes para as crianças, isso significará menos presentes para os adultos. Os artigos frívolos também ficarão de fora, assim como em 2008 e 2009, quando o mundo estava sob a crise financeira global. O fato de que muitos produtos – de roupas a enfeites – estarão mais caros não ajuda. Então pode esquecer o presente do seu bichinho de estimação.
Quando os britânicos fizerem compras, provavelmente preferirão artigos mais econômicos e pechinchas em artigos natalinos, como papel de presente, e em comida. As filiais britânicas das lojas de departamento alemãs Aldi e Lidls provavelmente serão as mais beneficiadas pela mudança. Dos quatro grandes supermercados britânicos, o Tesco, com seu compromisso de igualar os preços da Aldi em centenas de itens, tem atualmente o maior impulso. Se ele conseguir manter este ritmo durante o outono, poderá ter um bom Natal também.
Quando se trata de produtos não alimentícios, as tendências favorecem as lojas de móveis econômicos Dunelm Group e Primark.
Mas o principal fator de mudança para todos os varejistas e restaurantes será se o governo vai intervir com mais apoio às famílias com dificuldades para bancar as contas de energia. Os britânicos gastaram generosamente durante todo o verão em parte por causa do clima, mas também porque eles esperavam outra rodada de auxílios.
Se não houver mais apoio e os empregadores começarem a anunciar demissões, as coisas poderão piorar muito.
Janeiro e fevereiro são sempre meses difíceis para as redes varejistas e para o setor de hospitalidade. Com o próximo limite de preço da energia que deverá ser anunciado em janeiro, logo após as faturas de cartões de crédito de dezembro chegarem, o início de 2023 pode ser particularmente sombrio.
Por enquanto, no entanto, parece que as luzinhas da árvore de Natal ainda vão brilhar.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Andrea Felsted é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre os setores de varejo e bens de consumo. Anteriormente, escrevia para o Financial Times.
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