IRB: o que esperar após follow-on de R$ 1,2 bilhão que fez ação desabar

Ação da resseguradora caiu 12,86% com ajuste após oferta subsequente; emissão saiu com desconto de 50% sobre o preço do papel

Em 2020, IRB mergulhou em um escândalo após reveleção de fraudes contáveis envolvendo um falso interesse de fundo de Warren Buffet na companhia
02 de Setembro, 2022 | 07:25 PM

A resseguradora IRB Brasil RE (IRBR3) captou R$ 1,2 bilhão com a emissão de 1,2 bilhão de novas ações. Ou seja, o follow-on (oferta subsequente) saiu a R$ 1 por papel, um desconto de 50% frente ao preço de fechamento na data do anúncio e de 29% em relação ao fechamento de ontem. Nesta sexta-feira (2), a ação da resseguradora fechou em forte baixa de 12,86%, cotada a R$ 1,22.

“O elevado desconto já era esperado e deve diminuir a pressão vendedora sobre o papel, uma vez que os recursos captados regularizam o desenquadramento regulatório perante a Susep. O nível de incerteza ainda é elevado, e o cenário turbulento deverá permanecer por mais alguns trimestres”, escreveram Carlos Daltozo e Raul Grego Lemos, especialistas da Eleven Financial, em relatório enviado aos clientes.

Eles mantiveram a recomendação neutra para IRBR3, cortando o preço alvo de R$ 2,10 para R$ 1,40, considerando a quantidade de ações em circulação após a oferta.

“A principal dúvida é se realmente o valor captado na oferta deverá resolver a situação ou veremos uma nova chamada de capital em um futuro não muito distante, caso a companhia continue queimando caixa, ficando novamente abaixo dos requisitos regulatórios mínimos exigidos pela Susep”, comentaram os analistas.

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A coordenação da oferta pública teve a coordenação do Bradesco BBI (líder), do Itaú BBA e do Santander (coordenador adicional).

Entre os principais acionistas da empresa estão o Bradesco Seguros (com 15,8% do capital) e Itaú Seguros (11,5%).

A investidora Louise Barsi, filha de Luiz Barsi, informou em rede social que sua família subscreveu 10 milhões de ações. “Como integrante do comitê de auditoria, deposito meu voto de confiança de que a companhia fará tudo o que estiver ao seu alcance para maximizar os recursos captados (e estarei lá para cobrar isso)”, escreveu em postagem ao comentar a operação.

Prejuízo

No mês passado, o IRB Brasil RE reportou um prejuízo líquido de R$ 373,3 milhões no segundo trimestre, acumulando uma perda de R$ 292,8 milhões no ano. “Os efeitos climáticos que provocaram a quebra de safras importantes do agronegócio e resultaram em sinistros vultosos para seguradoras e resseguradoras, além de sinistros decorrentes da covid-19, impactaram negativamente nos números da companhia”, justificou o IRB, em comunicado.

Em 2020, a companhia mergulhou em uma crise de reputação no mercado, após a gestora Squadra divulgar um relatório revelando fraudes contábeis da resseguradora.

“IRB Brasil era tida como queridinha pelo mercado, era lucrativa e rentável, e suas ações negociavam a múltiplos elevados. De janeiro de 2020 a maio de 2022, os papéis da companhia acumulam uma queda de mais de 90%”, afirmou a Nord Research, em um relatório em maio deste ano.

Na avaliação da Nord, após o escândalo, a empresa iniciou uma reestruturação, fez mudanças na gestão, reapresentou seus balanços e ajustou a forma de contabilização. “Com os balanços revisados e ajustados, aquela IRB altamente lucrativa e rentável era irreal”, observou o relatório da Nord Research.

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Em novembro do ano passado, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) concluiu um inquérito administrativa que apurou as irregularidades nas operações envolvendo ações e derivativos da empresa entre 1º de janeiro a 31 de março de 2020.

As acusações eram sobre a divulgação inverídica sobre a participação do fundo norte-americano Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffet. O então CEO da companhia, José Carlos Cardoso, e o seu CFO Fernando Passos, foram citados no inquérito como responsáveis pela divulgação de informações falsas sobre o interesse do fundo americano na companhia.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.