Quem ocupará o lugar da Oi? Para este CEO, serão as operadoras regionais

Wendell Oliveira, da Ligga, diz que nova tecnologia 5G pode aumentar competição ‘sem deixar o setor nas mãos de três multinacionais’

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São Paulo — A implantação da rede móvel de quinta geração (5G) pode aumentar a competição no setor de telecomunicações no Brasil caso as cinco operadoras regionais (Brisanet, Unifique, Algar, Cloud2U e Ligga), vencedoras do leilão das novas frequências em novembro de 2021, ampliem a concorrência com as três grandes operadoras multinacionais (TIM, Vivo e Claro) e ocupem o espaço deixado pela Oi (em recuperação judicial desde 2016). A avaliação é de Wendell Oliveira, CEO da Ligga (ex-Copel Telecom), dona da operadora paranaense de telefonia fixa Sercomtel, que tem um fundo do empresário Nelson Tanure como seu principal acionista.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o executivo disse que essas cinco operadoras independentes conversam muito sobre a tendência de consolidação do setor e buscam ser uma quarta opção ao consumidor. TIM (TIMS3), Vivo (VIVT3) e Claro (AMX) se uniram e compraram os ativos móveis da Oi (OIBR4), em uma operação contestada pelas companhias regionais, mas que acabou sendo aprovada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) no primeiro semestre.

“As cinco operadoras regionais têm de ter uma sabedoria muito grande para ocupar esse espaço que foi deixado pela Oi. Nós cinco, somados, podemos ser uma quarta opção às outras três operadoras. Existe uma tendência de consolidação grande. Isso já vem de alguns anos e deve aumentar. Afinal, com um juro alto, existe uma necessidade muito grande de Capex [investimento] para fazer o negócio de telecom crescer”, afirmou o executivo.

Algumas dessas operadoras regionais abriram capital há um ano na B3, como a Brisanet (BRIT3), sediada no Ceará, e a Unifique (FIQE3), fundada em Santa Catarina. Provedores de fibra óptica - WDC (LVTC3) e Desktop (DESK3) - também concluíram IPO (oferta inicial de ações) na Bolsa brasileira em 2021, de olho nas oportunidades dos novos tempos das telecomunicações no país.

“As cinco independentes têm um papel importante para fazer com que esse mercado seja cada vez mais competitivo, que não fique restrito nas mãos de três multinacionais”, diz Oliveira.

Mesmo antes do leilão do 5G, as operadoras regionais e nacionais travavam um embate sobre as condições de atuação com a nova tecnologia. Um consórcio de provedores regionais e internet, denominado Iniciativa 5G Brasil, chegou, em setembro do ano passado, a questionar os termos do edital do leilão para implementação da rede móvel de quinta geração, alegando que o texto favorecia operadoras de grande porte, em detrimento das empresas menores.

O último round da disputa foi o impasse sobre o valor de referência do roaming (taxa pelo uso fora da área de cobertura) a ser cobrado pelas três maiores companhias do setor - a espanhola Telefônica (Vivo), a italiana TIM, além da mexicana América Móvil (Claro) - das operadoras menores, insatisfeitas com a proposta de preço, vista como anticompetitiva. A Anatel chegou a ameaçar desfazer a venda fatiada dos ativos da Oi para as três concorrentes caso a questão seja judicializada.

“Fomos contra a operação da Oi [venda fatiada de ativos] como ela aconteceu, pois não era boa para o Brasil. Mas, a esta altura do campeonato, as três operadoras têm de cumprir a determinação da Anatel, que foi baseada em um estudo profundo. Isso [definição do valor do roaming] não deveria ser um impasse. É um desrespeito, uma afronta das grandes operadoras à determinação da Anatel”, diz o CEO.

No mês passado, o CEO da TIM Brasil, Alberto Griselli, descartou o risco de a compra fatiada dos ativos da Oi móvel ser desfeita, como sugeriu a Anatel, e negou a existência de “estresse” com as autoridades sobre o valor do roaming a ser adotado.

Para o CEO da Ligga, a judicialização do caso não deve demorar mais de seis meses. “Estamos otimistas com a postura da Anatel, que está sendo firme em não aceitar um valor de roaming que evita a competição no setor”, comentou Oliveira.

Tecnologia FWA

A Ligga, que atuava no Paraná com o antigo nome Copel Telecom e teve de fazer um rebranding em março, trabalha para implantar o 5G após ter obtido a licença para operar em São Paulo e nos estados da região Norte, no leilão de novembro.

Segundo o CEO, o impasse sobre o valor do roaming com as três líderes do mercado não atrapalha o cronograma de implantação do 5G pela companhia e projeto de “cidades inteligentes”, que visa utilizar, por exemplo, as antenas de 5G como centrais de monitoramento de tráfego nas vias públicas com câmeras, Wi-Fi, sensores infravermelhos, de temperatura e de fumaça, vigilância por meio de reconhecimento visual, integrando o ritmo de operação de semáforos ao deslocamento de ambulâncias e outras aplicações para facilitar as rotinas no cotidiano.

“Nossas obrigações referentes ao leilão do 5G só começam em 2025 e 2026, mas estamos nos antecipando a essas obrigações”, disse Oliveira.

Uma das frentes da Ligga é levar a tecnologia FWA (fixed wireless access, ou acesso fixo sem fio) a cidades pequenas do interior paranaense. “Levamos a antena 5G, que se liga com o modem na tomada de casa do cliente. Estamos com um plano piloto da tecnologia FWA em três cidades do Paraná. Nos EUA, essa tecnologia está crescendo muito, é um sucesso”, afirma o CEO da Ligga.

Outra frente da companhia é trabalhar soluções de conectividade através do 5G para o segmento corporativo (B2B). “Assim como o 4G revolucionou nossa vida, o jeito de fazer negócio, com os aplicativos de entrega, transporte, bancos digitais, o 5G será uma tecnologia disruptiva para a indústria, o agronegócio, a logística, o health care”, diz.

Telefonia fixa

Com os projetos para o 5G e a licença para atuar fora do Paraná, em São Paulo e região Norte, a Ligga pretende apresentar um novo posicionamento. “Somos uma empresa nova, com nome novo. Queremos nos posicionar não só como uma empresa paranaense, mas nacional”, afirma Oliveira.

O negócio de telefonia fixa não tem data para ser aposentado, mesmo porque, segundo o executivo, a maior parte das receitas ainda vêm do negócio de banda larga tradicional, da telefonia fixa da Sercomtel. “Pequenas e médias empresas ainda precisam de telefone fixo, que não pode desaparecer. As operadoras não podem largar isso e deixar os clientes na mão”, diz Oliveira.

Situação da Oi

A Oi está prestes a sair da recuperação judicial no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em que se encontra desde 2016 depois de acumular dívida bruta de R$ 64 bilhões com 55 mil credores - entre eles, está o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Para honrar seus compromissos, teve de vender seus ativos de fibra óptica para a V.tal, controlada pelo banco BTG Pactual (BPAC11), e seus ativos móveis para o trio de concorrentes (TIM, Claro e Vivo).

No último dia 22, a Highline, empresa de infraestrutura para as teles, venceu o leilão sem concorrentes para 8.000 torres da Oi com uma proposta no valor de R$ 1,697 bilhão, um dinheiro que a Oi deve usar para reforçar seu caixa, fazer investimentos e ajudar a pagar os credores. A companhia é controlada pelo DigitalBridge, um fundo norte-americano de investimento em infraestrutura digital.

A Oi vendeu essas torres, mas vai pagar aluguel à Highline pelo uso da infraestrutura, a fim de continuar atendendo a seus clientes até o final da concessão. O mercado ainda aguarda saber os valores desse custo de aluguel das torres, que não foram divulgados.

“Visamos concluir o processo [obter aprovações da Anatel e do Cade] até o final do ano. Estamos numa fase de transição tecnológica para o 5G, e esse movimento reafirma nosso plano de apoiar a expansão da cobertura móvel em um formato sustentável e responsável, tanto das grandes operadoras quanto dos provedores regionais”, disse Luis Minoru Shibate, diretor de estratégia e novos negócios da Highline, em nota.

A Highline também tem como acionistas a Aimco (Alberta Investment Management Corporation), Allianz e o IFC (Internacional Financial Corporation). A empresa constrói, opera e faz manutenção, fornecendo infraestrutura para as operadoras de telefonia por meio de torres, estruturas em topos de edifícios (rooftops) e locais fechados como shoppings e universidades (indoor).

A venda das torres é considerada uma das últimas pendências previstas antes do fim do processo de recuperação judicial.

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