Bloomberg Línea — A recuperação do mercado de trabalho brasileiro, que levou a uma queda da taxa de desemprego no Brasil, tem sido impulsionada principalmente pelos segmentos mais prejudicados durante a pandemia de covid-19 e que dependem das atividades presenciais.
Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, divulgada nesta quarta-feira (31) pelo IBGE, indicam que o segmento de “transporte, armazenagem e correio” foi o que teve a maior expansão em 2022 até o trimestre encerrado em julho, com crescimento de 6% no número de pessoas ocupadas em relação a dezembro do ano passado.
Em seguida, vêm os grupos de “administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais” (com alta de 5,5%), “alojamento e alimentação” (5,2%) e “comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas” (3,9%). O único setor que teve queda no número de pessoas ocupadas em relação a dezembro do ano passado foi a agricultura, com redução de 1,5% (veja o infográfico abaixo).
De acordo com Adriana Beringuy, coordenadora da Pnad, o que se vê é que o processo de recuperação do mercado de trabalho foi gradualmente migrando para as os setores que mais dependem das atividades presenciais, como saúde, educação e transportes.
Segundo a pesquisadora do IBGE, logo após o relaxamento das medidas de contenção da pandemia, na metade de 2021, atividades como indústria, construção e tecnologia da informação já mostravam uma reação. Depois, esse processo se deslocou para os serviços presenciais, como alimentação, transportes, e serviços pessoais.
“Nos dois últimos trimestres, começa a se destacar um crescimento dos segmentos de serviços públicos, saúde e educação - e sobretudo no segmento de educação. Provavelmente a recuperação nessas atividades foi um pouco mais retardada porque, diferentemente das outras atividades econômicas, os serviços educacionais não estavam funcionando de forma integral, com as dependências físicas parcialmente fechadas”, afirmou Beringuy, em entrevista à Bloomberg Línea.
Resultado no trimestre
Considerando apenas o trimestre encerrado em julho, o setor de “administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais” foi o que teve o maior crescimento no número de pessoas ocupadas, com expansão de 3,9%.
Em seguida, vêm os segmentos de “comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas” (3,7%), “alojamento e alimentação” (2,2%) e “transporte, armazenagem e correio” (2,1%). Os dados incluem tanto trabalhadores formais quanto informais, além de pessoas que trabalham por conta própria.
Já a construção, a indústria e o serviço doméstico, que também são grandes empregadores no país, tiveram expansão menor de 1,7%, 1,5% e 0,8% no trimestre.
De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego no Brasil caiu para 9,1% no trimestre encerrado em julho, o menor nível para esse período desde 2015. O resultado indica uma recuperação do mercado de trabalho em relação ao período mais crítico da pandemia, em 2020, quando o número de pessoas ocupadas no Brasil desabou, levando a uma forte perda da renda.
No entanto, nem todos os segmentos conseguiram voltar ao nível pré-pandemia. O número de trabalhadores do serviço doméstico continua menor do que em julho de 2019, com uma queda de 4,4%. O mesmo ocorre no segmento de “alojamento e alimentação”, que também continua 1,3% menor do que há dois anos.
Apesar da melhora do quadro geral do emprego no Brasil, o economista Eduardo Vilarim, do Banco Original, nota que houve uma desaceleração na geração de novos postos de trabalho no acumulado em 12 meses. “A agricultura (que inclusive demonstrou leitura de -1,82% no a/a) e a construção civil foram os setores que mais mostraram sinais de arrefecimento nas contratações. Por outro lado, chama atenção o avanço da população ocupada em outros serviços (21,32% a/a) e administração pública, que por sua vez criou 1,124 milhão de vagas ante julho de 2021″, afirma Vilarim em comentário distribuído a clientes.
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