Esta será a principal missão do novo CEO no comando da BRF

Mudança na gestão da companhia indica foco em melhoria operacional após prejuízo de R$ 451 milhões no segundo trimestre

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São Paulo — A BRF (BRFS3), dona de marcas como Sadia e Perdigão, será comandada por Miguel Gularte, que está deixando o comando da Marfrig Global Foods (MRFG3), para assumir o posto ocupado por Lorival Luz, o mais longevo CEO desde a fusão entre Sadia e Perdigão. O movimento surpreendeu alguns analistas. Há três semanas, Luz apresentou ao mercado um prejuízo de R$ 451 milhões no segundo trimestre e deu a entender que a companhia estaria disposta a perder participação de mercado, levando o papel a desabar mais de 10% no pregão do último dia 11.

A prioridade de Gularte à frente da BRF será promover um “choque de eficiência operacional nas áreas comercial, industrial e logística”, disse uma fonte próxima ao executivo a par da situação, que pediu anonimato, pois o assunto não é público.

Ao anunciar a troca de comando, a BRF fez questão de enfatizar que a mudança não indica nenhum plano, “neste momento”, de fusão entre a companhia e a Marfrig.

As ações da BRF (BRFS3) chegaram a subir 4,83% na abertura do mercado nesta terça-feira, mas fecharam em queda de 1,53%, cotadas a R$ 16,12. Já as ações da Marfrig (MRFG3) encerraram o pregão em baixa de 3,57%, vendidas a R$ 13,52, em dia em que o Ibovespa recuou 1,69%, aos 110.430 pontos.

Luz apresentou seu pedido de renúncia ontem (29) segundo o fato relevante da BRF. “Essa indicação não sinaliza intenção, neste momento, de fusão entre a companhia e a Marfrig Global Foods”, mencionou a empresa no documento. Luz e Gularte vão iniciar um período de transição que será concluído até 30 de dezembro, informou a BRF.

“Vemos a nomeação de Miguel Gularte como CEO da BRF como inesperada, porém, embora sua experiência venha do setor de carne bovina, a nosso ver é mais fácil passar de um ambiente mais volátil para um calmo do que o contrário”, comentou a XP, em relatório.

Quem é Miguel Gularte, novo CEO da BRF

Gularte está na Marfrig desde 2018 como CEO da operação da América do Sul. Médico veterinário de formação e tem um histórico profissional de quase 40 anos no setor de carne bovina. Iniciou sua carreira na Cooperativa Industrial de Carnes e Derivados (Cicade), comandou o frigorífico uruguaio PUL, foi vice-presidente internacional do Minerva e CEO da JBS Mercosul.

“Miguel deve ser capaz de tornar a BRF mais ágil, eliminando a inércia incômoda que era responsável por oportunidades perdidas no passado da BRF. Ele também poderia aumentar a participação das exportações em sua receita, algo que vemos como positivo. Aguardamos uma estratégia mais detalhada da BRF para os próximos anos”, analisou a equipe de analistas da XP.

O novo CEO da Marfrig, líder global em produção de hambúrgueres e uma das maiores empresas de carne bovina do mundo, será Rui Mendonça, e a XP espera “uma transição tranquila”. Ele é engenheiro com MBA em gestão de agronegócio, com mais de 40 anos de atuação no setor, e está na Marfrig desde 2008, ocupando o cargo de diretor de industrializados para América do Sul.

Turnaround

Segundo o relatório da XP, os fundamentos melhoraram para a BRF após a acomodação dos preços das rações (milho, soja) juntamente com o aumento da demanda e preços mais altos de aves, que se traduziu em maiores margens no último trimestre.

“Prevemos que o momentum positivo continue nos resultados da empresa, mas um processo de turnaround é muito mais profundo e estamos ansiosos para ver como a nova governança afetará a BRF”, comentou a plataforma de investimentos, reiterando sua recomendação de Neutro para a BRF.

Os analistas Leandro Alencar e Pedro Fonseca também avaliaram a situação da Marfrig. “Embora os fundamentos tenham piorado para a Marfrig após a acomodação das margens na América do Norte, somos da opinião de que os preços das ações reagiram exageradamente, e vemos a empresa com desconto atualmente sendo negociada a 4,6x EV/EBITDA para 2023YE. Portanto, reiteramos nossa recomendação de Compra para a Marfrig”, comentaram os profissionais da XP no relatório.

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