Opinión - Bloomberg

Os EUA vão bem, obrigado: como o padrão de vida está superando o da Europa

Os desafios recentes enfrentados pelo Velho Continente, como a crise energética, estão afetando comportamentos históricos

Anteriormente considerado superior ao americano, padrão de vida europeu sofreu uma guinada e não parece melhor assim
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — 2022 pode ser lembrado como o ano em que os padrões de vida nos Estados Unidos realmente divergiram dos da Europa Ocidental. Uma prova concreta é o colapso do euro, que chegou à paridade com o dólar e até caiu mais, mas também há uma sensação geral de que a a diferença está aumentando.

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A velha narrativa era simples: a renda per capita nos EUA poderia diferir em 30% ou mais, mas os estilos de vida da Europa Ocidental são menos estressantes e mais relaxantes. Os sistemas de saúde europeus e sua cobertura quase universal também são superiores.

Essa narrativa caiu por terra.

O principal motivador dessa mudança foram os mercados de energia. Os EUA realmente parecem independentes quando se trata de energia. Os americanos reclamam dos altos preços da gasolina, mas o estilo de vida quase não foi afetado. Durante o verão no país, os americanos bateram o recorde em viagens rodoviárias. O fornecimento de energia para residências e empresas continuou, embora o aumento dos preços tenha criado certa pressão.

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Na Europa, a situação é muito pior. Boa parte da Europa Ocidental, que depende do fornecimento de gás do Leste do continente, enfrenta sérios problemas para passar o inverno que está por vir.

Na Alemanha, as buscas do Google por “lenha” aumentaram vertiginosamente. Mesmo os franceses, com sua forte dependência da energia nuclear, estão enfrentando preços muito altos e sérios cortes de energia – eles não investiram o suficiente na manutenção de seu sistema de energia nuclear.

A Alemanha ainda parece estar fechando suas usinas nucleares restantes. A política energética europeia é praticamente um erro. Lembremos que o fornecimento de energia é muito mais importante do que o percentual do PIB pode sugerir. A energia é a força vital da civilização moderna.

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O preço da energia mostra a péssima situação da Europa, e o inverno ainda está longe. Atualmente, a Alemanha paga cerca de 600 euros por MWh de eletricidade; em um passado não muito distante – em 2020 –, 100 euros teria sido considerado um valor muito alto.

Não são só os altos preços. O estresse sobre a incerteza da disponibilidade de energia no futuro contradiz um dos principais motivadores por trás do estado de segurança social: fazer com que um cidadão se sinta seguro e amparado.

A geopolítica intensificou esses problemas. Parece improvável que a Rússia tome medidas militares contra os principais países da Europa Ocidental. Ainda assim, há o risco de um acidente nuclear na Ucrânia, o possível desencadeamento de uma guerra nos Bálcãs e uma chance modesta de esse conflito envolver os países bálticos da Otan, arriscando uma escalada muito maior.

É difícil prever esses eventos – essa é a questão, pelo menos em parte. Não há um nervosismo geopolítico equivalente para os EUA, e não está claro se e quando os riscos europeus desaparecerão.

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Um trunfo tradicional para a Europa Ocidental era a qualidade de seus sistemas de saúde. Mas a ostentação agora não é tão justificada.

A pandemia revelou anos de investimento precário de capital em muitos dos sistemas de saúde europeus. Muitos americanos costumavam admirar o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, mas neste momento todo o sistema está passando por dificuldades.

Há uma escassez de mão-de-obra e capital e um colapso dos serviços de saúde de emergência, que pode estar implicando em até 500 mortes em excesso (não causadas por covid) por semana. Problemas semelhantes assolam a Europa, mas parecem piores no Reino Unido.

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O sistema de hospitais e de saúde dos EUA há muito faz investimentos caros e de longo prazo em cuidados e tecnologia. Muitas vezes isso significava preços altos e melhoria não muito significativa nos cuidados básicos. Mas no ambiente da pandemia e do pós-pandemia, essa característica do sistema é o que manteve o sistema de saúde dos EUA em funcionamento. Todo esse investimento se mostrou muito útil em uma crise significativa.

O antigo argumento de que os EUA não possuem um sistema de saúde universal é menos relevante. O programa Obamacare é imperfeito em várias frentes, mas a cobertura do sistema de saúde dos EUA nunca foi tão alta – o percentual da população sem plano de saúde atualmente é de 8%.

Lembremos que muitos dos cidadãos sem plano podem ter decidido não adquirir um plano de saúde, preferindo gastar seu dinheiro de outras formas. Isso pode ser um erro pessoal, mas não é o mesmo que um fracasso sistêmico de todo o sistema de saúde dos EUA.

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Na verdade, o país conta com algo bem próximo de uma cobertura universal, mesmo que seja opcional. E lembremos também que alguns dos sistemas europeus, principalmente na Suíça, também exigem gastos extras significativos. Outras partes desses sistemas são pagas através de sistemas relativamente regressivos de um imposto de valor agregado, portanto não são tão “gratuitos” como podem parecer.

À medida que o mundo emerge de seu caos atual, será cada vez mais óbvio que os EUA está despontando em relação a seus pares europeus.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. É professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution. É coautor de “Talent: How to Identify Energizers, Creatives, and Winners Around the World.”

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