Passagem aérea mais barata? Veja o impacto do 2º corte do querosene

Estatal anunciou a redução de 10,4% nos preços de querosene de aviação (QAV) a partir de 1º de setembro para as distribuidoras

Querosene da aviação impacta 25% o preço da tarifas aéreas, mas as recentes reduções do insumo para as distribuidoras ainda são insuficientes para provocar uma queda nos valores das passagens
26 de Agosto, 2022 | 11:50 AM

Bloomberg Línea — O segundo semestre vem sendo marcado por um movimento oposto ao verificado na primeira metade do ano, quando o patamar recorde do barril de petróleo (acima de US$ 100) provocou uma disparada dos preços dos derivados, como o querosene de aviação (QAV), elevando as tarifas aéreas.

Nesta sexta-feira (26), a Petrobras (PETR4) anunciou a segunda redução do preço do produto em um mês: um corte de 10,4% a partir do próximo dia 1º de setembro. No começo de agosto, o insumo teve corte de 2,6% para as distribuidoras.

PUBLICIDADE

No ano passado, quando o petróleo subiu 54%, o combustível usado nos voos comerciais teve um reajuste de 76,2% no preço, bem acima do diesel (56%), da gasolina (42%) e do GLP (36%). O combustível e lubrificantes representam 25% do custo de um voo, ou seja, se esse produto aumenta ou sobe, gera um impacto diretamente no preço final das passagens aéreas.

Em seu comunicado sobre a segunda redução do QAV, a Petrobras afirma que não é a única empresa a produzir ou importar o derivado. “O mercado brasileiro é aberto à livre concorrência e não existem restrições legais, regulatórias ou logísticas para que outras empresas atuem como produtores ou importadores de QAV”.

A Acelen, controladora da Refinaria de Mataripe, na Bahia, privatizada em dezembro passado, é um dos concorrentes nesse segmento. Braço do fundo árabe Mubadala, a companhia também tem feito ajustes mensais no combustível de aviação desde que assumiu o controle da refinaria, vendida pela Petrobras.

PUBLICIDADE

“A Petrobras comercializa o QAV produzido em suas refinarias ou importado apenas para as distribuidoras. As distribuidoras, por sua vez, transportam e comercializam o produto para as empresas de transporte aéreo e outros consumidores finais nos aeroportos, ou para os revendedores. Distribuidoras e revendedores são os responsáveis pelas instalações nos aeroportos e pelos serviços de abastecimento”, acrescentou a estatal de capital misto, em nota.

A nova redução do preço do QAV chega em um momento em que as companhias aéreas começam a deslanchar suas campanhas promocionais para a baixa estação do turismo.

Nas últimas semanas, empresas como Gol e Latam têm enviado a seus clientes notificações sobre tarifas com descontos em voos para os próximos meses, com exceção de dezembro, quando as festas de final de ano pressionam os preços das passagens devido ao aumento da procura por viagens e início da temporada de férias.

PUBLICIDADE

Executivos da aviação esperam um alívio nos custos das empresas. “Essa redução é uma ação positiva para o nosso setor, sobretudo porque o querosene de aviação representa cerca de 60% dos custos variáveis”, comentou Marcos Amaro, CEO da Amaro Aviation, empresa do ramo de aviação executiva com foco no compartilhamento de aeronaves.

Ricardo Aparecido Miguel, presidente da Abesata (Associação Brasileira das Empresas de Serviços Auxiliares do Transporte Aéreo), vê efeitos colaterais positivos com o barateamento do insumo.

“A redução do querosene de aviação vai ampliar o número de passageiros, de voos e, com isso, haverá mais mercado para as empresas de serviços auxiliares. O que favorece a contratação de mais gente para os serviços de handling, intensivo de mão de obra”, destacou Miguel.

PUBLICIDADE

Inflação

Outro impacto da sequência de cortes do QAV é o efeito nos índices de inflação. Os preços das passagens aéreas, avançaram 72,78% nos últimos 12 meses, apontou o último levantamento do Índice de Preços ao Consumidor (IPC-DI/FGV IBRE), divulgado no último dia 12 pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE).

“O fim da temporada de férias aliado à redução nos custos do QAV e do GAV (combustíveis das aeronaves) proporcionaram uma deflação de quase 20% nas passagens aéreas em julho, mas ainda não é o suficiente para compensar a alta acumulada que estava em mais de 100% no mês anterior”, comentou o pesquisador Matheus Peçanha, responsável pelo levantamento.

Isso significa que as companhias aéreas ainda estão enfrentando dificuldades devido à alta acumulada do QAV desde o ano passado. Com esse aumento do combustível ainda pesando na planilha de custos, elas elevaram bastante os preços das passagens e também precisaram reduzir a quantidade de voos que oferecem para um mesmo destino no primeiro semestre.

O movimento tem começado, no entanto, a ser revertido. Nesta semana, houve anúncios de retomada de rotas. A Gol (GOLL4), por exemplo, vai começar, a partir do próximo dia 17 dezembro, a ofertar voos para a Flórida partindo do aeroporto de Manaus, no Amazonas. Serão dois voos semanais diretos de ida e volta. No dia 3 de dezembro, o voo direto Fortaleza-Miami também será retomado, depois de ter sido suspenso durante a pandemia.

Já a Latam vai inaugurar em 1º de novembro a sua primeira rota internacional em Curitiba, com 3 voos diretos por semana para Santiago, no Chile. Por sua vez, a Azul (AZUL4) diz ter aumentado em 37% o número de voos semanais nos aeroportos do Rio de Janeiro entre novembro de 2019 e setembro de 2022.

Apesar da ampliação da malha aérea, há quem considere prematuro projetar uma redução das tarifas como uma tendência consolidada. “Os preços do QAV e da taxa de câmbio têm oscilado, e o cenário ainda está volátil, diante disso é prematuro fazer qualquer projeção de queda dos preços das passagens neste momento”, disse a Latam em nota enviada à Bloomberg Línea.

A Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) também adotou um tom de cautela em relação a expectativas de redução das tarifas.

“Embora tenha sido anunciada uma redução de 10% no preço médio do querosene de aviação (QAV), a situação de intensa volatilidade impossibilita projeção de impacto nos preços, dado que o acumulado desde julho de 2019 é de alta de 168,7%, variação muito superior à da gasolina (+50,9%), do GLP (+81,3%) e do diesel (+126%) no mesmo período, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)”, afirmou a entidade em nota enviada à Bloomberg Línea.

Gol e Azul não quiseram comentar o assunto. A assessoria da Gol apenas repassou a nota da Abear.

Diante desse novo cenário dos preços dos combustíveis, as operadoras de turismo já planejam a próxima alta temporada de verão no Brasil. A Azul Viagens, a operadora da Azul, vai reforçar sua malha para a alta temporada 2022/2023. De 16 de dezembro a 11 de fevereiro, a empresa contará com 2.000 voos para atender clientes que viajarão no próximo verão, isso significa cerca de 45% a mais em oferta de assentos comparando o mesmo período do ano passado.

A CVC (CVCB3) também está otimista com o ritmo de recuperação do setor. Em entrevista recente à Bloomberg Línea, o CEO da companhia, Leonel Andrade, destacou um aumento de 315% nas reservas confirmadas para destinos internacionais, no segundo trimestre, na comparação anual. Somente em junho, nove em cada dez reservas foram para destinos no exterior, sendo a Argentina um dos principais.

(Atualiza às 12h20 com comentários da Amaro Aviation, Abesata, Abear e Latam)

Leia também

Dólar recua para o menor patamar em duas semanas antes de falas de Powell

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.