Bloomberg Línea — Depois de dois anos e meio de pandemia, que já superou a marca de 34 milhões de casos só no Brasil, as empresas parecem ter ficado mais atentas às necessidades de saúde e de bem-estar de seus funcionários. Do ano passado para cá, a oferta de auxílios ligados à saúde e dos chamados “benefícios flexíveis” ganhou mais espaço na carteira de benefícios oferecidos pelas companhias a seus empregados.
As informações fazem parte da edição de 2022 do levantamento Guia Nacional de Benefícios, uma pesquisa realizada pela consultoria Leme sob encomenda da startup francesa de benefícios Swile. Foram ouvidos funcionários de 1.641 empresas de 13 ramos de atividade. Ao todo, segundo o estudo, as empresas ouvidas somam mais de dois milhões de empregados e R$ 687 bilhões em faturamento.
Segundo o levantamento, enquanto a oferta de assistência médica e de seguro de vida subiu no ranking dos benefícios oferecidos pelas empresas, os demais se mantiveram estáveis ou perderam importância.
A pesquisa aponta que 76,2% das empresas oferecem assistência médica a seus funcionários. É o benefício mais oferecido. Na edição de 2021, essa cifra estava em 77,5%, mas ficava em segundo lugar, atrás do vale-refeição. Este caiu do ano passado para cá: era oferecido por 81,1% das empresas e passou para 75,1%, ficando em segundo lugar no ranking de ofertas das empresas.
Para os autores da pesquisa, essa mudança é efeito direto da pandemia: “se, antes da pandemia iniciada em 2020, os benefícios em saúde já eram importantes, atualmente ganharam o mais elevado patamar de prioridade para os RHs e para os colaboradores”.
A tendência para os próximos anos é que benefícios de assistência médica “permaneçam com alto grau de importância”. Os motivos apontados pelo estudo são “o encarecimento da saúde privada, a pressão sobre o sistema público de saúde, a conscientização das pessoas sobre a importância de cuidados preventivos e o envelhecimento da massa populacional”.
O seguro de vida também cresceu. Era oferecido por 55,9% das empresas em 2021 e passou a ser oferecido por 57%. De acordo com os autores do estudo, do ano passado para cá, “esse benefício praticamente não sofreu alterações, indicando que foram os outros benefícios que caíram, e não o seguro de vida que subiu”.
Arranjo aberto
Um dos destaques do levantamento foi o crescimento dos chamados “benefícios flexíveis”. São a nova modalidade de benefícios atrelados aos cartões de auxílio alimentação, permitidos pela medida provisória editada neste ano para alterar as regras do setor.
A MP permitiu que fossem oferecidos, junto com auxílio alimentação, dinheiro para uso livre, que tem sido aplicado em matrículas em academias ou em aplicativos de transporte e de streaming. Antes, as empresas do setor só podiam oferecer tíquetes para ser usados em restaurantes e supermercados.
É o chamado “arranjo aberto”. Segundo a pesquisa, a quantidade de empresas que oferecem flexíveis a seus empregados quase dobrou em um ano. Eram 26,2% em 2021 e passaram a ser 44,2% em 2022.
Das empresas que não oferecem esse tipo de benefício, 23,8% disseram que pretendem oferecer.
São dados para os quais que o mercado olha com atenção. O arranjo aberto foi permitido por meio de uma medida provisória - a conversão dela em lei já foi aprovada pelo Congresso e agora aguarda sanção do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Conforme mostrou reportagem da Bloomberg Línea, as grandes empresas do setor de benefícios são contra a abertura do mercado, que hoje movimenta por volta de R$ 150 bilhões por ano. E 90% do mercado está concentrado em quatro empresas.
Sem o arranjo aberto, cada companhia negocia diretamente com os restaurantes. Com o arranjo aberto, empresas como a Swile, que financiou o levantamento sobre os benefícios oferecidos ao trabalhador, podem usar as bandeiras de cartão de crédito em seus cartões.
A expectativa é que, com isso, as taxas cobradas dos restaurantes, hoje entre 5% a 8%, possam cair para algo entre 0,5% e 2,5%.
Seria boa notícia para as startups no setor no Brasil. O cartão da Swile, por exemplo, é usado por cerca de 200 mil pessoas, segundo o novo diretor da empresa no Brasil, Julio Brito. Segundo ele, a empresa começou 2022 com 140 funcionários, está com 190 e deve fechar o ano com mais de 200.
Por isso, o estudo é otimista com os dados sobre essa modalidade de benefício.
“Se esse cenário se concretizar - das empresas que já possuem o benefício somado ao das que pretendem ofertá-lo -, estamos falando de uma prevalência prevista de 68% para 2023”, aponta o estudo.
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