Bloomberg — Quando o banco de investimento de Wall Street em que Naeche Vincent trabalhava disse que ela tinha de voltar ao escritório no ano passado, ela decidiu fazer um vídeo no TikTok sobre como se preparar para entrar no ambiente corporativo pela primeira vez.
A jovem de 24 anos, cujos vídeos conquistaram mais de 2,4 milhões de “likes”, trabalhava em casa desde que começou como analista em 2020 e queria causar uma boa primeira impressão. Ela precisava comprar roupas novas, fazer as sobrancelhas e as unhas.
“Não posso ter unhas compridas; no mundo corporativo não é possível, não com as pessoas com quem trabalho”, disse ela no vídeo, acenando com as unhas compridas.
Uma coisa que Vincent não mencionou no vídeo foi onde ela trabalhava. E em vídeos futuros, incluindo um sobre uma jornada de trabalho de 19 horas, ela também teve o cuidado de não revelar seu empregador.
“O mundo dos bancos é muito rigoroso sobre o que você pode compartilhar online”, disse Vincent em entrevista. “Se você está falando online sobre uma empresa específica, então você basicamente se torna porta-voz. Simplesmente não digo onde trabalho.” Vincent também pediu à Bloomberg que não divulgasse seu empregador, para o qual não trabalha mais.
Os americanos da Geração Z cresceram compartilhando suas vidas nas redes sociais e não veem motivo para parar só porque entraram no mundo corporativo. Para Wall Street, onde a confidencialidade é cultivada à risca, isso representa um dilema. Vídeos do cotidiano sem filtros podem servir como uma ferramenta de recrutamento para um setor que busca atrair talentos jovens e diversos. Mas o conteúdo também pode expor os maiores bancos de Nova York ao mostrar uma cultura de muito trabalho e curtição.
Há vídeos do TikTok que mostram estagiários do JPMorgan (JPM) festejando em um passeio de barco em torno de Manhattan, funcionários do Goldman Sachs (GS) fazendo fila em food trucks e a comida servida no treinamento de verão para estagiários do Morgan Stanley (MS). Há também vídeos recentes que mostram funcionários no escritório começando a jornada tão cedo que é possível ver o sol nascer sobre o rio Hudson, ou analistas trabalhando depois da meia-noite.
Até agora, as empresas têm navegado pela nova realidade com cautela. Alguns bancos incentivam o uso das redes sociais, enquanto outros buscam assumir o controle de sua própria narrativa. O Goldman planeja lançar em breve uma conta do TikTok que compartilhará vislumbres de um dia típico de alguns de seus funcionários juniores.
Ao mesmo tempo, funcionários do Goldman e do Bank of America (BAC) removeram vídeos que as empresas dizem violar suas diretrizes. A maioria dos jovens que publicam nas redes sociais não divulgam onde trabalham para se proteger de possíveis reações adversas e para separar seu conteúdo de seu empregador.
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