Bloomberg — Em uma tentativa de conquistar eleitores moderados, o presidente Jair Bolsonaro prometeu aceitar o resultado das eleições durante entrevista ao Jornal Nacional na noite de segunda-feira (22). Apesar do tom mais ameno, Bolsonaro continuou a levantar dúvidas sobre a integridade das urnas eletrônicas no país.
A entrevista de 40 minutos foi ampla e incluiu perguntas sobre a relação tensa do presidente com o Supremo Tribunal Federal (STF), sua atuação durante a pandemia, seu histórico ambiental e econômico, além de alegações recentes de corrupção no governo.
Questionado se respeitaria o resultado da eleição, o presidente repetiu alegações infundadas de fraude eleitoral em outras eleições antes de responder que aceitará o resultado “desde que a votação seja limpa e transparente”. Depois que o apresentador do programa insistiu na pergunta, ele disse: “Vamos acabar com isso? Está resolvido, vamos para outra questão. Respeitaremos o resultado da votação”, afirmou.
Bolsonaro, que está atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas principais pesquisas de intenção de voto, também buscou minimizar os confrontos com ministros do STF que autorizaram investigações sobre ele e seus aliados por supostamente divulgarem notícias falsas sobre o sistema eleitoral.
“Hoje essa relação está pacificada”, disse. “Espero que tenhamos virado essa página.”
Procurando acelerar sua campanha e tomar a liderança, a decisão de Bolsonaro de se sentar para uma entrevista ao vivo no Jornal Nacional da TV Globo representa uma aposta. Desde sua eleição em 2018, ele critica com o canal de TV, o apresentador William Bonner, junto com grande parte da mídia brasileira.
No entanto, com seis semanas até a eleição, a participação no Jornal Nacional sob um duro questionamento perante uma audiência nacional pode, sem dúvida, dar um impulso à campanha do titular.
Aliados do presidente citados pelos jornais Folha de S.Paulo e O Globo em condição de anonimato disseram que Bolsonaro administrou bem o confronto com os apresentadores do Jornal Nacional, sem perder a calma – o que eles viram como um resultado positivo.
Um monitoramento em tempo real das mídias sociais pela consultoria de opinião pública Quaest mostrou, no entanto, que as reações aos comentários de Bolsonaro foram em sua maioria negativas – 65% dos espectadores, em média, desaprovaram suas respostas, principalmente quando ele repetiu alegações de fraude eleitoral ou ao responder a perguntas sobre a pandemia e a corrupção.
Estratégia de campanha
Horas antes da entrevista, a equipe e aliados de Bolsonaro já trabalhavam para mobilizar apoiadores nas redes sociais, onde o presidente tem uma audiência muito maior do que seu principal adversário, pedindo aos seguidores que assistissem à entrevista, mas troquem de canal assim que ela terminar.
Por sua vez, os opositores também usaram as redes sociais para incitar os críticos de Bolsonaro a baterem na panela durante a entrevista para demonstrar seu descontentamento com o presidente.
Após a entrevista, Bolsonaro publicou nas redes sociais um trecho da entrevista, durante o qual diz ter encontrado o Brasil em uma “situação crítica” em 2019, antes de enfrentar a pandemia, a seca e a guerra na Ucrânia. “Fizemos tudo o que podíamos para que o povo brasileiro sofresse o mínimo possível.”
Três ministros, incluindo o titular da Economia, Paulo Guedes, e pelo menos um de seus filhos acompanharam o presidente ao estúdio da TV Globo no Rio de Janeiro.
A entrevista prepara o terreno para o início na sexta-feira da publicidade da campanha no rádio e na televisão, uma etapa fundamental nas eleições brasileiras, quando os candidatos têm espaço livre na mídia tradicional para apresentar suas propostas.
Duas vezes ao dia, Lula terá 3 minutos e 39 segundos de spots publicitários, enquanto Bolsonaro terá 2 minutos e 38 segundos. O tempo atribuído a cada candidato reflete o tamanho de suas alianças.
O primeiro debate presidencial televisionado está marcado para domingo, mas nem Lula nem Bolsonaro confirmaram presença.
– Com colaboração de Beatriz Reais.
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