Bloomberg — O ex-presidente Lula defendeu eleições livres com alternância de poder na Venezuela, moderando o apoio tradicional e histórico de seu partido ao regime socialista iniciado com Hugo Chávez em 1999.
Lula, que durante seus dois mandatos - de 2003 a 2010 - desenvolveu um relacionamento próximo com o falecido Chávez, disse nesta segunda-feira (22) que deseja que a Venezuela seja “o mais democrática possível” para que o resultado de suas eleições seja aceito por todos.
“Não há presidente insubstituível”, disse ele a jornalistas em São Paulo. “Defendo a alternância de poder no Brasil, na Venezuela e em todos os países.”
Embora Lula deva restabelecer relações diplomáticas normais com a Venezuela se eleito em outubro, seus comentários sugerem um afastamento do alinhamento quase automático que seu governo manteve com Chávez.
Sob o governo do presidente Jair Bolsonaro, o Brasil se juntou aos Estados Unidos de Donald Trump ao rejeitar a reeleição de Nicolás Maduro em 2018, que sucedeu Chávez após sua morte em 2013, e ao apoiar Juan Guaidó como presidente legítimo do país.
Na ocasião, o Partido dos Trabalhadores de Lula emitiu um comunicado defendendo o governo de Maduro, dizendo que reconhecia “o voto popular que o elegeu, de acordo com as regras constitucionais vigentes”. Em anos mais recentes, alas do partido continuaram a defender apoio irrestrito ao regime.
Desde então, o apoio internacional a Guaidó tem vacilado e o Brasil está sob pressão para reconstruir os laços com seu vizinho do norte, cuja economia declinou ainda mais sob sanções internacionais lideradas pelos EUA.
Mas a Venezuela continua sendo uma questão política delicada na campanha presidencial, com Bolsonaro dizendo que a eleição de Lula colocaria o Brasil “no caminho para se tornar outra Venezuela”.
Lula também disse que gostaria de renegociar o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, concluído em 2019 após 20 anos de negociações, mas ainda não implementado.
O acordo assinado por Bolsonaro pode prejudicar o processo de reindustrialização no Brasil, disse Lula, que prometeu adotar medidas para tentar restaurar a relevância da indústria na economia brasileira.
Países europeus passaram a se mostrar mais reticentes com o acordo diante do aumento dos incêndios e do desmatamento na Amazônia em anos recentes. Em outubro de 2020, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução em que pedia mudanças na agenda ambiental dos países do Mercosul, especialmente o Brasil, para que o acordo pudesse ser ratificado.
- Com a Bloomberg Línea.
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