Bloomberg — Novos aplicativos de mobilidade urbana estão enfrentando gigantes como a Uber (UBER) e a Lyft com a promessa de tratar melhor seus motoristas.
Entre eles está o Alto, com sede em Dallas, no estado do Texas, que contrata motoristas como funcionários e oferece uma remuneração anual. A Empower, com sede em McLean, na Virgínia, e a Wridz em Austin, também no Texas, repassam 100% das tarifas das corridas ao motorista, enquanto a Drivers Cooperative, de Nova York, promete uma participação nos lucros.
Motoristas da Uber e da Lyft há muito reclamam de condições que vão desde a cobrança de comissões consideradas elevadas da plataforma até as condições de trabalho. À medida que as quarentenas por causa da pandemia dizimavam a demanda por viagens, muitos motoristas pediram demissão e descobriram que os benefícios do desemprego superavam os salários de dirigir: alguns mudaram para entrega de comida e supermercado, enquanto outros buscavam trabalho em período integral.
Essa mudança na dinâmica de poder entre os motoristas e os aplicativos de transporte fez com que os gigantes da tecnologia pagassem milhões em bônus para atraí-los de volta.
E as startups podem aproveitar essa insatisfação. Mas, para ganhar participação de mercado, eles precisam enfrentar a eficiência com que Uber e Lyft combinam passageiros com motoristas e a enorme escala dessas empresas.
“Muitos motoristas sentem que não são pagos de forma suficiente, que a taxa é muito alta e que as empresas não se importam com eles. Você pode imaginar que, para novas empresas de apps de transporte, é fácil resolver isso”, disse Harry Campbell, motorista de longa data e fundador do blog Rideshare Guy.
“A parte realmente difícil é conquistar os clientes. Há uma razão pela qual ninguém chegou nem perto de derrubar Uber e Lyft.”
Uber e Lyft consideram os motoristas como contratados independentes, sem direitos trabalhistas. A Uber leva quase 27% em comissão. A Lyft recebe uma comissão da viagem, mas não a divulga.
Esse modelo de contrato significa que os motoristas não recebem a garantia de um salário mínimo, seguro, pagamento de horas extras ou outros benefícios. As empresas dizem que isso permite tarifas mais baixas e dá flexibilidade aos motoristas, mas a estratégia tem estimulado ações judiciais e mudanças de legislação.
Uma porta-voz da Lyft, que opera no mercado americano, destacou que o número de motoristas ativos atingiu uma alta em dois anos no segundo trimestre. Uma porta-voz da Uber observou um crescimento no número de motoristas na plataforma e se recusou a fazer mais comentários.
Ambas as empresas trabalharam para incorporar recursos mais amigáveis ao motorista em seus aplicativos nos últimos meses, como medidas que permitem que eles vejam a tarifa antes de aceitar uma corrida.
A startup Alto possui e administra sua frota de carros de luxo e oferece aos motoristas taxas por hora juntamente com benefícios como assistência médica. O presidente-executivo Will Coleman disse que a empresa também procura motoristas de grandes empregadores como a Amazon (AMZN) e cobra dos passageiros um pouco mais do que um Uber comum, embora menos do que o Uber Black.
Modelo de assinatura
Outras startups prometem que os motoristas vão receber 100% da tarifa em troca de uma assinatura. O Wridz foi lançado no início deste ano com uma taxa mensal de US$ 100, por exemplo, embora atualmente esteja executando testes gratuitos para motoristas enquanto cria uma base de passageiros.
A Empower começou no mesmo ano. Ela cobra US$ 250 por mês em Washington, seu maior mercado, onde oferece assinaturas mensais e diárias, enquanto já existem opções mensais e semanais em Nova York e na Carolina do Norte. Seu discurso para os motoristas explora a insatisfação com os apps pioneiros.
“Só temos que encontrar motoristas que são motoristas da Uber e da Lyft, que, na maioria das vezes, odeiam ambas, e sugerir que possam trabalhar por conta própria, ganhar mais dinheiro, ser o cliente real e serem ouvidos”, disse o fundador da Empower, Josh Sear.
Enquanto isso, a Drivers Cooperative, com sede em Long Island, é uma empresa de compartilhamento de viagens de propriedade de trabalhadores que cobra 15% em cada viagem e garante que os motoristas ganhem pelo menos US$ 30 por hora. Qualquer lucro volta para os motoristas.
“Nosso objetivo é atingir o breakeven logo, tornar-se lucrativo, fornecer um serviço de alta qualidade e boa remuneração e benefícios para motoristas”, disse o cofundador Erik Forman.
Desafio para fechar a conta
Erin Hatton, professora de sociologia da Universidade de Buffalo, cujo trabalho se concentra em políticas trabalhistas e sociais, vê uma batalha pela frente para essas empresas.
“É possível que uma empresa com um forte foco nos direitos e proteções dos trabalhadores possa ganhar força contra as empresas mais estabelecidas, dado o histórico ruim dessas empresas nessas questões”, disse Hatton. “Mas está claro que é difícil lucrar nesse setor sem ser altamente subsidiado e/ou cobrar taxas muito mais altas aos consumidores.”
Mas as startups com foco em motoristas são apenas uma fração do tamanho de suas rivais: Uber e Lyft têm um valor de mercado combinado de mais de US$ 60 bilhões.
A Alto já captou US$ 59,5 milhões junto a investidores, e a Empower, US$ 10,1 milhões, de acordo com a Crunchbase. A Drivers Cooperative levantou mais de US$ 1 milhão por meio de crowdfunding. O fundador da Wridz, Steve Wright, diz que a empresa tem capital próprio e não está tão preocupado em competir com incentivos da Uber e da Lyft.
“O incentivo ao motorista não é uma preocupação para nós”, disse ele. “Todo o incentivo de que você precisa é dar ao motorista 100% do que é possível oferecer a ele.”
Não está claro por quanto tempo a Uber e a Lyft continuarão colocando dinheiro para manter os motoristas felizes. As duas empresas com sede em São Francisco são relativamente novas em termos de lucratividade, e as ações subiram depois que relatórios recentes de lucros indicaram que ambas estão prestes a cortar gastos com os bônus a motoristas.
Mesmo que aumente o apelo por empresas menores, elas ainda precisarão atrair clientes dispostos a vê-los passar por alguns problemas a mais. A Driver’s Coop, por exemplo, ainda não tem carros sob demanda prontos para pegar os clientes, a menos que eles estejam dispostos a esperar cerca de 45 minutos a uma hora.
“Infelizmente, não acho que a maioria dos consumidores se importe o suficiente com os direitos dos trabalhadores para fazer a escolha mais ética se for mais cara ou menos disponível”, disse Hatton.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Essa pode ser a aposta mais inteligente de Elon Musk na Tesla