Até onde vão os juros nos EUA? Powell dará mais sinais na reunião de Jackson Hole

A edição deste ano do congresso em Jackson Hole, que acontece no fim da semana, reúne os principais formuladores de políticas do mundo todo

O BC americano quer ter certeza de que a inflação está realmente diminuindo antes de tomar qualquer atitude sobre frear a alta da taxa de juros
Por Matthew Boesler - Jana Randow
21 de Agosto, 2022 | 06:30 PM

Bloomberg — O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, terá uma chance – se quiser aproveitá-la – de redefinir as expectativas dos mercados financeiros quando os banqueiros centrais se reunirem esta semana no congresso anual em Jackson Hole, nos Estados Unidos.

Powell fala sobre as perspectivas econômicas às 11h, no horário de Brasília, na próxima sexta-feira (26), e espera-se que ele reafirme a determinação do Fed de continuar aumentando as taxas de juros para controlar a inflação, embora ele provavelmente não sinalize o quão agressivo isso deve ser já no próximo mês.

“Essa é a pergunta mais importante de todos: quanto Powell microgerenciará as condições financeiras? Chegamos a um ponto em que a economia está mostrando sinais de desaceleração”, disse Laura Rosner-Warburton, economista sênior da MacroPolicy Perspectives, em Nova York.

“Se não virmos mais desaceleração nos dados e, em vez disso, as coisas se recuperarem, o Fed terá que gerenciar mais ativamente as condições financeiras.”

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O mercado de ações mostrou uma recuperação desde a última reunião de política monetária do Fed

O discurso de Powell será o ponto alto da conferência de dois dias em Jackson Hole. O evento, que no passado foi usado pelos presidentes do Fed como um local para fazer anúncios de políticas importantes, reúne os principais formuladores de políticas de todo o mundo.

A membro do Conselho Executivo do Banco Central Europeu, Isabel Schnabel, fala em um painel no sábado. O presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, estará entre os presentes, mas a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, não planeja comparecer.

As ações dos EUA subiram desde a última reunião de política monetária do Fed, no final de julho, em meio a expectativas crescentes de que o banco central começará a desacelerar o ritmo de aperto, bem como sinais de que as pressões inflacionárias podem estar moderando.

Os investidores não se incomodaram com as afirmações estridentes dos formuladores de políticas de que a luta contra a inflação está longe de terminar, embora o próprio presidente ainda não tenha falado desde sua entrevista coletiva pós-reunião, em 27 de julho.

A conferência deste ano será realizada presencialmente pela primeira vez desde 2019. No ano passado, foi transferida para um formato virtual com poucos dias de antecedência, bem quando a variante delta da covid-19 varreu o país. A inflação havia subido acima da meta de 2% do Fed, mas em seu discurso ao fórum, Powell enfatizou que essas pressões provavelmente seriam transitórias e não pareciam ter base ampla.

Agora, um ano depois, a inflação está próxima dos níveis mais altos em quatro décadas, e Powell admitiu que a análise do Fed estava incorreta e que os formuladores de políticas deveriam ter começado a aumentar as taxas de juros mais cedo.

Dado esse pano de fundo – apesar de o último relatório mensal de preços ao consumidor ter mostrado algum otimismo de que a inflação podia ter atingido seu pico –, Powell provavelmente manterá uma linha mais dura, disse Kevin Cummins, economista-chefe dos EUA da NatWest Markets em Stamford.

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“Eles estão tão focados em fazer isso, em parte apenas porque erraram no ano passado com toda a ideia de inflação ‘transitória’, e percebem que a única coisa que podem fazer agora é apertar a política monetária, o que desacelerará a inflação”, disse Cummins.

O Fed elevou a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual em sua reunião de política monetária de julho, depois de um aumento da mesma magnitude no mês anterior. Ambos os movimentos marcaram o ritmo mais rápido de aperto monetário do BC americano desde o início dos anos 80.

Taxas de juros ainda têm um longo caminho a percorrer

No momento, os investidores enxergam a possibilidade de um aumento de meio ponto percentual ou de 0,75 ponto na reunião do Fed, prevista para acontecer nos dias 20 e 21 de setembro. Os números de agosto sobre empregos e preços ao consumidor devem ser divulgados pelo Departamento do Trabalho antes disso, e provavelmente serão o fator determinante para a decisão do Fed.

Na Europa, os formuladores de políticas estão tendo um debate semelhante sobre o quão grande deve ser o próximo aumento de juros.

O BCE está atrás de seus pares na resposta à inflação recorde na economia do bloco, e só começou a aumentar as taxas em julho. Após o aumento de meio ponto do mês passado, muitos formuladores de políticas ainda precisam sinalizar se estão inclinados a dar outro passo desse tipo em setembro ou um movimento menor, de 0,25 ponto, enquanto os riscos de recessão aumentam.

Como o único membro do Conselho Executivo do BCE presente no evento desta semana, Isabel Schnabel falará em uma posição de autoridade. Suas falas no painel sobre as “perspectivas para a política pós-pandemia” podem esclarecer como o BCE planeja fazer malabarismos com desafios de curto prazo, como pressões sobre preços insistentemente altos e uma economia enfraquecida, com outras questões de longo prazo como as mudanças climáticas, por exemplo.

Além do curto prazo, a grande questão é até que ponto o Fed e suas contrapartes em todo o mundo vão levar as taxas de juros.

A presidente do Fed de Kansas City, Esther George, cujo banco sedia o simpósio anual de Jackson Hole, disse na última semana que, se os formuladores de políticas optarem por outro grande aumento no próximo mês ou começarem a fazer reduções para valores menores, eles podem ter que continuar aumentando as taxas ainda por um tempo, até estejam “completamente convencidos” de que a inflação está retraindo.

“Até que ponto aumentaremos as taxas? Acho que não vamos saber. Não saberemos até começarmos a ver como algumas dessas variáveis se juntam – como as peças de oferta e demanda se desdobram – para saber exatamente quando é a hora de parar”, disse George.

“Mas acho que, como outros dizem, precisamos deixar muito claro que teremos que estar completamente convencidos de que a inflação realmente está diminuindo.”

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