Bloomberg — As mudanças climáticas estão provocando estragos em praticamente todos os maiores fornecedores de algodão do mundo e podem contribuir para preços mais altos nos próximos meses.
Na Índia, o país que mais produz, chuvas fortes e pragas reduziram tanto as plantações de algodão que o país está importando suprimentos. Uma onda de calor na China está levantando preocupações sobre a próxima colheita lá.
Nos Estados Unidos, o maior exportador da commodity, uma seca que se agrava está devastando as fazendas e deve levar a produção ao nível mais baixo em mais de uma década. E agora o Brasil, o segundo maior exportador, está lutando contra o calor extremo e a seca que já reduziram os rendimentos em quase 30%.
Essa confluência de eventos climáticos extremos causados pelas mudanças climáticas elevaram os preços do algodão em até 30%. No início deste ano, eles atingiram o nível mais alto desde 2011, apertando as margens dos fornecedores de roupas em todo o mundo e ameaçando aumentar os custos de tudo, de camisetas a fraldas, papel e papelão.
Em uma ligação com investidores no início desta semana, a CEO da Children’s Place, Jane Elfers, descreveu o aumento nos preços do algodão como “um grande problema para nós” e disse que a empresa espera ver algum alívio no segundo semestre do ano.
As perspectivas para o Brasil também não ajudam. A estiagem já secou cerca de 200 mil toneladas de abastecimento, segundo a Abrapa, grupo que representa os produtores. Com a safra 2021-2022 do país quase concluída, a produção agora é de 2,6 milhões de toneladas – ou menos.
O grupo Bom Futuro, um dos maiores produtores de algodão do Brasil, responsável por cerca de 10% da área plantada do país, viu a produtividade cair 27% em relação à temporada anterior.
Julio Cezar Busato, um produtor de São Desidério, na Bahia, sofreu um declínio semelhante. A seca está reduzindo o número de cápsulas de algodão, tornando-as mais leves em todas as principais regiões de cultivo do país, disse ele.
Enquanto isso, a produção dos EUA deve cair 28% na temporada que começou este mês. O país espera que a produção atinja o nível mais baixo desde a temporada 2009-2010, levando os estoques a níveis quase históricos, por causa de uma seca que se tornou tão extrema que o governo dos EUA está racionando a água do rio Colorado. Juntos, os EUA e o Brasil respondem por metade das exportações mundiais de algodão.
O declínio na oferta global tornou-se tão acentuado que está ofuscando os ventos contrários da demanda. O governo e os analistas dos EUA projetam uma queda na demanda devido à queda nas compras de roupas e à desaceleração das economias, principalmente na Europa e na Ásia. E, no entanto, todos os sinais apontam para preços “muito mais altos” do algodão nos próximos meses, com as colheitas diminuindo, disse Andy Ryan, gerente sênior de relacionamento da Hedgepoint Global Markets em Nashville.
“Montanha de dinheiro”
Busato, que também atua como presidente da Abrapa, vendeu 75% do que esperava colher antecipadamente e acabou perdendo grande parte do grande aumento nos preços. Por causa do clima, ele só produziu o suficiente para cumprir suas obrigações contratuais já existentes. “Eu poderia ter feito uma montanha de dinheiro”, disse ele.
O clima criou uma dor de cabeça secundária para os compradores de algodão do mundo. Chuvas prematuras em regiões como Austrália, Paquistão e até mesmo no Brasil também diminuíram a qualidade do estoque, disse Peter Egli, diretor da Plexus Cotton Ltd.
Para não serem pegos de surpresa por mais uma temporada, os agricultores brasileiros devem aumentar suas áreas de cultivo de algodão em 100.000 hectares para 1,7 milhão de hectares para a temporada 2022-2023, com plantios a partir de janeiro.
Agora que a maior parte da safra atual foi vendida, os agricultores procuram começar a proteger a safra de 2023 de forma mais agressiva. “Não queremos perder os mercados asiáticos que conquistamos recentemente”, disse Busato.
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