Bloomberg — O famoso investidor Warren Buffett está aumentando sua participação na Occidental Petroleum Corp (OXY), no que pode acabar sendo sua maior aquisição de todos os tempos.
Na sexta-feira (19), sua empresa Berkshire Hathaway (BRK/A) recebeu a aprovação para comprar até 50% das ações da petroleira. Alguns investidores acreditam que é um passo em direção a uma aquisição total, que pode acabar custando mais de US$ 50 bilhões.
Entenda, a seguir, sete motivos pelos quais a Occidental é tão atrativa para a Berkshire:
1. Petróleo
A inflação parece ser a grande tendência para a primeira metade da década de 2020 e o petróleo é um dos melhores hedges (proteção) existentes. A invasão da Ucrânia pela Rússia e a falta de investimento em novos campos petrolíferos nos últimos cinco anos afetaram os suprimentos, levando a uma estagnação da produção em todos os lugares, da OPEP ao xisto dos EUA.
Enquanto isso, a demanda por combustíveis fósseis tem sido forte após a pandemia, mesmo quando os governos pressionam por uma transição energética, buscando a energia limpa.
Com investimentos em todo o setor de energia, desde serviços públicos até energia solar, Buffett afirma ser realista no debate em torno dos combustíveis fósseis. “As pessoas que estão nos extremos de ambos os lados são um pouco malucas”, disse em uma reunião de acionistas da Berkshire em 2021.
2. Familiaridade
Buffett investiu pela primeira vez na Occidental em 2019, quando a petrolífera estava em uma guerra de lances com a Chevron Corp. para comprar sua rival em Houston, a Anadarko. A CEO da Occidental, Vicki Hollub, voou para Omaha, Nebraska, no jatinho Gulfstream V da empresa, e convenceu Buffett a adicionar US$ 10 bilhões ao seu “cofre de guerra”.
O montante foi o suficiente para fechar o negócio e a Chevron desistiu logo depois. Em troca, Buffett obteve ações preferenciais com rendimento de 8% ao ano mais garantias para comprar mais ações ordinárias a US$ 59,62 cada. Hoje, com a Occidental em US$ 71,29, essas garantias dariam um lucro de mais de US$ 900 milhões, se exercidas.
3. Forte desempenho
Em um primeiro momento, o acordo com a Anadarko foi um desastre, porque lotou o balanço da Occidental com mais de US$ 30 bilhões em dívidas adicionais antes da pandemia. O valor de mercado da Occidental passou de US$ 50 bilhões, antes da transação de 2019, para menos de US$ 9 bilhões no final de 2020, com a queda dos preços do petróleo.
Mas, por outro lado, o movimento criou uma boa jogada de valor para Buffett. Quando o petróleo teve uma retomada no final do ano passado e foi sobrecarregado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, a Occidental estava bem posicionada para se beneficiar. A ação tem o melhor desempenho no S&P 500 este ano, com alta de mais de 140% em comparação com a queda de 11% do índice.
“A Oxy começou este ano fortemente endividada com a exposição maciça ao petróleo”, disse Bill Smead, que administra US$ 4,8 bilhões na Smead Capital Management Inc. e é um dos 20 maiores acionistas da Occidental. O aumento dos preços do petróleo significa que “eles agora estão pagando essa dívida e jorrando dinheiro. É o melhor de todos os mundos.”
4. Caixa
Ter muito caixa tem sido o maior desafio de investimento da Berkshire nos últimos anos. O conglomerado tinha cerca de US$ 105 bilhões em liquidez no final de junho. Com isso, espera-se que gere cerca de US$ 8 bilhões em fluxo de caixa livre a cada trimestre nos próximos cinco anos, de acordo com Greggory Warren, da Morningstar Research. A inflação mais alta em 40 anos é um grande incentivo para colocar esse dinheiro para trabalhar.
A Occidental funcionaria melhor como subsidiária da Berkshire do que como holding de ações “dada a volatilidade que existe nos mercados de energia/commodities”, disse Warren. “Isso pode acabar, no entanto, evoluindo para uma aquisição em câmera lenta, onde a Berkshire compra as participações que a FERC [a agência regulatória dos EUA] permite adquirir até que possa comprar a Oxy inteira”.
5. Xisto
A Occidental não é apenas uma das maiores produtoras da Bacia do Permiano, o maior campo petrolífero dos Estados Unidos, mas também tem um dos custos mais baixos, com o petróleo vendido a apenas US$ 40 o barril, de forma a sustentar seus dividendos.
O West Texas Intermediate (WTI) é negociado atualmente na casa dos US$ 90 o barril. Hollub, CEO da Occidental, refreou a mentalidade “drill-baby-drill” que caracterizou o xisto na primeira década de sua vida útil e agora prioriza os lucros sobre a produção. O fluxo de caixa livre atingiu um recorde de US$ 4,2 bilhões no segundo trimestre.
A compra da Anadarko pode ter sido cara, mas permitiu que a Occidental elevasse suas propriedades no Permiano para 2,8 milhões de acres, 14 vezes o tamanho dos cinco distritos da cidade de Nova York juntos. Também adicionou ativos estáveis e com fluxo de caixa no Golfo do México e na Argélia.
6. Relacionamento com CEO
Buffett tem um bom relacionamento pessoal com Hollub, que começou na reunião de 2019 em Omaha, intermediada pelo CEO do Bank of America (BAC) Brian Moynihan.
Este ano, o investidor veterano elogiou Hollub depois de ler uma transcrição da teleconferência de resultados da Occidental em 25 de fevereiro, na qual ela prometeu disciplina financeira mesmo quando os preços do petróleo estavam subindo.
“Eu li cada palavra e disse que isso é exatamente o que eu estaria fazendo”, disse Buffett à rede CNBC, em março. “Ela está administrando a empresa da maneira certa.”
7. Lei de Redução da Inflação
A indústria do petróleo criticou principalmente a Lei de Redução da Inflação que o presidente Joe Biden sancionou este mês. A legislação de US$ 437 bilhões “desencoraja os investimentos necessários em petróleo e gás” e oferece “as políticas erradas na hora errada”, disse o Instituto Americano de Petróleo (API, na sigla em inglês).
Mas Hollub estava surpreendentemente otimista, chamando a proposta de “muito positiva”. Isso pode ter algo a ver com a expansão dos créditos fiscais para captura de carbono, da qual a Occidental é uma das principais defensoras.
A empresa tem planos de construir a maior planta de captura direta de ar do mundo, que terá um crédito fiscal de até US$ 180 para cada tonelada de carbono sugada do ar.
-- Com a colaboração de Hema Parmar, Katherine Chiglinsky e Joe Carroll.
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