Opinión - Bloomberg

Como as cidades pelo mundo podem se preparar para o calor intenso?

As ondas de calor podem ficar mais longas e mais frequentes; para evitar maiores desastres, certas mudanças devem ser implementadas

Britânicos vão passar dias de calor intenso uma vez a cada 3,5 anos, segundo projeções
Tempo de leitura: 3 minutos

Bloomberg Opinion — Com algumas semanas até a mudança da estação, o verão de 2022 no hemisfério norte já ultrapassou alguns marcos alarmantes.

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Na Índia, antes da temporada da monção, as temperaturas em partes de Nova Delhi excederam os 49°C. Nos Estados Unidos, milhões sofreram uma combinação quase sem precedentes de calor e alta umidade durante todo o mês de julho, ao passo que a Europa foi atingida por incêndios. Até mesmo a Grã-Bretanha emitiu seu primeiro aviso “vermelho”, quando Londres ultrapassou os 40°C. Globalmente, junho e julho deste ano estão entre os meses mais quentes já registrados.

Infelizmente, essas tendências devem piorar, em parte devido ao aquecimento global. Na Índia e no Paquistão, um estudo sugeriu que o calor intenso será 30 vezes mais provável com a mudança climática. Os dias de verão na Grã-Bretanha podem ultrapassar os 40°C uma vez a cada 3,5 anos até 2100 – a antiga projeção era de uma vez a cada 100-300 anos – se as emissões de gases estufa não forem reduzidas.

Devido, em parte, às fracas políticas, os centros urbanos do mundo em rápida expansão – onde o asfalto e o concreto absorvem o calor e a poluição do ar fica retida – provavelmente serão o núcleo dessa crise. As cidades europeias já tiveram o dobro de dias com ondas de calor que seus arredores rurais. Mesmo nas partes temperadas do mundo, as áreas urbanas estão passando por condições climáticas que ameaçam a subsistência; quando não mata, o “estresse do calor urbano” dificulta dramaticamente o trabalho.

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Sem medidas radicais para mudar nossas vidas e nossas cidades, as ameaças à saúde e à produtividade econômica só vão aumentar. Então, como o mundo pode se preparar para os verões mais quentes do futuro?

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O passo mais importante é manter a luta mais ampla contra o aquecimento global, inclusive reduzindo as emissões, aumentando o investimento em energia limpa e tecnologias relacionadas, impondo preços mais altos ao carbono e financiando a pesquisa de tecnologias potencialmente revolucionárias, como a captura de carbono e a fusão nuclear.

Além disso, aferir melhor o problema é fundamental. Isso significa levar em conta não apenas a temperatura, mas também fatores agravantes como a umidade, que pode reduzir a tolerância humana ao clima sufocante, dificultando a transpiração e o resfriamento. Também significa compreender as condições locais com mais detalhes, como a medida em que o calor diminui à noite, como os padrões meteorológicos variam com o tempo e como as temperaturas mais altas estão afetando ambientes urbanos específicos.

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A cidade de Sevilha, na Espanha, que trabalha com o Centro de Resiliência da Fundação Adrienne Arsht-Rockefeller, já está usando esses métodos para classificar as ondas de calor, atrelando medidas específicas a cada uma delas, e está nomeando-as, como já se faz com os furacões, para destacar os perigos.

As medidas para ajudar os mais pobres também devem ser uma prioridade. Os menos abastados, que são mais propensos a trabalhar fora e menos propensos a terem casas climatizadas, tendem a sofrer mais com o calor intenso.

As soluções podem ser simples: em Freetown, Serra Leoa, o pioneiro diretor de aquecimento da cidade introduziu sombras para abrigar mulheres que trabalham nas feiras e planeja acrescentar jardins urbanos e centros de resfriamento. Medellín, na Colômbia, utilizou corredores verdes para reduzir com sucesso o efeito “ilha de calor”, no qual o ambiente com muitas construções absorve a energia do sol e intensifica o calor no local.

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Esse tipo de iniciativa será essencial à medida que as áreas urbanas do mundo inteiro tentarem se adaptar. As cidades precisarão plantar mais árvores e fazer melhor uso dos cursos d’água; construir uma infraestrutura mais resistente para evitar deformação de materiais; exigir edifícios mais verdes e melhor isolamento; e exigir unidades de ar condicionado e ventiladores mais eficientes.

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É necessário adotar tecnologias de redes inteligentes para ajudar a reduzir perdas de energia, integrar energia limpa e manejar picos de demanda. Acima de tudo, é necessário testar novas ideias para tornar a vida urbana mais suportável para os verões quentes que estão por vir.

Muitas destas etapas já estão em andamento. Esperamos que o calor sufocante deste verão ressalte a urgência da mudança.

Os Editores são membros do conselho editorial da Bloomberg Opinion.

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