O jogo virou? Cielo supera Stone em valor de mercado depois de 3,5 anos

Empresas líderes em meios de pagamento atravessam momentos distintos: ação da Cielo sobe cerca de 140% em 2022, enquanto a da Stone cai mais de 50%

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Bloomberg Línea — Parece que o jogo virou. Depois de três anos e meio, a Cielo (CIEL3) voltou a superar a Stone (STNE) em valor de mercado.

A empresa controlada pelo Bradesco (BBDC4) e pelo Banco do Brasil (BBAS3) encerrou a semana avaliada em R$ 14,86 bilhões, segundo dados da Bloomberg News, com uma alta de 139,91% das ações neste ano (apesar da queda de 2,15% nesta sexta).

A ação da Stone desabou mais de 20% nesta sexta (-22% no fechamento, depois de chegar a cair 29% durante a tarde), depois de um resultado trimestral que desapontou investidores e analistas e do anúncio da saída do CFO Marcelo Baldin. O valor de mercado passou para R$ 14,66 bilhões, segundo a Bloomberg News.

A virada concretiza um cenário que parecia impensável há cerca de um ano. O valor de mercado da Cielo chegou a cair para R$ 6,2 bilhões ao fim do terceiro trimestre de 2021, enquanto o da Stone no mesmo período estava em R$ 50 bilhões - ou seja, praticamente oito vezes o tamanho da concorrente.

Desde fevereiro de 2019 a Cielo não tinha valor de mercado superior ao da Stone.

Essa diferença de valores refletia a dinâmica que deu origem ao que se convencionou chamar de guerra das maquininhas, nome mais popular para a disputa em um dos segmentos mais dinâmicos da economia, o da indústria de adquirência.

E enquanto a líder Cielo (CIEL3) perdia market share e valor de mercado com a queda da rentabilidade e da lucratividade, entrantes como PagSeguro (PAGS) e Getnet ganhavam mercado e atraíam a atenção dos investidores.

Nenhuma, porém, despontou tanto como a Stone, que estrelou um concorrido IPO na Nasdaq em outubro de 2018, atraindo investidores de peso como a Berkshire Hathaway de Warren Buffett, a Ant Financial, o braço financeiro do Alibaba, e a 3G Capital, de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. No auge, no fim de 2020, a empresa chegou a valer R$ 135 bilhões.

A maré virou contra a Stone depois que uma incursão na oferta de crédito a pequenas empresas gerou perdas de milhões de reais em inadimplência e suas ações entraram em colapso em questão de meses. A empresa teve que chegar ao ponto de suspender a oferta de empréstimos.

Com a forte queda desta sexta, as ações estão cerca de 80% abaixo da marca de um ano atrás, negociadas a US$ 9,06 no fechamento. Um ano atrás, estavam na casa de US$ 50.

“Estamos nadando contra a maré de custos de financiamento mais altos e nossas despesas financeiras aumentaram significativamente no segundo trimestre”, disse Rafael Martins, vice-presidente de finanças e relações com investidores da empresa, em entrevista à Bloomberg News.

Na avaliação dos analistas do Itaú BBA, em relatório assinado por Pedro Leduc, o novo guidance “sugere uma desaceleração do crescimento em volume no 3Q22, mas uma aceleração de ganhos de eficiência. Nós permanecemos neutros com as ações a 24x o P/L 2023″.

A Cielo, por outro lado, tem surpreendido analistas e investidores: apresentou um lucro bem acima do esperado no segundo trimestre - mesmo excluindo itens não recorrentes - e fez com que alguns analistas ficassem otimistas com a empresa pela primeira vez em alguns anos.

“Recomendamos a Cielo como uma oportunidade de compra de curto prazo desde o início do ano, e a melhora operacional do 2T foi ainda melhor do que esperávamos. O consenso ainda é conservador em suas estimativas de 2022-23, então ainda vemos grandes riscos positivos”, escreveram em relatório nesta semana os analistas Eduardo Rosman, Thiago Paura, Ricardo Buchpiguel e Vitor Melo, do BTG Pactual (BPAC11).

“Como a Cielo ainda é negociada em atraentes ~8,0x P/L 2023 (provavelmente mais do que isso, dado que vemos risco de alta para nossos números), com forte momento operacional e implementou com sucesso sua agenda de transformação, acreditamos que uma recomendação de compra no papel é justificável”, apontaram os analistas, com preço-alvo em 12 meses de R$ 6,00 (o papel fechou na sexta a R$ 5,47).

A empresa chegou a ser no passado uma das “queridinhas” dos investidores no setor financeiro, oferecendo tecnologia de pagamentos a comerciantes ao redor do Brasil e também permitindo o adiantamento do recebimento de valores futuros. Isso foi colocado em xeque após uma série de empresas entrarem no setor com preços menores aos consumidores, fazendo com que a Cielo perdesse espaço.

Agora, após a taxa básica de juros subir de 2% para 13,75% ao ano desde março de 2021, os “novatos” do setor enfrentam dificuldade em acessar capital barato para oferecer crédito, enquanto a Cielo - graças aos grandes bancos controladores que ajudam a diminuir custos de captação - leva vantagem, segundo destacou Henrique Navarro, analista do Santander, à Bloomberg News.

Apesar da alta recente, o valor de mercado da Cielo ainda é uma fração do valor alcançado alguns anos atrás. Ao fim de 2017, ou seja, há cerca de quatro anos e meio, o market cap era de R$ 63,8 bilhões, segundo dados da Bloomberg News.

- Com a Bloomberg News.

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