Como a crise de energia está desviando gás de países pobres para a Europa

Com guerra na Ucrânia, entregas de gás antes programadas para o Paquistão ou Índia já foram redirecionadas para o velho continente

Chimenea
Por Stephen Stapczynski - Anna Shiryaevskaya e Faseeh Mangi
19 de Agosto, 2022 | 12:41 PM

Bloomberg — A guerra da Rússia na Ucrânia leva a Europa a se preparar para um inverno difícil, mas os custos sobem ainda mais em países emergentes, onde governos tentam manter o fornecimento de energia para cidadãos que enfrentam a aceleração da inflação.

O governo do Paquistão implementou cortes de energia e elevou as contas de luz, porque não consegue mais garantir combustível suficiente. Lojas em Bangladesh agora fecham às 20:00 como parte das medidas de austeridade energética, enquanto o governo do México aumentou os subsídios para amortecer os custos da eletricidade residencial.

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A crise ocorre em um momento particularmente difícil: com a transição global para fontes de energia mais limpas, economias desenvolvidas não investiam em projetos para elevar a produção de combustíveis fósseis, enquanto países mais pobres eram pressionados a adotar gás natural, de combustão menos poluente. Agora, com os preços do gás 150% mais altos desde a invasão russa em fevereiro e nações mais ricas com mais recursos para garantir suprimentos adequados, mercados emergentes não podem competir.

“Parece que não há maneira de que consigam superar os lances de países desenvolvidos”, disse Muqsit Ashraf, que lidera a prática de Indústria de Energia Global da Accenture, em Houston. “Isso tem implicações econômicas significativas; também terá um impacto em sua capacidade de financiar outras prioridades econômicas e nacionais.”

É um problema enfrentado por vários países em desenvolvimento.

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As entregas de gás antes programadas para o Paquistão ou Índia já foram redirecionadas para a Europa, onde compradores podem pagar preços mais altos, de acordo com traders de energia. O Sri Lanka tenta garantir combustível de fornecedores frequentes, enquanto a Argentina não comprou cargas de gás natural liquefeito (GNL) para agosto depois da alta dos preços.

As contas de importação de energia para países desenvolvidos respondem atualmente por 2% a 4% do produto interno bruto, segundo Ashraf. Como comparação, esses custos para algumas nações emergentes ultrapassaram 25% do PIB, disse. Enquanto isso, a desvalorização cambial mantém os custos de importação proibitivamente altos, o que aumenta a necessidade de medidas para controlar a inflação.

Governos da América Latina responderam com o aumento de subsídios e corte de impostos para a gasolina e diesel com o objetivo de acalmar cidadãos descontentes, que ainda tentam se recuperar da pandemia. O México vai gastar cerca de US$ 25 bilhões em subsídios a combustíveis e eletricidade este ano. No Panamá, o governo foi obrigado a agir depois que manifestantes irados foram às ruas.

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Na África, o Banco Mundial adotou a atípica medida de subsidiar passageiros de ônibus em Moçambique para mitigar a crise, enquanto no Burundi, a escassez de gasolina obriga motoristas a comprarem combustível no mercado paralelo com preço três vezes acima do oficial. O presidente de Gana, Nana Akufo-Addo, agora busca dobrar o apoio do Fundo Monetário Internacional para US$ 3 bilhões, após protestos por questões como o aumento dos preços dos combustíveis.

Com as taxas de gás natural liquefeito em alta de cerca de 1.300% nos últimos dois anos, Paquistão e Bangladesh não conseguem garantir uma única remessa local há meses. A BSRM Steels, maior siderúrgica de Bangladesh em valor de mercado, reduziu a produção em pelo menos 20% devido à crise de energia do país, segundo Aameir Alihussain, diretor-gerente da empresa.

Tawfiq-e-Elahi Chowdhury, consultor de energia e recursos minerais do primeiro-ministro de Bangladesh, pediu paciência e disse no início do mês: “Não posso prometer nada, a menos que encontremos uma enorme reserva de gás”.

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Mas cidadãos de muitos países perderam a paciência.

Manifestantes paquistaneses bloquearam estradas em todo o país. Em um incidente, atiraram pedras na polícia, que teve que recorrer ao uso de canhões de água para dispersar a multidão. No Panamá, rodovias e portos foram bloqueados.

“Quanto mais a crise de energia durar, maior a probabilidade de haver distúrbios civis em todo o mundo”, disse Susan Sakmar, professora assistente visitante do Centro de Direito da Universidade de Houston.

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