Startups e fundadores novatos são os mais afetados por novas políticas de VCs

Em tempos adversos, fundos de capital de risco ficam mais seletivos com fundadores

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Bloomberg Línea — Após a onda de demissões na América Latina e uma mudança de prioridades nos fundos de capital de risco, o dinheiro está ficando concentrado em algumas startups, e os empreendedores novatos são os mais prejudicados.

“Em tempos turbulentos, os fundos de capital de risco estão escolhendo investir mais capital em fundadores experientes”, concluiu um relatório da Associação Latino-Americana de Capital de Risco e Private Equity (Lavca, na sigla em inglês).

Segundo a organização, somente no primeiro semestre do ano, os fundadores que já haviam levantado capital no passado levantaram 43% dos dólares de fundos de capital de risco, um novo recorde para a região, de acordo com o relatório.

A Lavca reconhece o ritmo mais lento no fluxo de negócios, o que coincidiu com condições econômicas adversas devido às altas taxas de juros e ao aumento da inflação na maioria das economias latino-americanas.

Ainda assim, a Lavca afirma no relatório que “o capital de risco está tendo seu segundo ano recorde, com US$ 5,4 bilhões investios em 541 negócios no primeiro semestre de 2022″.

Ainda segundo o relatório, apesar dos desafios, o capital continua fluindo, fazendo com que os investimentos em startups em fase inicial aumentem 113% e investimentos semente aumentem em 48% até o momento, em comparação com o capital investido no primeiro semestre de 2021, quando a pandemia do coronavírus ainda estava sendo vivenciada em força total.

Algo interessante é que quase um terço dos dólares provenientes de fundos de capital de risco foram para startups lideradas por mulheres no primeiro semestre deste ano, o que representou um novo recorde desde que Lavca começou a monitorar essa métrica em 2019.

Entre as startups lideradas por mulheres que receberam financiamento de capital de risco no primeiro semestre de 2022 estão a plataforma de ‘compre agora, pague depois’ KEO World, de Miami, a proptech Habi, da Colômbia, a HRtech Sólides, do Brasil, e a fintech Kushki, do Equador”, observou ela.

Em conversa recente com a Bloomberg Línea, a presidente da Associação Colombiana de Capital Privado (ColCapital), Paola García Barreneche, disse que “os fundos de capital de risco estão sendo muito mais rigorosos.

“Outro dia, tivemos uma entrevista com a presidente de nossa diretoria, Patricia Sáenz, da EWA Capital, e ela disse: ‘vejo 600 startups e acabo uma ou duas. Portanto, a revisão é muito mais completa e analisamos os números com muito cuidado”, disse.

Ela explicou que a revisão mais minuciosa envolve focar mais nos antecedentes dos empreendedores que lideram as empresas e na força de sua capacidade de adaptação diante dessas situações.

Isso implica analisar, por exemplo, “qual é o conhecimento que eles trazem, que torna seu empreendimento único e que pode ser escalado”.

“Já ouvi isso de CEOs de fundos capital de risco e até mesmo de notórios empresários que dizem: ‘temos que desacelerar porque não podemos continuar neste ritmo, os valuations não podem ser tão inflados, e não podemos continuar nesta dinâmica de queima de capital’, temos que frear um pouco”, disse ela na entrevista.

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