Loft transfere Nomah para Casai e investe na fusão das duas empresas

Andreessen Horowitz e Monashees também aportam dinheiro na nova startup, que continua a operar no modelo de locação flexível de curta ou média duração

Nico Barawid, CEO da Casai, e Thomaz Guz, CEO da Nomah, que agora vão trabalhar juntos
18 de Agosto, 2022 | 05:59 PM

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Bloomberg Línea — A startup mexicana Casai e a brasileira Nomah, que tinha sido adquirida pelo unicórnio Loft em 2020, fecharam um acordo de fusão. A Loft vai transferir suas ações da Nomah para a Casai e será investidora na nova empresa. A Bloomberg Línea tinha antecipado as negociações da transação no fim de julho.

Ambas as empresas operam com um modelo de locação flexível de curta ou média duração (short rental).

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Dois dos atuais investidores das duas empresas, Andreessen Horowitz e Monashees, também vão aportar dinheiro na nova startup resultante do negócio. Casai e Nomah não divulgam os valores.

A Bloomberg Línea apurou que a Casai tinha tentado captar com esses investidores antes, mas o cheque não teria vindo. Em julho, o CEO da Casai, Nico Barawid, teria dito aos funcionários que a empresa estava ficando sem dinheiro e que esperava fechar uma fusão com a Nomah o mais rápido possível.

Desde setembro a Casai tinha conversas para captar uma Série B, conforme apurou a Bloomberg Línea. Mas a situação ficou mais complexa quando o aporte (Série B ou até mesmo uma extensão da A) não veio.

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Do outro lado, Florian Hagenbuch, co-fundador e presidente da Loft, há tempo procurava deixar a Nomah e levá-la para uma fusão.

Com o negócio anunciado nesta quinta, a Loft se torna a maior acionista da nova empresa resultante da fusão. A Bloomberg Línea apurou que a nova empresa também considerou receber aporte da celebridade do reggaeton Daddy Yankee. Mas a Casai afirma que não há, no momento, novos investidores.

Procurada, a Loft disse, por meio de nota, que entende que a fusão é uma solução que preserva o serviço, os empregos e o ambiente de inovação do mercado de hospedagens de curto prazo na América Latina, “abrindo espaço para o surgimento de uma empresa capaz de ser sustentável no novo contexto global”.

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Uma pessoa com conhecimento do assunto que preferiu não ser identificada disse que a Nomah sempre foi vista como uma empresa autônoma dentro do grupo Loft.

Seis meses de integração

A Loft cortou 543 pessoas desde abril. Já a Nomah demitiu 30 funcionários no início de agosto. Na ocasião, essa pessoa disse que alguns funcionários da Nomah receberam convite para migrar para a Loft.

“Vamos consolidar a expertise e o portfólio das duas empresas com essa fusão”, disse Barawid em entrevista à Bloomberg Línea. “Nos próximos seis meses, estamos focando em construir uma marca forte para dominar o mercado. Temos cerca de 3 mil unidades [de imóveis para locação] entre o México e o Brasil e estamos animados para trabalhar juntos.”

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A Bloomberg Línea tinha apurado que o CEO da Nomah, Thomaz Guz, ficaria seis meses trabalhando na integração das empresas e depois sairia. Questionado, Guz disse que “isso não está definido”.

“Ficarei trabalhando junto e sou acionista dessa nova companhia, por isso quero ter uma relação de longo prazo e gerar o melhor valor. Estou completamente focado nos nossos desafios agora”, afirmou em entrevista à Bloomberg Línea.

Entre os desafios está a integração de cultura, do time e, em especial, do portfólio de imóveis. Neste ano, a Nomah esperava estender sua operação para o Nordeste e tinha fechado uma parceria com a incorporadora e construtora Haut, de Pernambuco. Perguntado se esse contrato será mantido, Guz disse que “ainda não há uma definição em relação ao portfólio”.

“Temos uma relação muito forte com incorporadoras por todo o Brasil e queremos continuar trabalhando perto deles com o Nico e a Casai”, disse Guz. Mais de 90% dos apartamentos geridos pela Nomah ficam em São Paulo.

Com a Casai, o plano é expandir a operação no próximo ano no Brasil, no México e em outros países da América Latina, sendo o maior player para estadias curtas da região.

M&A no fim do túnel

Para a Casai, o México tinha uma performance muito abaixo da operação do Brasil. Uma pessoa familiarizada com o assunto disse que, em um ano de operação - que se iniciou na pandemia -, o Brasil havia quase triplicado seu tamanho em comparação com o México, que já tinha três anos em operação.

“Parecia que eles só queriam fazer o seu trabalho e ir para casa sem se preocupar, que achavam ‘chique’ trabalhar em um co-working no bairro mais nobre da Cidade do México. Eles não sabiam onde estavam e tinham pouco objetividade em relação a onde queriam chegar”, disse uma pessoa a par das operações da Casai no México, que preferiu não ser nomeada.

Essa pessoa disse que pareciam duas empresas diferentes. Uma no Brasil, que funcionava bem, e uma no México, em que as equipes tinham dificuldades para “resolver as ineficiências”.

“Eu nunca trabalhei em um ambiente tão bom, mas havia muitas pessoas em cargos estratégicos que não viam o tamanho da complexidade do negócio e como as decisões que tomavam impactavam negativamente outras áreas da empresa”, disse essa pessoa consultada pela Bloomberg Línea.

No México, a Casai demitiu pelo menos 20 funcionários e não pagou a rescisão integralmente. A empresa propôs um acordo com os demitidos para pagar em parcelas. “Estamos em negociação com os funcionários do México”, disse Barawid.

No Brasil, o pagamento a pelo menos 60 desligados foi feito de forma integral, como demanda a lei trabalhista. “Ainda estamos analisando como o time vai ficar com a fusão”, afirmou Guz.

Agora, com o apoio dos investidores, o foco da Casai é construir uma empresa sustentável e atingir o breakeven. “O negócio da Casai vem performando muito bem e nossa empresa nunca teve menos de 85% de ocupação nas unidades. A receita vem crescendo”, afirmou Barawid.

O empreendedor mexicano, que agora passa um tempo em São Paulo dedicado à integração dos dois negócios, disse que achou “uma luz no fim do túnel” com a fusão.

“Viemos nos adaptando ao novo cenário macroeconômico e procurando ter uma empresa sustentável em vez de focar em crescimento. É uma lembrança de que é importante focar no fundamental do negócio. Se você constrói uma empresa forte, com forte mindset em sustentabilidade, sempre terá sucesso no futuro.”

- Colaborou Yanin Alfaro.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups