Bloomberg Línea — O Google (GOOGL) anunciou nesta quinta-feira (18) que vai passar a incluir os anúncios de candidatos a cargos estaduais nas plataformas da empresa em seus relatórios de anúncios políticos.
A nova funcionalidade vai entrar no ar no início de setembro, segundo o Google. A partir desta quinta, no entanto, os anunciantes começarão a ser notificados para que passem pelo processo de verificação e possam veicular as peças.
O Relatório de Transparência de Assuntos Políticos foi lançado pelo Google em 23 de junho. Mas o site só computava os anúncios que se referissem a candidatos a cargos federais, a detentores de cargos federais ou a partidos políticos.
Já havia anúncios de candidatos a governador ou deputado estadual, mas isso apenas se o candidato fosse detentor de algum cargo federal, como é o caso do deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), candidato a governador do Rio de Janeiro.
No relatório divulgado com dados até aquele momento, a produtora de vídeos Brasil Paralelo aparecia como a empresa que mais havia gastado dinheiro com anúncios políticos nas plataformas do Google. A produtora havia gastado R$ 368 mil em 647 anúncios desde novembro até então.
Um mês depois, no entanto, o PL, atual partido do presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, assumiu o posto do maior anunciante: foram R$ 740 mil em 15 anúncios veiculados por seis dias no final de julho. Até a quarta-feira (17), o partido havia gastado R$ 801 mil.
Campanha
Em texto divulgado nesta quinta, o Google disse que a “ampliação do escopo do relatório” foi anunciada para “oferecer transparência para os anúncios exibidos em nossas plataformas”. “O Relatório de Transparência de Anúncios Políticos faz parte de nossos esforços para apoiar as eleições no Brasil”, diz a empresa.
Logo depois que o relatório foi publicado, no entanto, o grupo Sleeping Giants e a ONG Intervozes, que milita na área de Comunicação, em campanha nas redes sociais, apontaram que o Google supostamente seria menos transparente com os anúncios políticos no Brasil do que em outros lugares.
A crítica da campanha era justamente a falta de informações sobre candidatos a cargos locais. “Grande parte do impulsionamento de conteúdos com ataques ao sistema eleitoral e aos povos tradicionais, por exemplo, é feita por políticos nas esferas municipal e estadual”, disse então o Sleeping Giants, em nota.
O grupo se baseou em estudo do Netlab, grupo de estudos sobre internet e redes sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que levantou informações sobre os anúncios políticos no Facebook.
Os pesquisadores computaram nesse estudo que, entre 2018 e 2022, houve 3,1 mil anúncios com “ataques à imprensa” e 9,3 mil anúncios em defesa do “voto impresso” - uma estratégia para desqualificar o sistema eleitoral brasileiro, que utiliza urnas eletrônicas, por pessoas alinhadas com uma das principais ideias defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro. E muitos desses anúncios foram pagos por candidatos a cargos estaduais ou municipais, conforme o levantamento.
Como parte da campanha, o Sleeping Giants e a Intervozes enviaram uma notificação à gestora BlackRock, um dos principais acionista da Alphabet (GOOGL), controladora do Google. O objetivo era tentar fazer com que a gestora pedisse ao Google para explicar por que o relatório brasileiro teria supostamente menos detalhes que o de outros países.
O Google nega que essa tenha sido a motivação para o novo anúncio. Segundo a gerente de comunicação do Google Brasil, Claudia Tozetto, o relatório não trata do nível estadual “na maioria dos países em que está disponível” - apenas nos Estados Unidos e na Índia.
A executiva afirmou que o plano sempre foi detalhar também os anúncios locais no Brasil: “Já planejávamos o relatório em nível estadual quando lançamos o site, mas ainda não sabíamos quando isso poderia ser anunciado”, disse.
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