BNDES: venda de ações de grandes grupos pode capitalizar pequenas empresas

Presidente do banco estatal, Gustavo Montezano diz que política de aportes em grandes companhias, de governos passados, ficou para trás

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Bloomberg Línea — Gustavo Montezano, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e Daniella Marques, presidente da Caixa Econômica Federal, falaram nesta manhã a uma plateia de banqueiros e investidores, em um evento promovido pelo banco BTG Pactual (BPAC11), o Macro Day.

Em painel que tratava sobre os papéis dos bancos públicos na sociedade, Montezano afirmou que o BNDES tem planos de usar uma parcela dos recursos levantados com a venda da participação em empresas como a Eletrobras (ELET6), Petrobras (PETR3, PETR4) Vale (VALE3) e JBS (JBSS3) para investir em micro e pequenas empresas pelo Brasil.

Segundo o presidente do BNDES, o investimento não seria direto, e, sim, por meio de um aporte do banco público em fundos de investimento, incluindo fundos de capital de risco, ou venture capital. A ideia é capitalizar as empresas por meio da compra de participação societária e faz parte da política do banco de priorizar negócios de pequeno e médios portes na concessão de crédito.

“E se pegarmos 10% desses recursos, R$ 8 bilhões, que são cerca de 6% ou 7% do patrimônio do BNDES, e capitalizarmos 4 mil empresas brasileiras com equity, colocando R$ 2 milhões por empresa? Eu tenho esse sonho”, disse.

Montezano ressaltou que a estratégia de focar a atuação do banco em empresas menores rende “mais votos” à classe política.

“A classe política entendeu que, em vez de dar R$ 10 bilhões para uma empresa grande ficar com o subsídio para ela, direcionar R$ 1 bilhão para mil empresas pequenas gera mais desenvolvimento social, mais desenvolvimento econômico e mais voto no final do dia.”

Mudança de estratégia

O presidente do BNDES disse que o banco saiu de uma política “monopolista que distribui subsídio” para grandes empresas para se tornar “um banco que opera a mercado”, o que ele chamou de uma “transformação brutal”. Ele afirmou também que o banco enfrentava problemas devido à “atuação como monopolista”, citando a aversão ao risco e uma ausência de incentivo à modernização.

“Banco monopolista que distribui subsídios atende a beneficiários, e não clientes. Um banco que não se aproxima dos clientes e não se aproxima dos negócios vive um problema”, disse.

Marques, que assumiu a presidência da Caixa depois da saída de Pedro Guimarães diante de uma série de denúncias de casos de assédio, chamou a atenção para o que ela considera uma necessidade de “choque de governança”, aumentando o acesso a crédito para micro e pequenos empresários.

A executiva afirmou que o problema ganhou luz com a digitalização das operações, com a “bancarização” da população que passou a receber o Auxílio Emergencial durante a pandemia.

“Se a Caixa não faz orientação financeira na base, o capitalismo popular, para finalizar essa jornada, se não estiver orientando, não sei quem vai estar. Quero aprofundar essa vocação e integrar agendas.”

Marques disse que, depois da etapa de “bancarização dos invisíveis”, o próximo passo agora é inserir essa população de fato no mercado. E adiantou que em breve o banco lançará um programa que será um convite à formalização - sem dar maiores detalhes.

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