Itaúsa: fatia da CCR foi última compra e foco agora é reduzir o endividamento

Alfredo Setubal, CEO da holding, prevê que o percentual do lucro distribuído vai retomar patamar histórico com aumento de dividendos das empresas adquiridas

Alfredo Setubal, chief executive officer of Itausa Investimentos Itau SA
16 de Agosto, 2022 | 03:25 PM

São Paulo — Com fama de boa pagadora de dividendos, a Itaúsa (ITSA4) andou decepcionando sua base de 920 mil acionistas, dos quais cerca de 915 mil pessoas físicas, que se acostumaram com o elevado patamar de payout (percentual do lucro distribuído). A holding que controla o Itaú Unibanco (ITUB4) chegou a distribuir até 90%, mas essa fatia do lucro caiu para o mínimo de 25%, percentual fixado em seu estatuto social.

O CEO da companhia, Alfredo Setubal, explicou os motivos da redução, como a alta da taxa Selic e da inflação, e sinalizou um aumento do payout para o patamar histórico - em torno de 40% e 50% - a partir do crescimento dos dividendos das empresas do portfólio, durante teleconferência com investidores e analistas sobre o resultado trimestral nesta terça-feira (16).

O executivo disse que a Itaúsa reduziu o payout porque decidiu reinvestir o lucro na expansão dos negócios do banco e das empresas não-financeiras de seu portfólio -Alpargatas (ALPA4), Dexco (DXCO3), Copa Energia, Aegea e NTS- e reduzir a alavancagem decorrentes desses investimentos.

“No médio prazo, em dois a três anos, diminuindo o Capex [investimentos], vamos ter um crescimento muito forte de dividendos dessas empresas. A Itaúsa não vai reter dividendos e vamos usar a venda das ações da XP [XP] para pagar o passivo”, afirmou Setubal.

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O executivo disse que, entre 2009 e 2016, a média do “payout” chegou a 37%, acima do mínimo estatutário de 25%, atingindo 90% em 2017, mas essas variações maiores foram descritas pelo executivo como “pontos fora da curva” em razão do excesso de capital do banco na época.

A Itaúsa anunciou na noite de segunda-feira (15) o pagamento de proventos que, para investidores que ficaram no capital da empresa nos 12 meses até o fim de junho, vão totalizar R$ 4,6 bilhões.

Segundo o CEO, uma restrição imposto pelo Banco Central em 2020, ano do início da pandemia da Covid-19, limitou o “payout” dos bancos ao mínimo estatutário, o que reduziu o fluxo de dividendos para a holding.

“O banco está em crescimento, gerando capital, mas não excesso de capital como nos anos anteriores. A carteira de crédito está crescendo e seus negócios têm distribuído menos dividendo porque ele está reinvestindo seus lucros no crescimento de sua operação”, explicou Setubal.

A Itaúsa espera voltar ao patamar de payout da média de 2016 ou até “um pouco acima”. “O payout voltará a crescer após a desalavancagem e a conclusão do ciclo de investimentos feitos pelas empresas não financeiras em nosso portfólio. Vemos boas perspectivas de crescimento”, disse.

Venda da fatia na XP

Setubal disse que a venda das ações detidas pela holding no capital da XP poderá ser uma alternativa para diminuir o seu nível de endividamento. A Itaúsa ainda possui 10,3% de participação remanescente na empresa, com um valor de mercado da fatia estimado em R$ 9,2 bilhões.

Neste ano, a Itaúsa já vendeu 3,4% da XP por R$ 2,4 bilhões e usou parte dos recursos para adquirir, em conjunto com o grupo Votorantim, a participação detida pelo grupo Andrade Gutierrez na CCR (CCOR3), companhia de concessões públicas ligadas à mobilidade (rodovias, portos e aeroportos).

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Uma quinta emissão de debêntures, realizada na semana passada, foi fonte de metade dos recursos para pagar o negócio, disse o CEO.

“A CCR é uma grande geradora de caixa. Foi uma alocação de R$ 3 bilhões. Vamos ter dois membros no conselho de administração e pretendemos contribuir para a governança da companhia”, afirmou Setubal.

O executivo disse que a compra da fatia na CCR foi o último investimento realizado pela Itaúsa e que a holding não está em busca de novos investimentos no curto e no médio prazo, no Brasil e no exterior. O foco agora será a desalavancagem da holding. “Neste momento vamos dar uma ‘paradinha’. Vamos consolidar esses investimentos a fim de aumentar o fluxo de dividendos.”

Setubal afirmou que o plano de desinvestimento da Itaúsa na XP é seguir o cronograma atrelado à dívida da holding ao longo do tempo. A dívida bruta da Itaúsa chegou ao fim de junho no valor de R$ 8,1 bilhões, com prazo médio de 4,5 anos. O dinheiro em caixa (R$ 2,4 bilhões) e a fatia da XP (R$ 9,1 bilhões) são suficientes para pagar essa dívida, observou a CFO da Itaúsa, Priscila Grecco.

“Vamos casar a venda da participação da XP para amortizar nossa dívida [...] Com os recursos da venda das ações da XP, podemos otimizar os impostos a serem pagos pela companhia, usando os dividendos e juros sobre capital próprio paga compensar o prejuízo fiscal como holding”, detalhou o executivo.

Ele disse ainda que, a partir de setembro, a Itaúsa começa a registrar o resultado da CCR pelo método de equivalência patrimonial.

A Andrade Gutierrez, que teve seu nome envolvido no escândalo da Operação Lava Jato e tenta se reerguer, saiu do capital da CCR a fim de levantar recursos para pagar credores.

Críticas ao desconto da ação

O CEO da Itaúsa voltou a criticar o atual desconto das ações da holding em circulação no mercado, apontando que, em dez anos, os papéis acumularam alta de 203,3%, enquanto o Ibovespa subiu menos no mesmo período (81,3%). No fim do primeiro semestre, o principal índice da Bolsa brasileira acumulou desvalorização de 6%, enquanto ITSA4 teve queda menor, de 4,1%.

“O valor de mercado da Itaúsa é de R$ 73,6 bilhões, um desconto de 23,6%. Está exagerado e não reflete os fundamentos da Itaúsa. Não tem razão objetiva e técnica pata ter esse desconto. Deveria voltar para algo em torno de 20%. O desconto mais adequado seria de em torno de 15%”, disse o CEO, acrescentando o potencial de aumento de geração de caixa do portfólio de investimentos da holding.

Setubal disse também que a companhia não vai renovar, no fim deste mês, seu programa de recompra de ações. Foi o que decidiu, ontem, o conselho de administração.

“Optamos por não renovar. Não temos como recomprar as ações da Itaúsa no curto prazo. Quando a taxa de juro caixar e o fluxo de caixa estiver mais folgado, podemos abrir um novo programa de recompra no médio prazo, mas precisamos ter horizonte e clareza melhor do nosso fluxo de caixa para fazer investimentos em nossas próprias ações”, afirmou o executivo.

Migração para o Novo Mercado

Segundo Setubal, a Itaúsa não planeja migrar do nível 1 de governança corporativa para o Novo Mercado da B3, convertendo ações preferenciais em ordinárias. “Não há estudo. O que temos buscado é estar com a governança adequada, com as melhores práticas do Novo Mercado”, comentou.

Ele acrescentou que a Itaúsa já adota um “tag along” de 80% para ações PN, ou seja, se a companhia for vendida - ”a venda de controle não está em discussão”, reforçou o CEO -, os acionistas com ação preferencial têm garantido 80% do valor por ação da eventual transação.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.