Bloomberg Línea — Para o co-presidente da General Atlantic Martin Escobari, os fundadores de startups precisam ficar atentos para aproveitar as oportunidades que surgem depois de sobreviverem “ao momento mais escuro da noite”. Mas ele faz um alerta: “Ainda não estamos no momento mais escuro da noite, mas vai chegar”, disse em evento promovido pela Endeavor para Scale-Ups nesta terça-feira (16) em São Paulo.
Boliviano com 20 anos de Brasil, Escobari hoje vive em Nova York e acredita que haverá uma recessão nos Estados Unidos. Por essa razão, afirma que o pior da crise ainda não passou.
Ele vê as eleições no Brasil, o conflito com a China e a recessão americana como três nuvens escuras no horizonte. “Não sei se todas vão fazer chover”, disse. Um dos primeiros a falar de ajuste no Brasil no início do ano, o investidor aconselha empreendedores a se preparar para o pior. “Adoro uma boa crise”, pontuou, citando que em situações assim “as cartas são reorganizadas” e os melhores conseguem se destacar.
“Quando eu olho minha carreira de investidor, minhas sete grandes tacadas na história foram em crises”, contou.
A primeira crise mencionada pelo co-presidente da GA foi o estouro da bolha da Internet em 2000. Co-fundador da empresa de e-commerce brasileira Submarino, Escobari tinha captado US$ 200 milhões na época. “O equivalente a levantar US$ 2 bilhões hoje”, explicou. “Se você tinha dinheiro em caixa, você não conseguia fazer IPO. Por isso tinha que sair torrando dinheiro”, lembrou.
Na véspera do IPO, o Submarino valia US$ 1,5 bilhão, segundo Escobari. Mas, com a crise das pontocom, os investidores fugiram da oferta pública inicial, que acabaria avaliando o Submarino em US$ 25 milhões. “E nós tínhamos US$ 20 milhões em caixa.” No fim, o Submarino negociou uma proposta para ser adquirido pela B2W, holding das Lojas Americanas, por US$ 25 milhões.
“Mas o [potencial] comprador não quis. Disse que a empresa morta valia mais do que viva”, contou Escobari.
O Submarino passou por uma transformação para um negócio B2B, deu lucro no Brasil e em dois anos o mercado virou. A empresa acabou concluindo um IPO a US$ 250 milhões e, em menos de três anos, foi vendida para a B2W por US$ 2 bilhões.
“Mas, se não fosse isso, não teríamos gerado lucratividade. Vamos ficando mais velhos e o que nós lembramos não são dos dias ensolarados”, disse. “A única certeza é que teremos dias bons e ruins. É sempre um ciclo. Um líder tem que dizer que não vai ficar bom para sempre. E o inverno não fica para sempre, o verão vem”, afirmou o experiente investidor.
Mas, no momento de crise, a função principal é sobreviver para chegar até o “verão”, segundo Escobari. E, para isso, ele diz que os empreendedores precisam tomar as decisões difíceis, como demissões, com coragem, transparência e meritocracia.
“Todo mundo aceita se entende a razão e que não foi algo arbitrário. A organização abraça e respeita o líder que está tomando as decisões difíceis. E no momento mais escuro da noite sempre aparece uma oportunidade inacreditável.”
Questionado pela Bloomberg Línea sobre a janela para IPOs, Escobari disse que o mercado não verá mais empresas que não são lucrativas abrindo capital como aconteceu no ano passado. “Houve uma febre e 90% dessas empresas que foram para a bolsa não davam lucro. O foco tem que ser menos na janela e mais no lucro. A janela se resolve sozinha”, disse.
A General Atlantic é uma maiores e mais tradicionais empresas de investimentos do mundo, especializada em growth equity (um modelo que concilia venture capital com private equity). Tem cerca de 200 companhias no portfólio e US$ 80 bilhões em ativos sob gestão, segundo informações do seu site.
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